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Redes sem lei
A esta altura estão mapeados os dissabores trazidos pelas redes sociais ao cotidiano social e político das nações.
Se a dominância dessas plataformas digitais impulsionou e
adensou as interações entre as pessoas em escala planetária, de outro lado acarretou oligopolização, manipulação dos
fatos, fraudes e assédio também em profusão.
Testemunha e vítima dessa faceta ameaçadora das
mídias sociais, perseguida pelo governo autoritário de Rodrigo Duterte nas Filipinas, a jornalista Maria Ressa, Nobel
da Paz de 2021, descreveu-as em entrevista à Folha como
“uma bomba atômica que explodiu em nosso ecossistema de
informação”.
O mecanismo de reiterações labirínticas empregado pelos algoritmos, ao premiar os discursos ofensivos e as elucubrações fantásticas e mentirosas, estaria minando as bases
da própria democracia, como os sistemas de pesos e contrapesos, de acordo com Ressa.
Ilegalidades que não se praticavam na mesma extensão
e profundidade antes da hegemonia das redes sociais tornaram-se lugar-comum. As autoridades incumbidas de fazer
cumprir a lei onde quer que seja ainda comem poeira quando
se trata dessas plataformas.
Corresponsabilizá-las pelos crimes cometidos por meio
dos seus serviços é providência básica para limpar o terreno bárbaro. Também é elementar evitar que seu enorme
poderio de mercado seja usado para esterilizar a competição, pela qual poderão florescer opções de melhor qualidade
informativa.
Não há dúvida de que o combate ao turbilhão de falsificações oportunistas que jorra nas redes passa pelo exercício
do jornalismo profissional, que questiona os poderosos com
base na apuração e na publicação de fatos objetivamente verificáveis e se exerce em praça pública, não nos escaninhos
ensimesmados das aldeias digitais.
A sociedade aos poucos vai percebendo que não se
substitui jornalista por influencer sem dano ao patrimônio comum da civilização.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 25.06.2022. Adaptado)