Questões de Concurso

Foram encontradas 45.171 questões

Resolva questões gratuitamente!

Junte-se a mais de 4 milhões de concurseiros!

Q2762184 Português

Instrução: As questões de números 01 a 10 referem-se ao texto abaixo. Os destaques ao longo do texto estão citados nas questões.


Sobre estar sozinho


01 Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o início deste milênio. As relações afetivas

02 também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor. O

03 que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista

04 individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, não mais uma relação de dependência,

05 em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.

06 A ideia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo,

07 está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que

08 somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos.

09 Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais

10 a mulher. Ela abandona suas características para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da

11 ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei. Se

12 sou manso, ele deve ser agressivo e assim por diante. Uma ideia prática de sobrevivência e pouco

13 romântica, por sinal.

14 A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade pelo

15 amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente. Com o

16 avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de

17 ficarem sozinhas e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a

18 perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo,

19 também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um

20 companheiro de viagem.

21 O ser humano é um animal que vai mudando o mundo e depois tem de ir se reciclando para se

22 adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada

23 a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do

24 outro, seja ela financeira ou moral. A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e

25 significado. Visa à aproximação de dois inteiros e não à união de duas metades. E ela só é

26 possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade. Quanto mais o indivíduo for

27 competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva.

28 A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas

29 relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de

30 ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do

31 século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para

32 avaliar ninguém. Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que

33 fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto.

34 Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando para estabelecer um diálogo

35 interno e descobrir sua força pessoal. Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de

36 espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo e não a partir do outro. Ao perceber isso,

37 ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de

38 ser de cada um. O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação, há

39 o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado.


Texto adaptado especialmente para esta prova. Disponível em: https://www.contioutra.com/sobre-estarsozinho-de-flavio-gikovate/. Acesso em 10 jan. 2019.

Qual das seguintes palavras extraídas do texto teve o acento extinto em função da vigência do Novo Acordo Ortográfico, definido pelo Decreto 7.875/12?

Alternativas
Q2762065 Português

História de passarinho


Um ano depois os moradores do bairro ainda se lembravam do homem de cabelo ruivo que enlouqueceu e sumiu de casa.

Ele era um santo, disse a mulher abrindo os braços. E as pessoas em redor não perguntaram nada e nem era preciso, perguntar o que se todos já sabiam que era um bom homem que de repente abandonou casa, emprego no cartório, o filho único, tudo. E se mandou Deus sabe para onde.

Só pode ter enlouquecido, sussurrou a mulher, e as pessoas tinham que se aproximar inclinando a cabeça para ouvir melhor. Mas de uma coisa estou certa, tudo começou com aquele passarinho, começou com o passarinho. Que o homem ruivo não sabia se era um canário ou um pintassilgo. Ô, Pai! caçoava o filho, que raio de passarinho é esse que você foi arrumar?!

O homem ruivo introduzia o dedo entre as grades da gaiola e ficava acariciando a cabeça do passarinho que por essa época era um filhote todo arrepiado, escassa a plumagem de um amarelo-pálido com algumas peninhas de um cinza-claro.

Não sei, filho, deve ter caído de algum ninho, peguei ele na rua, não sei que passarinho é esse.

O menino mascava chicle. Você não sabe nada mesmo, Pai, nem marca de carro, nem marca de cigarro, nem marca de passarinho, você não sabe nada.

Em verdade, o homem ruivo sabia bem poucas coisas. Mas de uma coisa ele estava certo, é que naquele instante gostaria de estar em qualquer parte do mundo, mas em qualquer parte mesmo, menos ali. Mais tarde, quando o passarinho cresceu, o homem ruivo ficou sabendo também o quanto ambos se pareciam, o passarinho e ele.

Ai!, o canto desse passarinho, queixava-se a mulher. Você quer mesmo me atormentar, Velho. O menino esticava os beiços tentando fazer rodinhas com a fumaça do cigarro que subia para o teto, Bicho mais chato, Pai, solta ele.

