Manoel de Barros foi o poeta brasileiro que mais publicou livros – foram 34 ao todo. Sua
escrita era comparada à de Guimarães Rosa, ganhou dois prêmios Jabuti, mas nada disso
o lisonjeava. Cada vez que publicava um livro, fugia desonrado para o Pantanal, onde era
abençoado por garças. A fazenda em que cresceu era seu universo predileto. Foi criado
entre bichos de chão, pessoas humildes, aves, árvores e rios.
Manoel teve um ídolo: Bernardo, o capataz da fazenda, que enriquecia a natureza com sua
incompletude. Manoel dizia que Bernardo era quase árvore. E que seu silêncio era tão alto
que os passarinhos escutavam de longe. O capataz trabalhava na fazenda que Manoel
tinha herdado e que o sustentava. Não apenas de dinheiro, mas também de poesia. Era lá
que ele se alimentava do Pantanal.
O pantaneiro dizia que, do que escrevia, só 10% era mentira, o resto era imaginação. A
frase ficou eternizada, dando nomes a peça de teatro e a documentário sobre ele. Recluso,
Manoel não dava entrevistas. O ser biológico não interessava, só o letral, dizia.
(Guilherme Soares Dias, com adaptações)