Leia o texto para responder à questão.
Na linha varonil da minha família paterna essa guarda de
tradições foi suspensa devido à sucessão de três gerações
de morredores! A de meu Pai, que desapareceu aos 35 anos.
A do seu pai, falecido aos 37. Meu bisavô, não sei com que
idade morreu. Cedo, decerto, pois meu avô foi criado de menino por uma de suas avós ou tias-avós. É assim que cada
uma dessas gerações ficou sabendo pouco das anteriores e
não teve tempo de transmitir esse pouco às sucedentes. Por
essa razão, também quase nada sei de meu avô paterno. O
que se transmitiu até meu pai e suas irmãs é que sua origem
era italiana e que vinha de um certo Francisco Nava, que
teria aportado ao Brasil no fim do século XVIII ou princípio
do XIX. Ignoram-se seu nível social, as razões por que veio
da Itália e que ponto do Brasil ele viu primeiro do paravante
de seu veleiro. Onde desembarcou, onde se fixou, que ofício
adotou? – tudo mistério. Como era, quem era, que era? Seria
um revolucionário, um maçom, um liberal, um carbonário, um
fugitivo? Onde e com quem se casou? Nada se sabe. Dele só
ficou o apelido. Essa coisa mística, evocativa, mágica e memorativa que o tira do nada porque ele era Francisco de seu
nome; essa coisa ritual, associativa, gregária, racial e cultural
que o envulta porque ele era Nava de seu sobrenome. O nomeado, porque o é, existe. Servo do Senhor, pode-se pedir
por ele na missa dos mortos.
(Pedro Nava. Baú de Ossos. São Paulo: Companhia das Letras, 2012)