Antes de sair para o trabalho, o homem ruivo costumava ficar algum tempo olhando o passarinho que desatava a cantar, as asas trêmulas ligeiramente abertas, ora pousando num pé ora noutro e cantando como se não pudesse parar nunca mais. O homem então enfiava a ponta do dedo entre as grades, era a despedida e o passarinho, emudecido, vinha meio encolhido oferecer-lhe a cabeça para a carícia. Enquanto o homem se afastava, o passarinho se atirava meio às cegas contra as grades, fugir, fugir. Algumas vezes, o homem assistiu a essas tentativas que deixavam o passarinho tão cansado, o peito palpitante, o bico ferido. Eu sei, você quer ir embora, você quer ir embora, mas não pode ir, lá fora é diferente e agora é tarde demais. A mulher punha-se então a falar, e falava uns cinquenta minutos sobre as coisas todas que quisera ter e que o homem ruivo não lhe dera, não esquecer aquela viagem para Pocinhos do Rio Verde e o trem prateado descendo pela noite até o mar. Esse mar que, se não fosse o pai (que Deus o tenha!), ela jamais teria conhecido, porque em negra hora se casara com um homem que não prestava para nada. Não sei mesmo onde estava com a cabeça quando me casei com você, Velho.

Ele continuava com o livro aberto no peito, gostava muito de ler. Quando a mulher baixava o tom de voz, ainda furiosa (mas sem saber mais a razão de tanta fúria), o homem ruivo fechava o livro e ia conversar com o passarinho que se punha tão manso que se abrisse a portinhola poderia colhê-lo na palma da mão. Decorridos os cinquenta minutos das queixas, e como ele não respondia mesmo, ela se calava, exausta. Puxava-o pela manga, afetuosa, Vai, Velho, o café está esfriando, nunca pensei que nesta idade avançada eu fosse trabalhar tanto assim. O homem ia tomar o café. Numa dessas vezes, esqueceu de fechar a portinhola e quando voltou com o pano preto para cobrir a gaiola (era noite) a gaiola estava vazia. Ele então sentou-se no degrau de pedra da escada e ali ficou pela madrugada, fixo na escuridão. Quando amanheceu, o gato da vizinha desceu o muro, aproximou-se da escada onde estava o homem ruivo e ficou ali estirado, a se espreguiçar sonolento de tão feliz. Por entre o pelo negro do gato desprendeu-se uma pequenina pena amarelo-acinzentada que o vento delicadamente fez voar. O homem inclinou-se para colher a pena entre o polegar e o indicador. Mas não disse nada, nem mesmo quando o menino, que presenciara a cena, desatou a rir, Passarinho burro! Fugiu e acabou aí, na boca do gato?

Calmamente, sem a menor pressa, o homem ruivo guardou a pena no bolso do casaco e levantou-se com uma expressão tão estranha que o menino parou de rir para ficar olhando. Repetiria depois à Mãe. Mas ele até que parecia contente, Mãe, juro que o Pai parecia contente, juro! A mulher então interrompeu o filho num sussurro, Ele ficou louco.

Quando formou-se a roda de vizinhos, o menino voltou a contar isso tudo, mas não achou importante contar aquela coisa que descobriu de repente: o Pai era um homem alto, nunca tinha reparado antes como ele era alto. Não contou também que estranhou o andar do Pai, firme e reto, mas por que ele andava agora desse jeito? E repetiu o que todos já sabiam, que quando o Pai saiu, deixou o portão aberto e não olhou para trás.


(TELLES, Lygia Fagundes. Invenção e memória. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.)

O emprego do acento grave indicador de crase em: “Enquanto o homem se afastava, o passarinho se atirava meio às cegas contra as grades, fugir, fugir.” (9º§) possui a mesma justificativa do emprego visto em:

Alternativas
Q2761909 Português

Texto


A casa do futuro

Quando explodir, a busca será por florestas, montanhas, até lugares isolados. Estou nessa.


Meu sonho sempre foi trabalhar em casa e acordar tarde. Este último realizei jovenzinho, quando comecei a trabalhar em jornalismo. Minha família teve dificuldade para compreender meu novo estilo de vida – na época, eu morava com meus pais. Trabalhava numa revista semanal e, muitas vezes, ficava até 5, 6 da manhã na redação. Tomava café da manhã na rua e só ia dormir depois. Às 9, minha mãe gritava:

– Acorda, preguiçoso!

Pois é. Nunca entrou em sua cabeça que eu trabalhava mesmo até amanhecer. Certamente, me imaginava na esbórnia. Vivo esse problema até hoje. As pessoas tentam marcar reuniões de manhã, almoços. Se explico que escrevo a novela de madrugada e, portanto, não assumo compromissos antes das 13, 14 horas, me encaram como se eu fosse um inútil.

