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Agora, ao Chico Bento, como único recurso, só restava
arribar.
Sem legume, sem serviço, sem meios de nenhuma espécie, não havia de ficar morrendo de fome, enquanto a seca
durasse.
Depois, o mundo é grande e no Amazonas sempre há
borracha...
Alta noite, na camarinha fechada que uma lamparina moribunda alumiava mal, combinou com a mulher o plano de
partida.
Ela ouvia chorando, enxugando, na varanda encarnada
da rede, os olhos cegos de lágrimas.
Chico Bento, na confiança do seu sonho, procurou animá-la, contando-lhe os mil casos de retirantes enriquecidos
no Norte.
A voz lenta e cansada vibrava, erguia-se, parecia outra,
abarcando projetos e ambições. E a imaginação esperançosa aplanava as estradas difíceis, esquecia saudades, fome e
angústias, penetrava na sombra verde do Amazonas, vencia
a natureza bruta, dominava as feras e as visagens, fazia dele
rico e vencedor.
Cordulina ouvia, e abria o coração àquela esperança;
mas correndo os olhos pelas paredes de taipa, pelo canto
onde na redinha remendada o filho pequenino dormia, novamente sentiu um aperto de saudade, e lastimou-se:
— Mas, Chico, eu tenho tanta pena da minha barraquinha! Onde é que a gente vai viver, por esse mundão de meu
Deus?
(Rachel de Queiroz, O Quinze)