As histórias de Recife e Olinda possuem uma série de intersecções. Um dos maiores símbolos desses encontros é a
data de aniversário compartilhada. Neste domingo (12), a capital pernambucana e a Marim dos Caetés celebram 486 e 488
anos, respectivamente.
Por quase cinco séculos, as duas percorreram uma trajetória de insurreições, presenciaram o desenvolvimento de um
vasto arcabouço cultural e, sobretudo, assistiram à formação de um povo forte, que resiste, como pode, aos contratempos
intrínsecos à vida metropolitana.
À medida que as duas cidades cresceram, as dimensões da relevância de Recife e Olinda na formação do Brasil
passaram a ser notadas. As irmãs – que possuíram, em diferentes momentos históricos, o título de capital do estado de
Pernambuco – estão entre as seis cidades mais antigas do país, sendo Recife a mais velha entre as capitais estaduais.
Mas de onde vem essa inclinação ao ato de resistir? Um dos caminhos para compreender o que justifica esse traço
presente na essência dos moradores das cidades-irmãs implica uma volta no tempo. A longevidade, de acordo com o
historiador George Félix Cabral de Souza, é uma característica que abriu espaço para um sentimento de identificação e
potencializou movimentos de contestação aos poderes centrais.
“Os movimentos de resistência aos poderes centrais são reflexos de uma população que tem raízes muito antigas.
Em 1817, ano da Revolução Pernambucana, por exemplo, o estado já era ocupado há quase 300 anos, o que resultou numa
população muito arraigada à sua terra. Quando isso se mistura ao pensamento iluminista, característico do século XIX, você
tem uma grande explosão de contestação. Tudo isso gerou um sentimento forte de identificação, afirmação identitária, um
bairrismo que virou característica”, explica Cabral de Souza, que é professor e pesquisador da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) e membro do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP).
“Outro ponto importante são os conflitos com os holandeses que aconteceram nas duas cidades no século XVII.
Alguns historiadores acreditam que, se não fosse a vitória dos pernambucanos no conflito, a formação de um país de
dimensões continentais, como é o Brasil, não seria viável por causa dessa ruptura”, completa.
O que explica a data de aniversário compartilhada?
Apesar de dividirem a mesma data de aniversário, o dia 12 de março, Recife e Olinda não nasceram no mesmo dia.
Segundo o pesquisador George Félix Cabral de Souza, trata-se de uma convenção que, no fim das contas, aproximou ainda
mais as duas cidades.
“A data de fundação que nós comemoramos hoje foi convencionada por um grupo de historiadores em 1960. Isso foi
definido a partir de um documento, o Foral de Olinda*, que é um documento datado de 12 de março de 1537 que possui
uma menção ao ‘recife dos navios’; essa data ficou definida como a fundação do Recife. Dois anos antes, em 12 de março
de 1535, definiu-se como a data de fundação de Olinda”, conta o pesquisador, ressaltando que a definição não foi consenso
entre os historiadores da época.
Disponível em: https://www.folhape.com.br/noticias/olinda-e-recife-uma-historia-de-resistencias-e/261462/ Acesso em 20/09/2024.