Leia um trecho da entrevista com o psiquiatra Miguel Chalub,
para responder a questão.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que a
depressão será a doença mais comum do mundo em 2030
– atualmente, 121 milhões de pessoas sofrem do problema.
Para o psiquiatra Miguel Chalub, há um certo exagero
nessas contas. Ele defende que tanto os pacientes quanto
os médicos estão confundindo tristeza com depressão. Ele
afirma que os psiquiatras são os que menos receitam antidepressivos, porque estão mais preparados para reconhecer as
diferenças entre a “tristeza normal e a patológica”.
ISTOÉ: Por que tantas previsões alarmantes sobre o
aumento da depressão no mundo?
Miguel Chalub: Porque estão sendo computadas situações humanas de luto, de tristeza, de aborrecimento, de tédio.
Não se pode mais ficar entediado, aborrecido, chateado, porque isso é imediatamente transformado em depressão. É a
medicalização de uma condição humana, a tristeza. É transformar um sentimento normal, que todos nós devemos ter,
dependendo das situações, numa entidade patológica.
ISTOÉ: A que se deve essa mudança?
Miguel Chalub: Primeiro, a uma busca pela felicidade.
Qualquer coisa que possa atrapalhá-la tem que ser chamada
de doença, porque, aí, justifica: “Eu não sou feliz porque
estou doente, não porque fiz opções erradas.” Dou uma desculpa a mim mesmo. Segundo, à tendência de achar que o
remédio vai corrigir qualquer distorção humana. É a busca
pela pílula da felicidade. Eu não preciso mais ser infeliz.
ISTOÉ: O que diferencia a tristeza normal da patológica?
Miguel Chalub: A intensidade. A tristeza patológica é muito
mais intensa. A normal é um estado de espírito. Além disso, a
patológica é longa.
(Adriana Prado. https://istoe.com.br/74405_O+HOMEM+NAO+ACEITA+
MAIS+FICAR+TRISTE+/ Publicado em 26.05.2010. Adaptado.)