TEXTO 1
Quando falamos sobre cultura da paz, um dos meus lamentos é que a história da humanidade conte
pouco de respostas não violentas da humanidade aos conflitos. Os livros de história pouco tratam das
pessoas que tiveram uma maneira de viver menos violenta. Que foram menos agressivas e mais
acolhedoras. Discriminações, preconceitos, guerras, escravização, tortura, raiva sempre existiram entre
nós, humanos. Manifestações de ódio não são uma novidade da nossa época. Assim como sempre
existiram, também, grupos que pensam de forma diferente. O que acontece é que se dá muita visibilidade
às violências e ao medo através dos meios de comunicação, da informática, da tecnologia. Ficamos sabendo
imediatamente de tudo o que possa estar acontecendo em qualquer lugar do mundo. E a mídia parece muito
interessada em mostrar o que não é bom. Daí, eu pergunto: Qual é a necessidade de manter a população
amedrontada? Quais as vantagens disso? A quem interessa uma população que pensa: “O outro é perigoso,
é o inimigo; arme-se, prepare-se para a luta”. Percebo isso no mundo de hoje. Temos a mídia, que é
facilitadora para que as pessoas fiquem assustadas e considerem prioridade o que não é benéfico: o crime,
as guerras, as bombas, os conflitos, as várias formas de discriminação e preconceito e a corrupção. Esses
seres atrelados aos crimes são os nossos atores principais na capa das revistas, dos jornais e nos canais de
televisão. Ao mesmo tempo, há pessoas boníssimas, fazendo coisas maravilhosas, que aparecem tão pouco
– isso quando aparecem. Houve uma inversão de valores - o prejudicial priorizado. Acredito que seja muito
importante haver uma reinversão de valores, dando maior ênfase às coisas boas, para que possamos
desenvolver uma cultura de paz. Cultura de cultivar – como cultivamos plantas, flores, frutos e alimentos
– afetos. Cultivar a não violência ativa, como insistiu Mahatma Gandhi em sua vida, cultivar o cuidado, o
respeito, a compreensão, a amorosidade. (Monja Coen, em O inferno somos nós (pp. 9-10), de Leandro
Karnal e Monja Coen).