Leia o texto para responder à questão.
Enchendo e esvaziando balões
Daniela trabalha numa empresa em que a gentileza não
é preocupação central. E por isso o estresse provocado pelo
trabalho em si não é nada comparado ao desgaste causado pelo convívio com chefes e colegas mal-educados. Por
exemplo, Daniela tem um colega, Pedro, que nem se importa
se ela está falando ao telefone, resolvendo algum problema.
Ele chega, não pede licença e começa a falar, simplesmente
ignora o fato de a colega estar ocupada. O que ele quer é
resolver o problema dele.
Apesar de ser um assunto sério, Daniela faz as pessoas
rirem quando descreve o que chama de “técnica para amortecer o impacto da convivência diária com pessoas grosseiras”.
Quando volta do trabalho, Daniela, antes de comer, fica dez
minutos no quarto enchendo balões e depois esvaziando. Ela
pega alguns balões e vai enchendo um por um, pensando em
tudo o que a desgastou naquele dia: o colega que foi grosseiro, o chefe que lhe deu uma patada e outras situações desagradáveis. Ela visualiza os momentos negativos enquanto vai
enchendo cada balão com força. Depois solta de uma vez;
quando o balão esvazia, parece que sai um peso de dentro
dela. É como se estivesse pondo para fora todas as coisas
ruins.
O exercício terapêutico só tem um problema: não pode
ser feito perto da filha de três anos, que, nas poucas vezes
que testemunhou o ritual da mãe, achou que era festa de
aniversário e, depois de cantar o parabéns, queria bolo e presentes.
A sensação que Daniela tem é de que estamos achando
cada vez mais natural agir com falta de educação. Ela não
duvida nada de que exista alguém enchendo balões por aí
por causa de alguma falta de educação que ela cometeu e
nem notou. Por isso é sempre bom estar atento aos próprios
gestos e comportamentos.
(Leila Ferreira. A arte de ser leve. São Paulo: Globo, 2010. Adaptado)