Questões de Concurso Comentadas por alunos sobre travessão em português

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Q2530605 Português
Coisas & Pessoas

       Desde pequeno, tive tendência para personificar as coisas. Tia Tula, que achava que mormaço fazia mal, sempre gritava: “Vem pra dentro, menino, olha o mormaço!” Mas eu ouvia o mormaço com M maiúsculo. Mormaço, para mim, era um velho que pegava crianças! Ia pra dentro logo. E ainda hoje, quando leio que alguém se viu perseguido pelo clamor público, vejo com estes olhos o Sr. Clamor Público, magro, arquejante, de preto, brandindo um guarda-chuva, com um gogó protuberante que se abaixa e levanta no excitamento da perseguição. E já estava devidamente grandezinho, pois devia contar uns trinta anos, quando me fui, com um grupo de colegas, a ver o lançamento da pedra fundamental da ponte Uruguaiana-Libres, ocasião de grandes solenidades, com os presidentes Justo e Getúlio, e gente muita, tanto assim que fomos alojados os do meu grupo num casarão que creio fosse a Prefeitura, com os demais jornalistas do Brasil e Argentina.
       Era como um alojamento de quartel, com breve espaço entre as camas e todas as portas e janelas abertas, tudo com os alegres incômodos e duvidosos encantos de uma coletividade democrática. Pois lá pelas tantas da noite, como eu pressentisse, em meu entredormir, um vulto junto à minha cama, sentei-me estremunhado e olhei atônito para um tipo de chiru, ali parado, de bigodes caídos, pala pendente e chapéu descido sobre os olhos. Diante da minha muda interrogação, ele resolveu explicar-se, com a devida calma:
        – Pois é! Não vê que eu sou o sereno.
       E eis que, por um milésimo de segundo, ou talvez mais, julguei que se tratasse do silêncio noturno em pessoa. Coisas do sono? Além disso, o vulto, aquele penumbroso e todo em linhas descendentes, ajudava a ilusão. Mas por que desculpar-me? Quase imediatamente compreendi que o “sereno” era um vigia noturno, uma espécie de anjo da guarda crioulo e municipal.
      Por que desculpar-me, se os poetas criaram os deuses e semideuses para personificar as coisas, visíveis e invisíveis... E o sereno da Fronteira deve andar mesmo de chapéu desabado, bigode, pala e de pé no chão... sim, ele estava mesmo de pés descalços, de certo para não nos perturbar o sono mais ou menos inocente.

(QUINTANA, Mário. As cem melhores crônicas brasileiras. Em: 29/09/2023.)
No trecho exposto no 3º§ do texto “– Pois é! Não vê que eu sou o sereno.”, há o uso do travessão. Tal sinal de pontuação foi utilizado, neste contexto, para
Alternativas
Q2529930 Português
A depressão não é um sinal de fraqueza, mas uma doença com múltiplas faces