Outro desejo realizei há alguns anos, quando passei a escrever novelas. Autor trabalha em casa! Hoje, o que era uma exceção tornou‐se tendência. Graças à internet, o número de pessoas que trabalham em casa é crescente.

Meu terceiro sonho é morar longe. Por que viver numa cidade poluída, com um trânsito infernal, se poderia morar num sítio, com galinhas, árvores frutíferas, quem sabe uma cascata? Acordar e dormir no silêncio das estrelas? Ou viver numa cidade pequena, bem pequena, onde as pessoas se cumprimentam na rua? Esse é o caminho que a população das cidades grandes deverá tomar, nos próximos anos.

Já andei pesquisando cidades próximas de São Paulo e do Rio. Ou até mais longe, como na região de Bonito, pela qual me apaixonei. Havia casas lindas, com riozinhos próximos e floresta exuberante. Quase fiz negócio. Só desisti ao refletir melhor. Poderia encontrar uma sucuri no riozinho tão lindo. Ou dormir com uma onça rondando a casa. É lindo preservar a vida selvagem, mas os animais caçam! Mesmo assim, seria menos perigoso viver entre sucuris e onças do que em grande parte das cidades pequenas. A violência virou uma loucura.

O estilo de vida na grande cidade subsiste por causa da violência. São Paulo, entre outras cidades brasileiras, ainda permite que alguém viva num certo anonimato que, de certa forma, protege. Mas o futuro é irreversível: as grandes cidades serão lugares onde as pessoas irão para comparecer ao dentista ou assistir à opera. Elas viverão num pequeno círculo, de amigos próximos. E, no enorme círculo das redes sociais, para fazer contatos, encontrar amigos e namorar. Sim, o homem do futuro será paradoxalmente mais sozinho, mas também mais conectado, com relacionamentos duradouros que nunca viu pessoalmente. Pense bem: com uma paisagem tão linda como a deste país, por que passar os dias longe dela?

Viver fora da cidade será mais saudável e mais barato, com hortas domésticas, quem sabe até uma vaca leiteira? Coisas inéditas podem acontecer.

Não acredito em Papai Noel, mas acredito que, um dia, a violência diminuirá. Será possível morar na floresta sem dormir de carabina na mão. A grande cidade também se tornará mais agradável, com menos pessoas no trânsito para ir trabalhar. O voo migratório já começou, mas não é ousado. Temerosas, as pessoas preferem condomínios fechados próximos às grandes cidades. Quando explodir, a busca será por florestas, montanhas, lugares até isolados. Estou nessa. Um dia ainda vou escrever logo depois de tirar o leite da vaca.


(Walcyr Carrasco. Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas‐e‐blogs/walcyr‐carrasco/noticia/2013/07/casa‐do‐bfuturob.html. Adaptado.)

Assinale a alternativa em que a disposição dos termos da oração encontra‐se na ordem indireta.

Alternativas
Q2761387 Português

Texto


Perfume de mulher hoje, no SBT


Um estudante, atendendo a um anúncio, vai trabalhar como acompanhante de um coronel. De um coronel cego. De um coronel cego e inflexível. De um coronel cego, inflexível e aventureiro. De um coronel cego, inflexível, aventureiro e, no momento, em crise. De um coronel cego, inflexível, aventureiro, no momento em crise - mas que dança tango maravilhosamente bem. Faça como Chris O'Donnell, o estudante do filme. Atenda a esse anúncio. Assista a Tela de Sucessos hoje, às nove e meia da noite, no SBT. E descubra um coronel cego, inflexível, aventureiro, no momento em crise, que dança tango maravilhosamente bem e que ainda por cima tem a cara do Al Pacino.


(JB, 19 de setembro de 1997)

"Atenda a esse anúncio. Assista a Tela de Sucessos hoje, às nove e meia da noite, no SBT. E descubra um coronel cego, inflexível, aventureiro, no momento em crise, que dança tango maravilhosamente bem e que ainda por cima tem a cara do Al Pacino."


Nesse segmento, dentre os termos sublinhados, aquele que exerce uma função sintática diferente dos demais é

Alternativas
Q2759877 Português

Assinale a alternativa em que o acento grave está sendo empregado de forma errada.

Alternativas
Respostas
196: B
197: B
198: D
199: C
200: C