Questões de Concurso Público Prefeitura de Rio Verde - GO 2023 para Professor de Educação Básica II (PEB II) – Língua Portuguesa

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Q2169985 Português
Um novo José
Josias de Souza


Calma, José.
A festa não recomeçou,
a luz não acendeu,
a noite não esquentou,
o Malan não amoleceu.
Mas se voltar a pergunta:
e agora, José?
Diga: ora, Drummond,
agora Camdessus.
Continua sem mulher,
continua sem discurso,
continua sem carinho,
ainda não pode beber,
ainda não pode fumar,
cuspir ainda não pode,
a noite ainda é fria,
o dia ainda não veio,
o riso ainda não veio,
não veio ainda a utopia,
o Malan tem miopia,
mas nem tudo acabou,
nem tudo fugiu,
nem tudo mofou.
Se voltar a pergunta:
e agora, José?
Diga: ora, Drummond,
agora FMI.
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
O Malan nada faria,
mas já há quem faça.
Ainda só, no escuro,
qual bicho-do-mato,
ainda sem teogonia,
ainda sem parede nua,
para se encostar,
ainda sem cavalo preto
que fuja a galope,
você ainda marcha, José!
Se voltar a pergunta:
José, para onde?
Diga: ora, Drummond,
por que tanta dúvida?
Elementar, elementar.
Sigo pra Washington.
E, por favor, poeta,
não me chame de José.
Me chame Joseph.

Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0410199904.htm>. Acesso em: 22 mar. 2023.

Acerca da construção dos versos, pode-se afirmar que José teria possibilidades de mudar sua situação. De todas as possibilidades, uma apresenta a hipótese, marcada por uma ideia de condicionalidade, mais extrema que as demais. Assinale a alternativa em que o verso sugere tal hipótese. 
Alternativas
Q2169991 Português
Leia o fragmento de Ângela Paiva Dionísio, retirado do livro Fala e escrita.
    “Quando usamos linguagem, estamos realizando ações individuais e sociais que são manifestações socioculturais, materializadas em gêneros textuais. Seguindo Bazerman (1997, 2004), estamos tomando gêneros como tipos de enunciado que estão associados a um tipo de situação retórica e que ‘estão associados com os tipos de atividades que as pessoas dizem, fazem e pensam como partes dos enunciados. [...] Desta forma, em algum momento, em uma interação, em um enunciado, muitas coisas são delimitadas em pacotes tipicamente reconhecíveis’ (1997, p. 14).          Como gêneros ‘não são apenas formas’, mas ‘quadros de ações sociais’ (BAZERMAN, 1997, p. 9), investigar gêneros associados às formas visuais dessas ações sociais, resultantes das infinitas possibilidades de orquestração entre imagem e palavra, significa também recorrer à apresentação visual do gênero como recurso de identificação, ou seja, de reconhecimento psicossocial. ”       Os gêneros textuais têm sido amplamente discutidos e compreendidos como fundamentais no ensino de Língua Portuguesa. A esse respeito, nota-se que nas situações comunicativas utilizamos nossos sistemas de conhecimentos para dialogar com recursos verbais (escritos ou orais) e visuais (estáticos ou dinâmicos). Assim, constitui-se traço de todos os gêneros textuais escritos e orais: 
Alternativas
Q2169993 Português


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Compreende-se por intertextualidade a inter-relação existente entre as produções humanas, cujo intuito é estabelecer diálogos entre as diversas vozes discursivas a partir de um texto com outro preexistente, sugerindo novos sentidos. Esse recurso linguístico trabalha e existe dentro de uma produção cultural, literária, pictórica, musical ou cinematográfica. A partir da análise comparativa entre essas duas obras, buscando a relação intertextual pautada na linguagem não verbal, a releitura de Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, numa perspectiva contemporânea, representa:

Alternativas
Q2169996 Português
III

      Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.
     Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.
     A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas.   
    Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saíam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia.
      [...]
    O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e resingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra. Da porta da venda que dava para o cortiço iam e vinham como formigas, fazendo compras.
     [...] A fábrica de massas italianas, ali mesmo da vizinhança, começou a trabalhar, engrossando o barulho com o seu arfar monótono de máquina a vapor. [...] Um carroção de lixo entrou com grande barulho de rodas na pedra, seguido de uma algazarra medonha algaraviada pelo carroceiro contra o burro. E, durante muito tempo, fez-se um vaivém de mercadores. [...] Cada vendedor tinha o seu modo especial de apregoar, destacando-se o homem das sardinhas, com as cestas do peixe dependuradas, à moda de balança, de um pau que ele trazia ao ombro. Nada mais foi preciso do que o seu primeiro guincho estridente e gutural para surgirem logo, como por encanto, uma enorme variedade de gatos, que vieram correndo acercar-se dele com grande familiaridade, roçando-se-lhe nas pernas arregaçadas e miando suplicantemente. O sardinheiro os afastava com o pé, enquanto vendia o seu peixe à porta das casinhas, mas os bichanos não desistiam e continuavam a implorar, arranhando os cestos que o homem cuidadosamente tapava mal servia ao freguês. Para ver-se livre por um instante dos importunos era necessário atirar para bem longe um punhado de sardinhas, sobre o qual se precipitava logo, aos pulos, o grupo dos pedinchões.
[...]

AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 15. ed. São Paulo: Ática, 2018. p. 35-36
No fragmento em análise, bem como na arquitetura interna de todo o romance, percebe-se, com relação ao foco narrativo, que:
Alternativas
Q2169997 Português
III

      Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.
     Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.
     A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas.   
    Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saíam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia.
      [...]
    O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e resingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra. Da porta da venda que dava para o cortiço iam e vinham como formigas, fazendo compras.
     [...] A fábrica de massas italianas, ali mesmo da vizinhança, começou a trabalhar, engrossando o barulho com o seu arfar monótono de máquina a vapor. [...] Um carroção de lixo entrou com grande barulho de rodas na pedra, seguido de uma algazarra medonha algaraviada pelo carroceiro contra o burro. E, durante muito tempo, fez-se um vaivém de mercadores. [...] Cada vendedor tinha o seu modo especial de apregoar, destacando-se o homem das sardinhas, com as cestas do peixe dependuradas, à moda de balança, de um pau que ele trazia ao ombro. Nada mais foi preciso do que o seu primeiro guincho estridente e gutural para surgirem logo, como por encanto, uma enorme variedade de gatos, que vieram correndo acercar-se dele com grande familiaridade, roçando-se-lhe nas pernas arregaçadas e miando suplicantemente. O sardinheiro os afastava com o pé, enquanto vendia o seu peixe à porta das casinhas, mas os bichanos não desistiam e continuavam a implorar, arranhando os cestos que o homem cuidadosamente tapava mal servia ao freguês. Para ver-se livre por um instante dos importunos era necessário atirar para bem longe um punhado de sardinhas, sobre o qual se precipitava logo, aos pulos, o grupo dos pedinchões.
[...]

AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 15. ed. São Paulo: Ática, 2018. p. 35-36
No que se refere aos recursos expressivos que contribuem para compreensão da relevância que o cortiço tem para o universo da história narrada, como sendo seu principal espaço, considere as seguintes afirmações:

I. Há, no trecho “Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.”, uma atribuição de humanização ao cortiço que, após uma noite de sono, desperta, evidenciando o uso da prosopopeia ou personificação. II. A verossimilhança como possibilidade de verdade no universo da narrativa azevediana determina o teor expressivo e realista do romance, numa emblemática composição arcadista. III. A linguagem metafórica, muito presente na construção de textos literários, atribui um sentido conotativo à seguinte passagem: “Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo.”.
Está correto, em relação ao texto, o que se afirma em:
Alternativas
Respostas
6: C
7: C
8: B
9: D
10: C