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Os perdedores de sempre
Continuou feio o quadro do emprego, no primeiro trimestre,
com 11,9 milhões de pessoas desocupadas, grupo equivalente
a 11,1% da força de trabalho. Mas as condições permaneceram muito mais feias para negros, mulheres, jovens, trabalhadores com menor escolaridade e habitantes de regiões menos
industrializadas. Pode-se encontrar no mercado de trabalho
uma síntese das desigualdades brasileiras, principalmente de
raça, de gênero, de educação e de desenvolvimento regional.
O exame dessas desigualdades poderia fundamentar planos,
programas de governo e projetos econômicos e sociais.
O contraste mais notável é visível quando se examina a
relação entre desemprego e escolaridade. Estiveram desocupados no primeiro trimestre 5,6% das pessoas com nível superior completo. Mais que o dobro, 11,9%, foi o desemprego
encontrado entre os trabalhadores com educação superior
incompleta. No caso daquelas com ensino médio incompleto,
a desocupação chegou a 18,3%, taxa muito superior à taxa
média geral, 11,1%. Os dados são da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE).
As pessoas menos educadas, como têm apontado outras
pesquisas, são também aquelas mais sujeitas à informalidade e às piores condições de emprego e de remuneração.
Um acesso mais amplo à instrução, com melhor distribuição
das oportunidades educacionais, mudaria as possibilidades
de trabalho de dezenas de milhares de pessoas e, ao mesmo
tempo, elevaria duplamente o potencial produtivo do fator trabalho, tornando-o mais eficiente e qualificando-o para tarefas mais complexas. Ganhariam indivíduos, famílias, empresas
e, portanto, a economia nacional, se o País dispusesse de
uma política bem desenhada e bem executada de formação
de recursos humanos ou, como dizem alguns especialistas,
de capital humano.
Formar capital humano é algo dificilmente compatível, no
entanto, com políticas já aplicadas no Brasil. O Brasil dispõe de
respeitados educadores, de estudiosos da economia da educação e de experiências de sucesso em políticas estaduais. São
preciosas fontes de ideias para formulação de boas políticas
educacionais.
(Opinião. https://opiniao.estadao.com.br/, 18.05.2022. Adaptado)