O JULGAMENTO DA OVELHA
Um cachorro de maus bofes acusou uma pobre ovelhinha de lhe haver furtado um osso.
– Para que furtaria eu esse osso – alegou ela – se sou herbívora e um osso para mim vale tanto
quanto um pedaço de pau?
– Não quero saber de nada. Você furtou o osso e vou já levá-la aos tribunais.
E assim fez. Queixou-se ao gavião-de-penacho e pediu-lhe justiça.
O gavião reuniu o tribunal para julgar a causa, sorteando para isso doze urubus de papo vazio.
Comparece a ovelha. Fala. Defende-se de forma cabal, com razões muito claras. Mas o júri,
composto de carnívoros gulosos, não quis saber de nada e deu a sentença:
– Ou entrega o osso já, ou condenamos você à morte!
A ré tremeu: não havia escapatória!… Osso não tinha e não podia, portanto, restituir; mas tinha
vida e ia entregá-la em pagamento do que não furtara.
Assim aconteceu. O cachorro sangrou-a, espostejou-a, reservou para si um quarto e dividiu o
restante com os juízes famintos.
Moral: a justiça dos poderosos é justiça?
Fonte: https://www.pensador.com/ – (Adaptado) Monteiro Lobato