A depressão não é um sinal de fraqueza, mas uma doença com múltiplas faces
Neblina. Trevas. Espírito maldito. Escuridão. Estrada sem saída. Fazemos rodeios, recorremos a metáforas, e pintamos quadros
da dor com nossas palavras. O termo depressão é clínico; a lista de sintomas, estéril. No entanto, é por meio do reconhecimento
desses símbolos que podemos começar a compreender o que é essa doença e a importância de debater esse assunto que ainda é
tratado por tantas pessoas como um tabu.
Em definição clínica, o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) enumera sintomas que variam desde o
humor deprimido até a perda de interesse, distúrbios do sono, fadiga, dificuldade de concentração e o pior deles: os pensamentos
suicidas. Apesar de sua aparente objetividade, esta descrição não consegue abarcar totalmente todas as experiências vividas por aqueles
que enfrentam a doença.
Nesse contexto surge o Setembro Amarelo como um apoio na prevenção ao suicídio e conscientização sobre a depressão. É um
mês dedicado a “desestigmatizar” esses tópicos e abrir diálogo. Essa campanha funciona como um convite para a sociedade entender
que problemas de saúde mental não significam apenas uma tristeza passageira, mas sim enfermidades que merecem atenção, compaixão e tratamento.
Além disso, a depressão é uma doença em constante mutação. Pode ser desencadeada por eventos dolorosos, surgir sem aviso
prévio ou ser uma companheira constante por longos períodos. Alguns enfrentam os sintomas físicos com mais intensidade, enquanto
outros sofrem mais com os aspectos emocionais.
Torna-se fundamental reconhecer que a depressão não é um sinal de fraqueza, falta de Deus, e que se a pessoa tivesse
mais fé, se fosse mais forte, não estaria adoecida. Também não é algo a ser superado apenas com “pensamentos positivos”.
Você imagina a audácia de aplicar esse princípio a grandes cristãos que tiveram depressão? Dizer a Charles Spurgeon para
ler mais a Bíblia? Incentivar David Brainerd a orar mais? Madre Teresa de Calcutá deveria simplesmente escolher a alegria? Que
Martin Luther King Jr. precisaria não se preocupar com as ameaças constantes à sua vida? Ou então, que Martinho Lutero – um
dos principais líderes da Reforma Protestante – tinha de ignorar os conflitos interiores e as sensações de indignidade pessoal?
Todos eles lutaram contra a depressão e nos recordam de que às vezes somos abatidos por sensações angustiantes. O nosso
cérebro, assim como o nosso corpo, adoece. Depressão é uma doença real que exige atenção médica e apoio adequado. É essencial
nos educarmos, apoiarmos uns aos outros e reconhecermos a busca pela compreensão desse “mal do século”.
(Diana Gruver. Disponível em: https: www.gazetadopovo.com.br. Acesso em: 15/01/2024.)