Há um pequeno texto de Mário Quintana (1987, p. 48) que se chama O suicida, que diz assim:
Último bilhete deixado por um obstetra: parto sem dor.
Perceba que o trabalho com a linguagem do autor brinca com dois sentidos associados à
forma parto sem dor. O primeiro sentido está associado à profissão do autor do bilhete –
obstetra, que tem como uma das atribuições médicas a realização de partos; o segundo
sentido associa-se a intenção do bilhete suicida que é a de partir dessa vida sem dor. Nesse
caso, parto sem dor organiza-se como verbo (parto) somado à expressão adverbial (sem dor),
naquele parto sem dor está substantivado. Estamos, portanto, diante de uma homonímia em
que tanto o som (fonemas) e a grafia (grafemas) são exatamente os mesmos, muito embora
haja uma mudança na classe gramatical.