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Destruição criativa 2.0
Não compro muito a ideia de que a inteligência artificial vai destruir o mundo. Digo-o não porque tenha conhecimento privilegiado do porvir, mas porque sei que, diante do
novo, nossa tendência é sempre a de exagerar os perigos.
Quem quiser uma confirmação empírica disso pode pegar
nas coleções de jornais os artigos catastrofistas dos anos
1970 e 1980 que mencionavam o advento dos bebês de proveta, que hoje não despertam mais polêmica.
Daí não decorre que devamos tratar a inteligência artificial com ligeireza. É uma mudança tecnológica de enorme
potencial e que terá impactos, em especial sobre o empreg o.
Já vimos antes a chamada destruição criadora em ação.
Mas, ao que tudo indica, desta vez, a aniquilação de postos
de trabalho se dará em escala maior e atingirá também funções criativas ocupadas pelas elites intelectuais, que foram
poupadas em viragens tecnológicas anteriores.
O quadro geral, porém, talvez não seja dos piores. Economistas de diferentes correntes anteviram um mundo em que
as mudanças tecnológicas avançariam tanto que resolveriam
o problema econômico da humanidade, isto é, as máquinas
produziriam sozinhas e de graça tudo o que necessitamos,
de comida a bens industrializados, passando por vários tipos
de serviço. A dificuldade é que, como isso não vai acontecer
da noite para o dia, devemos esperar uma transição complicada. E complicada não apenas em termos econômicos e
sociais, mas também psicológicos.
Quando conhecemos uma pessoa, uma das primeiras
perguntas que lhe dirigimos é “o que você faz?”. Vivemos em
sociedades em que os indivíduos se definem em larga medida por sua profissão. Tirar isso deles pode provocar um vazio
existencial. É até possível que, com o problema econômico
resolvido, passemos a extrair transcendência de outras atividades. Imagine um mundo de artistas. Mas isso vai exigir
uma revolução anímica.
(SCHWARTSMAN, Hélio. Em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/
helioschwartsman/2023/09/destruicao-criativa-20.shtml.
15.09.2023. Adaptado)