Há diferença entre ser feliz e estar feliz?
(Eduardo Gianetti)
Não vou dar uma definição de felicidade, porque ela não existe. Há a felicidade do libertino,
do monge, do hedonista; a felicidade aristotélica, a felicidade kantiana, entre outras.
Existem muitas concepções de felicidade.
Uma coisa é o estar feliz, que é um estado de ânimo transitório, circunstancial: meu time
ganhou o campeonato, eu acabo de me apaixonar ou eu consegui um novo emprego... Isso
é o estar feliz, é estado de ânimo, sentimento transitório.
Outra coisa é o ser feliz, avaliando a minha existência como um todo em muitas dimensões:
afetiva, profissional, espiritual e criativa. Seja lá o que for, no ciclo de vida, posso dizer que
me reconheço na vida que tive e posso declarar, em sã consciência, que eu me realizo,
estou me realizando. Isso é o ser feliz.
Nós temos esta dualidade do estar e do ser, que permite falar duas coisas que se
confundem o tempo todo. Felicidade não é uma sucessão de picos de euforia, que podem
até ser produzidos quimicamente, dado o estágio da nossa tecnologia. É a construção de
uma vida, um enredo, uma trajetória.
Uma pessoa pode ser feliz sem nunca ter tido momentos de muita exuberância do estar
feliz, e uma vida pode ter picos extraordinários de estar feliz, momentos realmente únicos
de exuberância e de plenitude, mas que não constituem um caminho, não dão resultado
para o ser feliz.
O jovem, de um modo geral, é muito mais orientado para o estar feliz do que para o ser
feliz. É um certo amadurecimento e uma certa perspectiva em relação ao ciclo de vida que
nos leva, com a passagem do tempo, a ficarmos mais atentos para o ser feliz – o qual,
muitas vezes, implica o sacrifício do estar feliz.
Para conquistar um objetivo remoto, preciso abrir mão de alguns prazeres muito tangíveis,
que estão ao meu alcance, para construir uma relação afetiva duradora. Eu não posso, a
todo momento, estar aberto e disponível para o que der e vier. Para conquistar uma certa
condição de conhecimento, vou ter que, eventualmente, me privar de muitos momentos
deleitosos, de felicidade mundana, porque é necessário trabalhar, estudar. Há uma tensão
entre o estar feliz e o ser feliz. (in: https://umbrasil.com/, com adaptações)