Texto associado
Um novo José
Josias de Souza
Calma, José.
A festa não recomeçou,
a luz não acendeu,
a noite não esquentou,
o Malan não amoleceu.
Mas se voltar a pergunta:
e agora, José?
Diga: ora, Drummond,
agora Camdessus.
Continua sem mulher,
continua sem discurso,
continua sem carinho,
ainda não pode beber,
ainda não pode fumar,
cuspir ainda não pode,
a noite ainda é fria,
o dia ainda não veio,
o riso ainda não veio,
não veio ainda a utopia,
o Malan tem miopia,
mas nem tudo acabou,
nem tudo fugiu,
nem tudo mofou.
Se voltar a pergunta:
e agora, José?
Diga: ora, Drummond,
agora FMI.
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
O Malan nada faria,
mas já há quem faça.
Ainda só, no escuro,
qual bicho-do-mato,
ainda sem teogonia,
ainda sem parede nua,
para se encostar,
ainda sem cavalo preto
que fuja a galope,
você ainda marcha, José!
Se voltar a pergunta:
José, para onde?
Diga: ora, Drummond,
por que tanta dúvida?
Elementar, elementar.
Sigo pra Washington.
E, por favor, poeta,
não me chame de José.
Me chame Joseph.
Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0410199904.htm>. Acesso em: 22 mar. 2023.
O texto produzido por Josias de Souza apresenta uma nítida intertextualidade com o poema escrito por
Drummond de Andrade. No entanto, é possível observar que se trata de um artigo de opinião na forma de
um poema. Com base nos estudos sobre gêneros textuais, é incorreto afirmar que: