O preço da magreza
Carolina tem 10 anos e um sonho: perder a gordura da barriga que só ela consegue ver. Sua mãe, Paula, de 37
anos, tenta emagrecer desde os 14 e nunca atingiu o peso desejado, apesar dos esforços que envolvem dieta, exercícios
físicos e tratamentos estéticos.
Como Carolina, 77% das jovens de 10 a 24 anos entrevistadas pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo têm
propensão a desenvolver algum tipo de distúrbio alimentar, como anorexia e bulimia. Entre essas garotas, 39% estavam
acima do peso e 46% acreditavam que mulheres magras são mais felizes.
Os distúrbios alimentares são problemas extremamente graves. A taxa de mortalidade da anorexia, por exemplo, é
de 15% a 20%. Cerca de 90% dos pacientes são do sexo feminino.
A mulher que deseja perder peso quase nunca o faz por motivos de saúde. O que as move é a promessa de uma
vida melhor. Poder vestir a roupa que quiser, arrumar um namorado, ser aceita e invejada pelas amigas, não ter que
esconder o corpo na praia. A felicidade, portanto.
Mas por que tantas meninas e mulheres adultas acreditam que elas serão mais felizes se forem magras?
Basta abrir uma revista ou ligar a televisão para compreender a pressão sob a qual as mulheres vivem. Nos
anúncios, mulheres lindas vestem roupas maravilhosas que não serviriam na maioria das brasileiras. Nas novelas e
programas de TV, as mulheres fortes, bem-sucedidas e realizadas têm algo em comum: são magras.
As meninas crescem vendo as mães dando a vida para se encaixar em um padrão de beleza totalmente distante da
realidade, travando uma luta inglória que quase sempre resulta em frustração.
Quando estão acima do peso, elas sofrem preconceito na escola e se esforçam para conseguir ser aceitas.
Aprendem, desde muito novas, que o mais importante é ter um corpo dentro dos padrões de beleza estabelecidos pela
sociedade. Mais do que tudo, aprendem a menosprezar as diferenças.
Mas, como sabemos, não é nada fácil tentar adequar-se a um padrão de beleza que não é o seu. E muitas mulheres
pagam com a própria saúde para chegar ao corpo supostamente perfeito.
Nossas meninas estão crescendo insatisfeitas e se transformando em mulheres infelizes porque atribuem a
felicidade a um padrão inatingível para a maioria. Essa busca mal/sucedida afeta a autoestima e gera insegurança em
várias áreas. Sem se darem conta, elas renunciam à própria liberdade.
Enquanto não aceitarmos e respeitarmos as diferenças físicas e de comportamento viveremos frustradas,
esperando a felicidade que nunca vem.
(Mariana Fusco Varella. Editora do site www.drauziovarella.com.br e do blog Chorumelas. Disponível em: https://drauziovarella.com.br/paraas-mulheres/o-preco-da-magreza/. Publicado em: 05/11/2014. Acesso em: 09/11/2016. Adaptado.)