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Mulheres devem ser maioria entre médicos no País já a partir deste ano
Segundo CFM, médicas são 49,92% dos profissionais e ligeira vantagem masculina deve acabar neste ano; desde 2009, elas lideram
entre egressos de cursos de Medicina
Elas representam mais de 49% dos profissionais em atuação no Brasil. Na cidade de São Paulo, já são maioria.
O número de mulheres médicas já é quase metade do total de profissionais no Brasil e elas devem superar a quantidade de homens e se
tornar maioria na profissão ainda neste ano, conforme a nova edição do estudo Demografia Médica, divulgada hoje pelo Conselho
Federal de Medicina (CFM).
Segundo a pesquisa, que reúne dados atualizados até janeiro deste ano, mulheres representam hoje 49,92% dos profissionais,
enquanto os homens são 50,08% do total. Em 1990, só 30% dos médicos no País eram do sexo feminino.
Há localidades do País em que as médicas já são maioria, como na cidade de São Paulo, onde elas representam 51,04% da força de
trabalho da profissão, com 39.721 profissionais.
Segundo o CFM, a ligeira vantagem masculina ainda existente no cenário nacional deverá ser superada neste ano porque, desde 2009,
as mulheres são maioria entre as egressas das faculdades de Medicina. Entre os profissionais com menos de 40 anos, elas já são maioria
(58%). E só considerando os médicos que ingressaram no mercado em 2023, 60% eram do sexo feminino. “A minha turma da
faculdade era composta majoritariamente por mulheres. De 40 alunos, só 7 eram homens”, conta a clínica-geral Laura Gomes Flores,
que se formou em 2019.
Especialistas e representantes da categoria destacam que a mudança no perfil dos médicos brasileiros traz repercussões também para os
pacientes. No estudo divulgado, o CFM ressalta que a evolução na composição de gênero na Medicina “traz consigo novas
perspectivas e abordagens para o atendimento à saúde”.
Quanto às áreas de especialização, embora o País esteja atingindo um equilíbrio de gênero no número total de médicos, há
especialidades que ainda mantêm amplo predomínio feminino ou masculino.
Estudo de 2023 da Associação Médica Brasileira (AMB) e da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) mostrou que, em
dermatologia, pediatria, endocrinologia e alergia e imunologia, as mulheres chegam a mais de 70% dos especialistas. Já em áreas como
urologia, ortopedia e neurocirurgia, os homens representam mais de 90% dos profissionais. As especialidades cirúrgicas, no geral, têm
menos de 25% de mulheres entre seus médicos.
Para Lígia Bahia, médica e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a chamada feminização da Medicina é um
fenômeno mundial impulsionado pela maior participação das mulheres no mercado de trabalho como um todo e traz um impacto
positivo para o paciente ao elevar o número de profissionais do sexo feminino, que costumam ter mais habilidades relacionais, como a
empatia. “Mulheres são dedicadas, costumam privilegiar a solidez e a qualidade do trabalho em detrimento da competição e valores
elevados de remuneração. A presença feminina costuma ser acompanhada por compromisso e maior tempo de permanência com os
pacientes”, diz a especialista.
Para o CFM, o cenário “desafia as estruturas tradicionais e as normas de gênero na Medicina, abrindo caminho para um ambiente mais
inclusivo e diversificado” e “pode servir como um catalisador para abordar questões mais amplas de equidade de gênero no setor de
saúde”.
Fonte: CAMBRICOLI, Fabiana. Mulheres devem ser maioria entre médicos no País já a partir deste ano. O Estado de S. Paulo, ano 145, n. 47655, 8 abr. 2024.
Metrópole, p. A12. Disponível em: https://www.pressreader.com/brazil/o-estado-de-s paulo/20240408/page/12. Acesso em: 08 abr. 2024, com adaptações.