O Ateneu era o grande colégio da época.
“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do
Ateneu. Coragem para a luta.” Bastante experimentei depois
a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões
de criança educada exoticamente na estufa de carinho
que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra
fora, tão diferente ... [...]
Eu tinha 11 anos.
Frequentara como externo, durante alguns meses, uma
escola familiar do Caminho Novo, onde algumas senhoras inglesas,
sob a direção do pai, distribuíam educação à infância
como melhor lhes parecia.
[...]
Apesar deste ensaio da vida escolar a que me sujeitou
a família, antes da verdadeira provação, eu estava perfeitamente
virgem para as sensações novas da nova fase. O
internato! Destacado do conchego placentário da dieta caseira,
vinha próximo o momento de se definir a minha individualidade.
Amarguei por antecipação o adeus às primeiras
alegrias; olhei triste os meus brinquedos, antigos já!
[...]
Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me a testa, molhando-me de lágrimas os cabelos e eu parti.
(O Ateneu, Raul Pompeia, Ed. Nova Fronteira, 2011. Excertos. Adaptado)