      Neblina. Trevas. Espírito maldito. Escuridão. Estrada sem saída. Fazemos rodeios, recorremos a metáforas, e pintamos quadros da dor com nossas palavras. O termo depressão é clínico; a lista de sintomas, estéril. No entanto, é por meio do reconhecimento desses símbolos que podemos começar a compreender o que é essa doença e a importância de debater esse assunto que ainda é tratado por tantas pessoas como um tabu.
      Em definição clínica, o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) enumera sintomas que variam desde o humor deprimido até a perda de interesse, distúrbios do sono, fadiga, dificuldade de concentração e o pior deles: os pensamentos suicidas. Apesar de sua aparente objetividade, esta descrição não consegue abarcar totalmente todas as experiências vividas por aqueles que enfrentam a doença.
      Nesse contexto surge o Setembro Amarelo como um apoio na prevenção ao suicídio e conscientização sobre a depressão. É um mês dedicado a “desestigmatizar” esses tópicos e abrir diálogo. Essa campanha funciona como um convite para a sociedade entender que problemas de saúde mental não significam apenas uma tristeza passageira, mas sim enfermidades que merecem atenção, compaixão e tratamento.
      Além disso, a depressão é uma doença em constante mutação. Pode ser desencadeada por eventos dolorosos, surgir sem aviso prévio ou ser uma companheira constante por longos períodos. Alguns enfrentam os sintomas físicos com mais intensidade, enquanto outros sofrem mais com os aspectos emocionais.
      Torna-se fundamental reconhecer que a depressão não é um sinal de fraqueza, falta de Deus, e que se a pessoa tivesse mais fé, se fosse mais forte, não estaria adoecida. Também não é algo a ser superado apenas com “pensamentos positivos”.
      Você imagina a audácia de aplicar esse princípio a grandes cristãos que tiveram depressão? Dizer a Charles Spurgeon para ler mais a Bíblia? Incentivar David Brainerd a orar mais? Madre Teresa de Calcutá deveria simplesmente escolher a alegria? Que Martin Luther King Jr. precisaria não se preocupar com as ameaças constantes à sua vida? Ou então, que Martinho Lutero – um dos principais líderes da Reforma Protestante – tinha de ignorar os conflitos interiores e as sensações de indignidade pessoal?
      Todos eles lutaram contra a depressão e nos recordam de que às vezes somos abatidos por sensações angustiantes. O nosso cérebro, assim como o nosso corpo, adoece. Depressão é uma doença real que exige atenção médica e apoio adequado. É essencial nos educarmos, apoiarmos uns aos outros e reconhecermos a busca pela compreensão desse “mal do século”.

(Diana Gruver. Disponível em: https: www.gazetadopovo.com.br. Acesso em: 15/01/2024.) 
“Ou então, que Martinho Lutero – um dos principais líderes da Reforma Protestante – tinha de ignorar os conflitos interiores e as sensações de indignidade pessoal?” (6º§) Os travessões foram empregados para: 
Alternativas
Q2529155 Português
O gesso 


      Talvez um dia eu mande passar para o bronze; mas me afeiçoei a essa cabeça de gesso encardido que é a única lembrança material que tenho daquela que partiu.
      Seus olhos brancos parecem fitar um mundo estranho, contemplar alguma coisa além das coisas deste mundo. O ar é severo, quase triste. Mas sei como fazer vibrar essa imobilidade; minha arma é a luz. É com a luz que devagar e ternamente vou passeando os olhos pela face, a testa, a orelha delicada, os cabelos presos atrás por um laço. Então é como se os músculos ainda vivessem e os cabelos ainda tivessem o brilho macio, os lábios ainda pudessem se comprimir levemente, como se ela tivesse alguma palavra a dizer e não quisesse dizê-la.
      O escultor não se deixou encantar pela sua beleza; trabalhou com dura honestidade, com lenta obstinação, menos preocupado em fazer uma obra de arte em si mesma que em retratar a mulher.
      Quantas vezes vi esses olhos se rindo em plena luz ou brilhando suavemente na penumbra, olhando os meus. Agora olham por cima de mim ou através de mim, brancos, regressados com ela à sua substância de deusa.
      Agora ninguém mais a poderá ferir; e todos nós, desta cidade, que a conhecemos um dia e, mais que todos, aquele que mais obstinado, mais angustiosamente soube amá-la, aquele que hoje a contempla assim, prisioneira do imóvel gesso, mas libertada de toda a dor, toda a paixão tumultuária da vida – todos nós morremos um pouco na sua ausência.
      Muitas vezes encontro sua lembrança em alguma esquina da cidade; subitamente me sinto viver uma tarde antiga, como se a vida tivesse voltado um instante – ouço aquela voz dizer o meu nome, o bater de seus saltos na calçada, ao meu lado. Mas são lembranças vivas, carregadas de prazer e de angústia. Doem-me. Paro um momento na rua, como se fosse para deixar a tarde antiga passar pelos meus ombros, levada pela brisa; paro um momento e regresso ao dia de hoje, com todos os jogos do destino já idos e jogados.
      Mas à noite quando volto para casa, a cabeça de gesso me espera – imemorial, neutra, severa, apenas quase triste. E minha ternura é toda sossego e pureza.

(BRAGA, Rubem. Desculpem tocar no assunto. Crônicas Escolhidas. Tinta da China. Lisboa. MMXXIII.)
Cegalla apresenta três finalidades para os sinais de pontuação: “assinalar as pausas e as inflexões da voz (a entoação) na leitura; separar palavras, expressões e orações que devem ser destacadas; e, esclarecer o sentido da frase, afastando qualquer ambiguidade”. Considere o trecho a seguir: “Mas à noite quando volto para casa, a cabeça de gesso me espera – imemorial, neutra, severa, apenas quase triste.” (7º§) É correto afirmar que o travessão tem como finalidade: 
Alternativas
Q2528203 Português
O uso de travessão no trecho abaixo justifica-se, pois:

Esta unidade de comprimento, a distância que a luz percorre em um ano, é chamada ano-luz. Mede não o tempo, mas distâncias — distâncias enormes.
Alternativas
Q2517692 Português
Texto CG3A1

      — Afinador de piano, em excursão, vinte e cinco mil-réis.
      — Quanto?
      — Vinte e cinco mil.
     — É exagero. Às vezes o afinador não ganha isso durante a viagem. O Juca Silveira me contou. A principal fonte de renda dele é a criação de perus. E já paga imposto de indústria e profissão...
     — Bem, se nós formos indagar dos contribuintes quanto é que eles querem pagar, a tesouraria fica sem recursos para comprar um maço de velas quando faltar luz. Seria preferível que eles mesmos fizessem o lançamento.
     A Câmara Municipal discutia o orçamento para 1920, e os dois vereadores ponderavam ponto por ponto cada título da receita. O município é pobre, arrecada setenta e dois contos por ano. Houve praga na lavoura; deu peste no gado; o empréstimo para instalação de luz elétrica vence juros penosos. Para atender ao serviço de estradas, à instrução, às eleições, ao funcionalismo, a tanto compromisso, torna-se imperioso lançar novos impostos, criar taxas inéditas, como essa de afinador. Mas piano — quantos pianos terá o município? Quinze, no máximo; dos quais apenas uns cinco nos distritos: a taxa talvez não produza cinquenta mil-réis. Uma ninharia, meu caro!
    No calor da sala, os vereadores tentam reerguer as finanças públicas. Salão muito quente, com efeito. Dá para a frente da praça, que recolhe o sol da tarde, ao passo que a outra sala, olhando para a montanha e o vale profundo, recebe uma doce brisa, em que narinas mais apuradas distinguem o perfume de árvores distantes, e os caçadores chegam a identificar um cheiro de anta. No inverno, sim, a sala das sessões recomenda-se pelo aconchego — mas o orçamento é feito naquela época do ano em que as cigarras estouram, e secam os córregos.
    — Barbeiro com uma só cadeira, vinte mil-réis na cidade; em outros lugares, dezoito mil. Cada mão de engenho de mineração, quando fabricada no país...

Carlos Drummond de Andrade. Câmara e cadeia. In: Contos de aprendiz.
Companhia das Letras (com adaptações). 
No que se refere aos aspectos linguísticos do texto CG3A1, julgue os itens a seguir.
I Na oração “e secam os córregos”, no final do sétimo parágrafo do texto, o termo “os córregos” complementa a forma verbal “secam”.
II O emprego do travessão no texto, em todas as suas ocorrências, justifica-se com base na mesma regra de pontuação.
III O sentido e a correção gramatical do texto seriam mantidos caso a locução verbal “formos indagar”, no quinto parágrafo, fosse substituída por indagarmos.
Assinale a opção correta.
Alternativas
Respostas
21: B
22: A
23: A
24: D
25: B