Leia o texto, para responder à questão.
Certo discurso ambientalista tradicional recorrentemente
busca indícios de que o problema ambiental seja universal
(e de fato é), atemporal (nem tanto) e generalizado (o que é desejável). Alguma ingenuidade conceitual poderia marcar o ambientalismo apologético; haveria dilemas ambientais em todos
os lugares, tempos, culturas. É a bambificação(*) da natureza.
Necessária, no entanto, como condição de sobrevivência. Há
quem tenha encontrado normas ambientais na Bíblia, no Direito
grego, e até no Direito romano. São Francisco de Assis, nessa
linha, prosaica, seria o santo padroeiro das causas ambientais;
falava com plantas e animais.
A proteção do meio ambiente seria, nesse contexto, instintiva, predeterminando objeto e objetivo. Por outro lado, e este é
o meu argumento, quando muito, e agora utilizo uma categoria
freudiana, a pretensão de proteção ambiental seria pulsional,
dado que resiste a uma pressão contínua, variável na intensidade. Assim, numa dimensão qualitativa, e não quantitativa, é que
se deveria enfrentar a questão, que também é cultural. E que
culturalmente pode ser abordada.
O problema, no entanto, é substancialmente econômico.
O dilema ambiental só se revela como tal quando o meio ambiente passa a ser limite para o avanço da atividade econômica.
É nesse sentido que a chamada internalização da externalidade
negativa exige justificativa para uma atuação contra-fática.
Uma nuvem de problematização supostamente filosófica
também rondaria a discussão. Antropocêntricos acreditam que
a proteção ambiental seria narcisística, centrada e referenciada
no próprio homem. Os geocêntricos piamente entendem que a
natureza deva ser protegida por próprios e intrínsecos fundamentos e características. Posições se radicalizam.
A linha de argumento do ambientalista ingênuo lembra-nos o “salto do tigre” enunciado pelo filósofo da cultura Walter
Benjamin, em uma de suas teses sobre a filosofia da história.
Qual um tigre mergulhamos no passado, e apenas apreendemos o que interessa para nossa argumentação. É o que se faz,
a todo tempo.
(Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2011. Acesso em: 10.08.2019. Adaptado)
(*) Referência ao personagem Bambi, filhote de cervo conhecido como
“Príncipe da Floresta”, em sua saga pela sobrevivência na natureza.