Leia o texto para responder à questão.
Computadores contra a leitura
Crianças pequenas devem ter acesso a tablets? É preciso controlar as horas de exposição de adolescentes a jogos
de computador? Se você está confuso com essas questões,
tem bons motivos. Cientistas que estudam como o cérebro
lida com meios digitais também estão. Acaba de sair no Brasil
“O Cérebro no Mundo Digital”, em que a neurocientista especializada em leitura Maryanne Wolf tenta ao menos mapear o
terreno em que pisamos.
Para Wolf, existem motivos para preocupação, ainda que
não para pessimismo. Embora seja cedo para qualquer conclusão definitiva, as evidências até aqui colhidas sugerem
que a proliferação dos meios digitais pode ter impactos sobre
a formação do cérebro leitor.
A preocupação maior, diz Wolf, é com a leitura profunda
– uma leitura razoavelmente detida, na qual compreendemos
não apenas as palavras como extraímos o sentido geral delas
e experimentamos as emoções que elas evocam. Crianças e
mesmo adultos que leem em um dispositivo digital apresentam menores taxas de compreensão e retenção do texto do
que quando o leem em versão impressa.
Uma hipótese para explicar o fenômeno é que os computadores, ao proporcionar uma grande variedade de coisas
interessantes, que fazem com que a atenção das pessoas
pule a todo instante de um item para o próximo, habituam-nos a operar com um nível de concentração alterado. Quando não estamos sendo submetidos a uma montanha-russa
de estímulos, sentimo-nos entediados.
A sugestão de Wolf é que tentemos desenvolver uma
espécie de bilinguismo literário. Precisamos ser capazes de
exercer tanto a leitura rápida cobrada pelos meios digitais
como, quando for o caso, a leitura profunda, exigida para
pensar direito e fruir de tudo aquilo que um bom texto oferece.
(Hélio Schwartsman. https://www1.folha.uol.com.br. 23.06.2019. Adaptado)