INSTRUÇÃO: Leia o texto a seguir para responder à questão.
Em tempos de distanciamento,
educação remota aproxima
Marcos Lemos
A escalada da Covid-19 no país infelizmente é uma
realidade, e o isolamento domiciliar tem se revelado a
estratégia mais efetiva para frear o avanço da doença.
Vários setores foram impactados, e com a educação
não seria diferente. Nesse momento de crise, em que
o distanciamento social é uma necessidade premente,
as plataformas de ensino remoto vêm mostrando, talvez
como nunca antes, sua importância. Graças a elas,
milhões de estudantes não terão as aulas interrompidas
nem o ano letivo perdido.
O papel de destaque da EaD no atual contexto traz
novamente à tona uma discussão, que, de certa forma,
sempre acompanhou o modelo: seria a educação a
distância capaz de oferecer a mesma qualidade do que
a presencial? Muito dessa desconfiança tem suas raízes
num preconceito infundado, que se mostra ainda mais
contundente quando falamos de ensino superior.
Entre 2008 e 2018, as matrículas de cursos de graduação
on-line aumentaram 182,5%, conforme dados do último
Censo da Educação Superior. Na ocasião em que
o levantamento foi realizado, havia no país mais de
2 milhões de estudantes na modalidade digital, o que
representava 24,3% do total de matrículas de graduação.
Se por um lado a crescente procura sinaliza que a EaD
vem ganhando a confiança de muitas pessoas, por outro,
há ainda uma forte resistência por parte de determinados
setores da sociedade em relação à qualidade e à
validade de instituições que a oferecem. É importante
enfatizar que, numa nação com dimensões continentais
como o Brasil e com uma capacidade de investimento
que, não raras vezes, esbarra em limitações, talvez
sem o ensino on-line jamais conseguíssemos alcançar
todos os alunos que atingimos até hoje. E não estamos
falando somente de capilaridade, mas de um formato
democrático e inclusivo sob diversos aspectos.
Há de se considerar também a estreita relação cotidiana
de uma parcela significativa da população com
ferramentas tecnológicas. Nesse sentido, é plausível
pensar que uma experiência educativa permeada por
Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) seja
atrativa e, até mesmo, um caminho lógico. Para esse
contingente, o ensino remoto apresenta-se como uma
possibilidade de viabilizar seus projetos de vida, mesmo
em meio a uma rotina atribulada, pois coloca o aluno no
centro do processo de ensino e aprendizagem.
Quando encarada com a seriedade devida, a educação a
distância é tão eficiente quanto à ofertada numa sala de
aula presencial. Os Ambientes Virtuais de Aprendizagem
(AVA) ou Sistemas de Gestão de Aprendizagem (LMS,
sigla para Learning Management System) estão mais
sofisticados e contam com conteúdos e recursos que
tornam a experiência do estudante completa, sem nada
a dever àquela vivenciada nos moldes tradicionais.
Inclusive, cada vez mais, as instituições de ensino
presencial têm incluído em seus modelos acadêmicos
instrumentos digitais pautados nos recursos a distância.
Outro ponto de destaque é que o tema vem despertando
a atenção de um número representativo de estudiosos
de diferentes áreas do conhecimento, como indica o
levantamento “Grupos que pesquisam EaD no Brasil”.
Muitos deles têm se dedicado a investigar, não apenas
novas tecnologias, mas metodologias e ferramentas
pedagógicas. Sim, existe um esforço e uma preocupação
contínuos em promover o aprimoramento da modalidade,
que, em muitas nações, há tempos é uma alternativa
respeitada e comumente incorporada em diferentes
configurações de ensino.
O Brasil, aliás, é um dos poucos lugares onde existe
claramente uma distinção entre educação presencial e
a distância. Nos Estados Unidos, por exemplo, é muito
comum ver faculdades e universidades disponibilizando
cursos 100% on-line, parcialmente remotos ou
parcialmente presenciais – entre setembro e novembro
de 2017, havia mais de 6,5 milhões (33,7%) de alunos
matriculados em algum curso a distância nas instituições
de ensino superior norte-americanas. Felizmente, essa
realidade observada nos países desenvolvidos tende a
se consolidar por aqui, sobretudo agora, catalisada pelas
necessidades surgidas nesse cenário de pandemia.
O mundo sairá dessa experiência com uma quebra
de paradigma em relação a como se pratica o ensino
em todos os níveis. Estudantes de todas as partes,
da educação básica à superior, além dos próprios
professores, passaram a ter de conviver e aprender
intensamente com a EaD. Aqueles que nunca puderam
conhecer de fato o potencial da modalidade estão tendo
a chance de constatar o quanto ela agrega valor e
comporta múltiplas possibilidades de aprendizagem.
E isso representará um choque dentro do modelo
tradicional ao qual estávamos acostumados, além de
abrir espaço para que seja questionado. Estou certo de
que, vencida essa etapa, surgirão novas possibilidades,
produtos e ofertas na indústria da educação. Afinal,
numa situação de economia de guerra, a criatividade
floresce ainda mais vigorosa. A disrupção é inevitável.
Caminhamos para uma mudança de comportamento e
hábito que envolverá todos os atores desse processo,
incluindo o Ministério da Educação, órgão regulador.
Em um futuro próximo, no Brasil, a ideia de que é possível
aprender com excelência mesmo fora de uma sala de
aula convencional não será mais alvo de descrença,
assim como já acontece em vários outros países.
E, depois, transmitir e absorver conhecimento com o
auxílio de tecnologias se tornarão práticas cada vez mais
recorrentes e naturais na nossa sociedade moderna,
povoada por nativos digitais. E o nosso objetivo,
enquanto educadores, será de viabilizar comunidades
colaborativas de aprendizagem, mediando a relação
de nossos alunos com o conhecimento e mediatizados
pelas ferramentas disponíveis.
Disponível em: www.tribunadoplanalto.com.br.
Acesso em: 6 jun. 2021.