Quando se fala da política contemporânea, é muito comum ouvirmos falar
também de polarização. Mas o que é polarização política e por que ela é tão
preocupante?
Na política, o significado de polarização está relacionado a uma divisão da
sociedade em polos, que representam posições diferentes sobre um determinado
tema. Porém, essa palavra tem sido usada de modo negativo, uma vez que passou a
se referir a uma disputa entre dois grupos que se fecham em suas convicções e não
estão dispostos ao diálogo.
Apesar de ser um fenômeno muito falado hoje em dia, o melhor modo para
começarmos a entender a polarização é olhar para trás.
Como qualquer outro animal, o corpo do ser humano se modificou ao longo do
tempo com um objetivo claro, apesar de inconsciente: adaptar-se às circunstâncias e
ao ambiente para sobreviver o maior tempo possível. Uma das estratégias utilizadas
era se juntar a outros indivíduos e formar grupos.
Para ser aceito em um grupo, era preciso se mostrar digno de confiança, o que
por sua vez exigia lealdade. Ela era fundamental para que um agrupamento de
indivíduos agisse de modo coordenado e organizado. A grande questão é que ela,
quando levada a fundo, implica abrir mão da própria individualidade para aceitar as
normas, crenças e ideias do grupo.
Com isso, podemos dizer que nosso cérebro foi programado para encontrar
uma turma e se adaptar a ela. O grupo passa a fazer parte da identidade individual.
Dessa forma, existe um prazer em ser fiel ao grupo, enquanto mudar de ideia e se
opor ao grupo com o qual nos identificamos é altamente desconfortável.
Mas fazia sentido: naquela época, era uma questão de vida ou morte. A
sobrevivência dependia de ser leal a um grupo e de tratar adversários como inimigos
mortais. Hoje em dia, essa estratégia pode trazer consequências negativas.
Mas por que a polarização é um problema na democracia? Ao longo dos
séculos, a humanidade se organizou de formas complexas e criou sistemas para
organizar o poder. Uma das inovações foi a democracia.
Por meio da democracia, não seria necessário usar a força para chegar ao
poder: a disputa não aconteceria por meio da violência, mas pela discussão de ideias
e apresentação de propostas para melhorar a vida de todos. Quem convencesse mais
cidadãos e conseguisse mais votos chegaria aos postos de comando.
Não é à toa que a democracia vai muito além do voto. Como apontam Steven
Levitsky e Daniel Ziblatt no best-seller “Como as democracias morrem”, ela requer
respeito a regras comuns, reconhecimento da legitimidade dos adversários (ou seja,
tratá-los como competidores legítimos dentro de uma disputa igualitária), tolerância e
diálogo.
O excesso de polarização compromete todos esses quesitos. Em uma
sociedade concentrada em dois lados radicalizados, adversários são vistos como
inimigos, o diálogo não é incentivado – é até condenado – e transgredir as regras
parece justificável.
Quem procura se manter fora desses dois grupos, apresentando outras visões
e ideias, ou mesmo quem defende que ambos os lados têm suas falhas e virtudes, é
tratado como “isentão”. As alternativas que fogem às duas apresentadas acabam
sendo invalidadas.
Luiz Andreassa
https://www.politize.com.br/o-que-e-polarizacao-politica/