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Coisas Antigas
[...] “Depois de cumprir meus afazeres voltei
para casa, pendurei o guarda-chuva a um canto e me
pus a contemplá-lo. Senti então uma certa simpatia por
ele; meu velho rancor contra os guarda-chuvas cedeu
lugar a um estranho carinho, e eu mesmo fiquei curioso
de saber qual a origem desse carinho.
Pensando bem, ele talvez derive do fato, creio
que já notado por outras pessoas, de ser o guarda-chuva o objeto do mundo moderno mais infenso a
mudanças. Sou apenas um quarentão, e praticamente
nenhum objeto de minha infância existe mais em sua
forma primitiva. De máquinas como telefone, automóvel
etc., nem é bom falar. Mil pequenos objetos de uso
mudaram de forma, de cor, de material; em alguns
casos, é verdade, para melhor; mas mudaram. [...]
O guarda-chuva tem resistido. Suas irmãs, as
sombrinhas, já se entregaram aos piores
desregramentos futuristas e tanto abusaram que até
caíram de moda. Ele permaneceu austero, negro, com
seu cabo e suas invariáveis varetas. De junco fino ou
pinho vulgar, de algodão ou de seda animal, pobre ou
rico, ele se tem mantido digno. [...]” Rubem Braga