Pobre Brasil
(Fábio Caldeira, 05/01/2024, com adaptações)
Se você não chegou recentemente de outra galáxia, indubitavelmente percebe uma divisão do
país no ambiente político. Mesmo não acompanhando com profundidade a política do dia a dia,
por falta de tempo ou simplesmente por não gostar da temática, os efeitos da polarização estão
em nosso entorno, seja no ambiente familiar ou profissional, sendo mais perceptíveis a partir das
eleições de 2018, vencidas por Bolsonaro.
Dissecando mais acerca dessa divisão, foi lançado recentemente um excelente livro intitulado
Biografia do Abismo, dos autores Felipe Nunes e Thomas Traumann. O livro desnuda a atual
conjuntura fortemente polarizada do país com relevantes pesquisas. Apresentam dados que
atestam a calcificação da sociedade brasileira, para propor a substituição do conceito de
polarização partidária pelo de calcificação.
Segundo eles, as opiniões políticas passaram por um processo de engessamento e se
transformaram em parte da identidade de cada eleitor. Afirmam os autores: “O embate dos
brasileiros após a disputa de 2022 retrata uma cisão maior. As preferências por Lula e Bolsonaro
não refletiram apenas um modelo político, mas também uma estrutura de pensamento. Lulistas
e bolsonaristas acreditam em um país tão diferente do que o outro defende que é como se
vivessem em sociedades opostas”.
As consequências negativas são de curto, médio e longo prazo, tanto em relação à qualidade
das leis aprovadas nos parlamentos como na formulação de políticas públicas pelos governos.
Sem contar, por suposto, na fragmentação nas relações familiares e sociais.
Interessante destacar que a forte polarização no Congresso é “esquecida” quando questionáveis
matérias de exclusivo interesse partidário ou corporativo (e não público) são votadas. Como
exemplo, a recente união entre bolsonaristas e lulistas para aprovação do exagerado fundo
eleitoral de R$ 5 bilhões para as eleições deste ano.
O livro conclui dispondo de saídas para este nefasto processo de calcificação. Nada simples
e nem de curtíssimo prazo, mas indispensável ação nesse sentido dos dois líderes Lula e
Bolsonaro, parlamentares, empresários, grande mídia e da sociedade civil organizada. Não
apenas na retórica, mas em ações!