Leia o texto a seguir para responder à questão.
Estaremos criando uma sociedade de jovens de pais ausentes, distraídos demais com a Internet, à qual Leonardo Calembo,
de 41 anos, pai de um dos adolescentes mortos a tiros no colégio de Goiânia por um colega de classe, chamou, enquanto enterrava
o filho, de “órfãos de pais vivos”, de pais já mortos para eles, porque ignoram seus problemas?
O eco da tragédia de Goiânia, que se revela a cada dia com informações mais alarmantes sobre a personalidade complexa do
jovem de 14 anos que disparou na sala de aula contra os colegas, levará tampo para se dissipar, já que despertou o alarme em não
poucas famílias. É como se, de repente, nos _____________ se realmente _____________ nossos filhos e o que estão vivendo
sem que ____________.[…]
Enquanto escrevo esta coluna, o jornal Folha de S. Paulo publica o que chama de “o mapa da morte”, com os dados de
homicídios no Brasil em 2016, com um aumento de quase 4% em relação ao ano anterior. No total foram 61.689 homicídios, o que
equivale a sete a cada hora, algo que supera muitas guerras juntas. É como se o Brasil sofresse a cada ano a explosão de uma
bomba atômica. A de Hiroshima matou pouco mais do que se mata no Brasil todos os anos.
Algo que agrava esse mapa da morte é que metade desses homicídios é de jovens, o que significa que mais de 30.000 pais e
mães tenham que enterrar filhos, algo que fere as leis da natureza. O normal é que os filhos enterrem os pais. A matança desses
milhares de jovens conduz à aberração de que os pais se sintam órfãos dos filhos, sem poder desfrutar deles em vida.
Permitir ou não que as crianças e jovens vejam todo o tipo de violência virtual nos jogos, nos filmes, na televisão e nos
celulares? Quando eu era estudante de psicologia em Roma, tive uma discussão com um de meus professores que defendia que
as crianças deviam familiarizar-se com a violência para poder administrá-la quando adultas. É o que pensam ainda hoje até mesmo
ilustres sociólogos. Para mim, porém, a vida real de hoje já oferece doses de sobra de violência, desde que se nasce, dentro e fora
das casas, para que seja preciso acrescentar-lhe a violência virtual.[…]
Jovens órfãos de pais vivos, pais que se veem sujeitos a enterrar filhos em flor e, se fosse pouco, desde 1980 até hoje segue
aumentando no Brasil o número de suicídios juvenis, segundo o IPEA. É o ápice da tragédia da sociedade. […]
Mais do que saber se têm mais votos Lula, Doria ou Bolsonaro, os institutos de pesquisa deveriam se interessar em descobrir
por que a juventude de uma sociedade como a do Brasil, que sempre teve como vocação a felicidade e os encontros festivos, se vê
de repente representada por um triplo drama de orfandade. Quem salvará o Brasil não será, de fato, nenhum caudilho, herói ou
messias, mas a tomada de consciência da sociedade de que as famílias precisam apostar para que seus filhos voltem “a ser
sonhadores”, como pedia o jovem de outra escola em Olinda.
Quando um jovem pede aos pais que lhe dediquem mais tempo que a seu celular, ele lhes está suplicando mais afeto, ou está
tentando contar-lhes que algo se está rompendo dentro dele. Quando lhe dizem: “depois, agora estou ocupado”, esse “depois”
poderia ser tragicamente tarde.
Disponível em:<https://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/31/opinion/1509452129_128889.html>.Acesso em 06 nov. 2017)