Igualdade ou morte
Queremos sociedades mais iguais, mas estamos dispostos a pagar qualquer preço por isso? Talvez não. O historiador Walter Scheidel (Stanford) decidiu olhar para o passado
em busca daquilo que realmente faz com que a renda seja
mais bem distribuída e concluiu que só grandes catástrofes
sociais dão conta da missão – e mesmo assim apenas por
tempo limitado.
O resultado de suas pesquisas está em “The Great
Leveler” (a grande niveladora). Ao longo de mais de 500
páginas, ele mostra com muita erudição histórica que a
tendência geral das sociedades, desde a Idade da Pedra
até hoje, é concentrar riqueza e que essa orientação só
é revertida de forma um pouco mais visível em situações
extremas das quais queremos manter total distância. Não é
uma coincidência que o autor chame as forças niveladoras
que identificou de quatro cavaleiros do apocalipse.
A primeira é a mobilização para guerras maciças. É só
em circunstâncias assim que países conseguem impor sobre
os ricos taxas que realmente mudam o perfil de concentração de renda, como se verificou na Segunda Guerra, quando
alguns países criaram alíquotas de IR de mais de 80%.
A segunda são revoluções. Mas não vale qualquer rebeliãozinha. É preciso realmente pôr abaixo as estruturas sociais.
As revoluções russa e chinesa conseguiram reduzir a disparidade de renda, a francesa, não.
Colapsos de Estado são a terceira. A igualdade aqui é
atingida menos por esforços distributivos e mais pela destruição da riqueza.
Há, por fim, as megaepidemias. O exemplo clássico é a
peste negra, que, ao dizimar até 40% da população de alguns
países da Europa no fim da Idade Média, jogou o preço do
trabalho na Lua.
Scheidel não chega a sugerir que a igualdade seja uma
meta impossível. Não é porque as coisas foram assim até hoje
que precisarão ser assim para sempre. Mas ele traz razões
para suspeitarmos que a tarefa é difícil.
(Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo, 11.06.2017. Adaptado)