Questões de Concurso Público Prefeitura de Cáceres - MT 2017 para Médico Cardiologista

Foi encontrada 1 questão

Q2732277 Português

INSTRUÇÃO: Leia atentamente o texto e responda às questões de 01 a 05.


Glúten, lactose e outras modas


1 Nunca houve tantos modismos na dieta. Dieta sem glúten, sem lactose, sem gordura, sem

carboidratos, sem nada que venha dos animais e até dietas sem alimentos que contenham DNA (pedras,

talvez).

A história de nossos antepassados é a da miséria. Dos 6 milhões de anos de nossa espécie, pelo

5 menos 99,9% do tempo caçávamos, pescávamos, coletávamos frutos e raízes e disputávamos carcaças

de animais com outros carnívoros famintos.

Há insignificantes 10 mil anos, o surgimento da agricultura criou a oportunidade de

abandonarmos a vida nômade e armazenarmos víveres para a época das vacas magras. Ainda assim, as

epidemias de fome e a desnutrição chegaram até os dias atuais. (…)

10 Comida farta só chegou à mesa de grandes massas populacionais depois da Segunda Guerra

Mundial, graças à mecanização e aos avanços da agricultura e da tecnologia de conservação de

alimentos. Hoje, um brasileiro de classe média tem acesso a refeições mais variadas e nutritivas do que

as dos nobres nos castelos medievais.

A fartura trouxe o exagero. Um cérebro com circuitos de neurônios moldados em tempos de

15 penúria não desenvolveu mecanismos de saciedade, capazes de frear os impulsos viscerais despertados

pela fome, antes de nos empanturrarmos até passar mal de tanto comer.

Essencial à sobrevivência quando precisávamos acumular reservas para os longos períodos de

jejum que se sucediam, essa estratégia se voltou contra nós. Ao mesmo tempo, vão distantes os dias em

que gastávamos energia para alimentar a família. Pela primeira vez na história da humanidade,

20 desfrutamos o privilégio de ganhar o sustento sentados em cadeiras confortáveis. A um toque de celular

o disque-pizza nos entrega 5.000 calorias à porta, sem sairmos do sofá.

Fartura e sedentarismo, gula e preguiça, criaram as raízes da epidemia de obesidade que assola o

mundo. (…) A continuar nesse passo, a obesidade e a vida sedentária farão nossos filhos viverem menos

do que nós. Sem disposição nem coragem para encarar a realidade de que comemos mais do que o

25 necessário e andamos menos do que deveríamos, procuramos uma saída mágica que nos mantenha

saudáveis.

Inventamos teorias mirabolantes que a internet divulga com tal velocidade que se transformam

em ideologias com manadas de defensores ardorosos: carne é veneno, nenhum animal adulto toma

leite, glúten engorda e incha, suco de berinjela reduz colesterol, e tantas outras. É desperdício de tempo

30 e risco de perder amigos questionar essas crenças. (…)

Para confundir ainda mais, estudos com resultados que exigiriam interpretações estatísticas

cautelosas e confirmação em pesquisas mais elaboradas ganham destaque nas mídias como se

apresentassem conclusões definitivas. (…)

A confusão acontece porque esses estudos costumam ser observacionais. Neles, são analisadas

35 as características dietéticas de uma população e as enfermidades que a afligem. Em ciência, publicações

desse tipo são consideradas apenas geradoras de hipóteses. Para confirmá-las são fundamentais os

estudos prospectivos, randomizados, muito mais complexos, dispendiosos e demorados.

Perdido na selva de informações desencontradas, o que você deve fazer, leitor? Coma frutas,

saladas e verduras com liberalidade; do resto, de tudo um pouco. Procure comer o que sua avó

40 considerava comida.


(Drauzio Varella. Adaptado de http://www1.folha.uol.com.br/. Acesso em abril de 2017.)

Os termos randomizados e dispendiosos têm como sinônimos adequados ao contexto:

Alternativas
Respostas
1: D