Leia o texto, para responder à questão.
Dizer não com clareza é uma das primeiras habilidades
adquiridas pelos seres humanos. No início da vida, muito
antes de aprenderem a falar, os bebês já são capazes de deixar claro que estão descontentes com a temperatura da água
do banho, ou que já saciaram a fome e não querem mais
mamar. Nada disso, no entanto, impede que, quando cresçam, muitas pessoas sejam incapazes de negar um pedido,
não importa de onde venha. A maioria, pelo jeito: estudo conduzido pelo departamento de psicologia comportamental da
prestigiada Universidade Cornell, nos Estados Unidos, concluiu que as pessoas são mais afeitas a dizer sim do que não.
Ao longo de quinze anos, a pesquisadora Vanessa Bohns
realizou experimentos sociais com cerca de 15 000 pessoas,
seguindo um mesmo roteiro: sua equipe abordava estranhos
na rua e pedia que fizessem alguma coisa inesperada.
A dificuldade de negar ajuda ou pedido tem raízes na pré-
-história, quando se percebeu que as chances de sobrevivência eram maiores se as pessoas se organizassem em bandos
e colaborassem umas com as outras do que se vagassem
sozinhas por ambientes inóspitos e cheios de perigo. “Agindo em conjunto, a humanidade se mostrou capaz de obter
ganhos para sua sobrevivência. Por isso, se uma pessoa
lhe pede um favor, a reação natural é colaborar com ela”,
explica Ariovaldo Silva Júnior, neurocientista da UFMG. Nos
tempos modernos, esse condicionamento virou, em algumas
pessoas, motivo de enorme angústia, sintoma de um distúrbio conhecido como ansiedade de insinuação. O problema se
manifesta cada vez que o indivíduo se vê, de alguma forma,
forçado a fazer algo que não quer, apenas para não se sentir
rejeitado pelos pares. Albert Einstein, um dos mais brilhantes
angustiados, escreveu: “Toda vez que diz sim querendo dizer
não, morre um pedaço de você”.
(Matheus Deccache e Ricardo Ferraz, Palavrinha difícil.
Veja, 23.02.2022. Adaptado)