Por mais qualidade na política.
Os brasileiros levaram um choque de vergonha alheia
assistindo à sessão plenária da Câmara Federal que aprovou o
pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, na
semana passada. Cada um dos 511 parlamentares que votaram
tinha 30 segundos para justificar o seu voto, mas a maioria
ultrapassou o tempo regimental para homenagear familiares e
conterrâneos, para fazer média com suas bases eleitorais ou
para usar o nome de Deus em vão. O festival de frivolidades
provocou nos eleitores mais lúcidos um misto de
constrangimento e consciência de que é preciso encontrar um
caminho para a qualificação da representação política em nosso
país.
Como? Reforma do sistema eleitoral é sempre a
primeira sugestão dos estudiosos do tema, mas os projetos
nesse sentido costumam esbarrar na resistência dos
legisladores em mexer nos próprios privilégios. Todos sabem
que temos excesso de partidos políticos, que o sistema de
eleição proporcional propicia verdadeiras aberrações, que o
financiamento de campanhas é o gatilho da corrupção e que o
voto distrital merece ser experimentado. Mas há mais pontos a
atacar: o foro privilegiado não pode ser passaporte para a
impunidade, a lei da ficha limpa tem que ser ampliada para
dirigentes partidários, o instituto do recall também poderia ser
introduzido na legislação brasileira para proporcionar maior
poder ao eleitor de retirar o mandato de quem o trai.
Há, porém, um aspecto que não depende unicamente
de mudanças na legislação. Os cidadãos têm que aprender a
selecionar seus representantes por critérios mais rigorosos,
informando-se sobre a carreira, os posicionamentos éticos e as
ideias dos candidatos antes de chancelar seus nomes nas
urnas. Atualmente, a tecnologia facilita esse tipo de pesquisa.
Evidentemente, sempre há a possibilidade de alguém
ter um comportamento exemplar como candidato e depois se
deixar corromper. Por isso, a vigilância tem que ser constante e
implacável. Os cidadãos podem - e devem - mover
representações contra os políticos que desonram seus
mandatos e acionar todos os mecanismos de pressão
disponíveis para exigir que se corrijam.
Se não nos transformarmos em fiscais de nossos
representantes, continuaremos a passar por situações
constrangedoras como a do último domingo.
Fonte: Zero Hora, 26/04/2016.