Tijolos da Mesopotâmia revelam anomalia antiga no campo
magnético da Terra
O campo magnético da Terra não foi sempre o
mesmo. O polo Norte e o polo Sul já trocaram de lugar
algumas vezes ao longo das eras geológicas. Além disso, sua
intensidade aumenta e diminui com o tempo, às vezes de
maneira desigual.
Essas mudanças deixam cicatrizes químicas em certos
minerais, que se tornam boas pistas para investigar o
passado da magnetosfera. Átomos de ferro presentes, por
exemplo, podem ter se alinhado ao campo em um certo
ponto do passado, e então permanecido travados nessa
posição — o que os torna uma janela para um instante exato
da história do planeta.
Como esses blocos de argila têm inscrições indicando
o nome do déspota que governava o território na época de
sua fabricação, torna-se possível cruzar o dado histórico com
o químico, o que torna a datação extremamente precisa.
O estudo confirma a existência de um fenômeno
chamado “anomalia geomagnética da Idade do Ferro no
Levante”. Entre 1050 e 550 a.C., o campo magnético da
Terra era estranhamente forte na região do Levante (os
arredores de Iraque, Jordânia, Síria e Israel), por razões
ainda misteriosas. Evidências dessa anomalia já haviam sido
detectadas em lugares distantes, mas dados vindos do
próprio Oriente Médio eram escassos.
“Muitas vezes dependemos de métodos de datação,
como radiocarbono, para ter uma noção da cronologia na
antiga Mesopotâmia. No entanto, alguns dos vestígios
culturais mais comuns, como tijolos e cerâmicas, não podem
ser facilmente datados porque não contêm material
orgânico (ou seja, material com átomos de carbono)”, diz
Mark Altaweel, coautor do artigo, em declaração à
imprensa. “Este trabalho agora ajuda a criar uma importante
base que permite que outros se beneficiem da datação
absoluta usando o arqueomagnetismo.”
Em sua fala, Altaweel se refere ao método de datação
mais comum da arqueologia, em que os pesquisadores
descobrem quando um objeto foi fabricado (ou, no caso de
um ser vivo, quando ele viveu) pela taxa a que átomos de
carbono radioativos presentes nessa coisa se desmancham
em outros átomos, mais estáveis. Grosso modo, quanto mais
antigo o item, menos carbono radioativo haverá nele.
A equipa espera que a área de pesquisa incipiente do
arqueomagnetismo — a busca por assinaturas do campo
magnético da Terra em artefatos arqueológicos —, aumente
a precisão com que conhecemos a história desse escudo
invisível que circunda o planeta (e, de quebra, que melhore
nossa capacidade de datar o passado da nossa própria
espécie).
(Fonte: Superinteressante — adaptado.)