Leia o texto para responder à questão.
Finalmente minhas férias estavam chegando e eu mal
podia esperar: passagens compradas, hotel reservado e as
malas prontas para fazer uma das coisas que mais amo na
vida – viajar sozinha.
Inicialmente, eu planejava fazer uma viagem com meu
pai – com quem eu não viajava há décadas, desde a minha
adolescência, salvo engano. Mas, as agendas não se encontraram, decidi ir sozinha mesmo e meu pai se planejou para
fazer o mesmo em março do ano seguinte. Paciência, nossas
férias juntos teriam que aguardar uma vez mais.
Faltava apenas uma semana para a tão aguardada viagem e a diretoria da instituição onde eu trabalhava me disse
que um novo diretor iria chegar e queriam que eu postergasse
minhas férias para dali a um ou dois meses, pois gostariam
que eu o apoiasse em sua adaptação. Fiquei inconformada,
mal-humorada. Afinal, eu nem me reportava à Diretoria Administrativa Financeira.
Disseram-me que eu não era obrigada, mas seria muito
importante se eu pudesse fazer isso. Eu fiquei bastante tentada a responder que não – minhas férias eram inegociáveis. O
fato é que as cancelei, mas não sem antes negociar para que
eu pudesse, então, gozar de meus dias de descanso imediatamente após o Carnaval. E assim aconteceu. Desfiz as
malas, cancelei tudo e voltei a trabalhar.
Quando finalmente fevereiro trouxe o Carnaval para me
animar, o que aconteceu foi exatamente o contrário. Minha
prima, médica, que estava acompanhando meu pai em consultas e exames, me chamou para um café e me contou
(a contragosto dele) que o caso era grave e delicado e tudo
indicava que se tratava de um tumor, tido como um dos mais
agressivos.
No meu primeiro dia de férias, eu prontamente o levei
para seu último exame. A confirmação do diagnóstico veio
rápido e, com ela, a corrida contra o tempo para agendar uma
cirurgia e tentar retirar o tumor o mais rápido possível.
Nos dez dias de espera que antecederam sua internação, pudemos lembrar o passado, ver fotos, conversar sobre
assuntos sérios, polêmicos, engraçados e amenos. Fiz massagem nos seus pés, fizemos planos para as próximas férias
e ficamos em silêncio apenas, aproveitando o prazer de simplesmente estarmos juntos.
Nem que eu quisesse eu conseguiria ter planejado melhor
essas férias – as últimas que pude passar junto ao meu pai,
viajando para dentro do coração, do afeto e da gratidão.
(Natalia Moriyama. Um adiamento de férias me
permitiu passar os últimos dias do meu pai ao seu lado.
www1.folha.uol.com.br, 02.10.2021. Adaptado)