TEXTO 1
O papel do servidor nos novos tempos
Engana-se quem pensa que o serviço público tem papel
pequeno ou irrelevante na vida do brasileiro. Engana-se ainda
mais quem pensa que o serviço privado poderia substituí-lo
amplamente. Acredite: o serviço público está em tudo, em todos
os aspectos da nossa vida, ainda que pareça invisível para olhos
mais desatentos. Ele está na certificação de alimentos para
consumo, na organização do tráfego das cidades, na moeda
utilizada nas compras, na conservação de estradas e em tantos
outros momentos.
Nenhum outro agente está em tudo como o serviço público. O
setor privado não tem a abrangência, a capilaridade, os
incentivos nem a legitimidade que o governo tem para lidar com
nossos variados problemas sociais. Dados do último Censo
Escolar mostram que 83% dos estudantes brasileiros estão
matriculados na rede pública. Quando se trata de saúde, 80%
da nossa população depende exclusivamente de serviços
públicos, segundo o Ministério da Saúde. Portanto, não há
caminho para o nosso desenvolvimento, como uma sociedade
justa e igualitária, que não passe pela profissionalização e
modernização do serviço público.
O serviço público é feito por pessoas comuns, espalhadas por
todo o país. Dados da Rais 2017 revelam que mais de 11
milhões de brasileiros dedicam a jornada de trabalho para servir
o país. Desse total, cerca de 60% são funcionários públicos
municipais, com salário médio mensal de R$ 2.800. Outros 32%
são servidores estaduais, recebendo uma média mensal de R$
5 mil. Os servidores federais somam menos de 9% do total e têm
renda média de R$ 9.100. Os chamados supersalários —
aqueles acima do teto constitucional, que configuram um
problema moral e puxam rótulos como o de "parasita" para todo
o funcionalismo — representam apenas 0,23% do total de
empregos públicos, de acordo com levantamento feito pelo
Centro de Liderança Pública. Essa parcela está concentrada
principalmente no Judiciário e no Ministério Público. Ou seja: os
supersalários são exceção, e a maioria dos servidores vive com
rendimentos módicos. [...]
O país vive agora a aurora de novos tempos. Precisamos nos
preparar para a reconstrução do Estado brasileiro e os
profissionais públicos serão cruciais nesse processo. [...]. O
novo governo precisa avaliar as formas de acesso ao serviço
público — seja o acesso para servidores efetivos, via concursos,
seja o acesso para cargos de confiança — e selecionar pessoas
com as competências necessárias, imbuídas de espírito público.
A nova gestão também precisa se debruçar sobre o problema da
desigualdade dentro do funcionalismo público, corrigindo
distorções nas carreiras. Será necessário ainda criar
mecanismos de acompanhamento, engajamento e gestão de
desempenho. Também é urgente ampliar medidas que
promovam maior diversidade na burocracia, para dar mais
espaço a grupos historicamente sub-representados no Estado
brasileiro.
As pessoas são os maiores ativos dos governos. A qualidade do
serviço público prestado à população nunca será superior à
qualidade do prestador. E a qualidade do prestador, nesse caso,
não se refere apenas às suas habilidades ou qualidades
técnicas, mas também à forma como ele é valorizado,
reconhecido e gerido. É por isso que a gestão de pessoas no
serviço público será ainda mais crucial nos novos tempos.
https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2022/12/5057514-artigo-o-papel-
do-servidor-nos-novos-tempos.html.
Publicado em: 08/12/2022. Acesso em 15 ago. 2023. Adaptado.