O Brasil é, sem dúvida, a maior bacia fluvial do mundo.
Os milhares de rios que ziguezagueiam pelo território nacional
trazem em suas águas passagens fundamentais de nossa cultura
e ajudam a construir a identidade do país.
Há uma máxima surgida em Pernambuco, que diz: “O
rio Capibaribe se une ao rio Beberibe para formar o oceano
Atlântico”. A frase contém uma boa dose de exagero, mas
revela a importância que os rios têm para a cultura e o imaginário
coletivo dos lugares: Capibaribe no Recife, Negro em
Manaus, Branco em Boa Vista, Tietê em São Paulo.
O país concentra cerca de 12% de toda a água doce do
planeta. Tem o rio com o maior volume d’água, o Amazonas, e
divide com a Argentina o conjunto de quedas d’água com o segundo
maior fluxo médio anual, as Cataratas do Iguaçu. A bacia
fluvial brasileira inspirou ainda lendas e artistas; produziu batalhas
e religiosidade; é palco para espetáculos naturais e esportes
radicais. É parte da paisagem das cidades − mesmo que
muitas, em busca de progresso, tenham coberto seus leitos com
cimento.
Descoberto em 4 de outubro de 1501, dia de São
Francisco, o velho Chico passa por cinco estados brasileiros:
Minas, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Como nunca
seca, tornou-se símbolo de prosperidade em lugares historicamente
castigados pela estiagem. Por sua importância, inspirou
canções, romances e poesias de grandes nomes da cultura
nacional. “Uma vez que se bebe a água do rio, o rio nunca mais
sai da gente”, garantem os ribeirinhos.
Não são só o Tietê e o Pinheiros. Muitos outros rios percorrem
a cidade de São Paulo. “É praticamente impossível
andar 200 metros sem passar por um deles”, garante o
geógrafo Luiz de Campos Júnior que, ao lado de companheiros,
comanda o projeto Rios e Ruas, que leva paulistanos a caminhar
sobre águas canalizadas escondidas embaixo de ruas e
avenidas. Atrás da Avenida Paulista, por exemplo, nasce o
Saracura. No Anhangabaú corre o rio que batizou o vale. O córrego
da Água Preta brota sob carros e cimento no bairro da
Pompeia, com água potável limpíssima. “Não se mata um rio.
Acham que enterrar e colocar rua em cima faz o rio sumir. Mas
ele continua vivo: erodindo, inundando, enchendo, esvaziando”,
ensina Campos.
(Adaptado de: HOFFMANN, Bruno e VARGAS, Rodrigo Terra.
Brasil. Almanaque de cultura popular. São Paulo: Andreato,
novembro de 2013, n. 175. p. 18-21)