Leia o texto, para responder à questão.
Ele estava em crise. Era uma encruzilhada profunda
em uma alma sensível. Havia estudado em Harvard. Seu
irmão tinha morrido, ele estava insatisfeito com a vida social e
urbana. A escravidão nos EUA atormentava sua consciência.
Henry David Thoreau decidiu sair de circulação. Internou-se
em uma cabana às margens do lago Walden (Massachusetts).
Era o verão de 1845. Thoureau era um jovem de 27 anos.
Foi um experimento: morar por dois anos em uma cabana
com isolamento e autossuficiência. Era um lugar ideal para
que pudesse imergir na natureza e cultivar seus ideais.
“Fui morar na floresta porque desejava viver deliberadamente, enfrentar os fatos essenciais da vida, e ver se conseguia aprender o que ela tinha a ensinar, em vez de descobrir
só na hora da morte que não tinha vivido”. Talvez esse seja
o trecho mais citado em sua obra Walden: viver fora da
algaravia urbana para ouvir a própria voz e a da natureza.
É provável que seja um exemplo claro dos benefícios da
solitude o que o autor desenvolve. Apesar de ter tido visitas
e companhia, ele imergiu em uma saudável experiência do
isolamento produtivo e feliz (a dita solitude).
E o vento furioso das tormentas lá fora? “Nunca houve
tempestade que não fosse música eólica aos ouvidos saudáveis e inocentes. Nada tem o direito de compelir um homem
simples e corajoso a uma tristeza vulgar”.
Sentia-se isolado de outros? “Que tipo de espaço é esse
que separa o homem de seus semelhantes e o torna solitário?
Descobri que nenhum exercício das pernas pode aproximar
duas mentes além de certo ponto”. Isolado, ele lança seu veredicto duro: “A sociedade é geralmente banal demais”.
Inspirador de ecologistas, de hippies, de anarquistas e
de pessoas avessas ao burburinho urbano, Thoureau continua
fértil. Penso muito nele sempre que toca o aviso do WhatsApp...
Alguém teria uma cabana para me emprestar? Sem sinal de
celular? Com esperança de vida?
(Leandro Karnal, Walden. Diário da Região, 20-04-2022. Adaptado.)