Leia o texto abaixo para responder a questão.
Literatura indígena – a voz da ancestralidade
Tiago Hakiy
A cultura dos povos indígenas, ao longo dos tempos, tem sido tratada com certo desdém – vivendo em um hiato de
esquecimento abissal. Poucas pessoas despertam no meio da multidão para cantar e declamar a poucos ouvidos o universo
multicultural dos povos da floresta. O Brasil necessita se conhecer, é impossível pensar em nossa história sem levar em consideração os
povos aqui existentes, sem louvar a ancestralidade presente no canto dos pássaros e nas brisas do passado. Por isso, e muito mais,
devemos encontrar mecanismos para a manutenção da cultura indígena, primordial para o surgimento da nação brasileira.
Não podemos mais pensar em um indígena da época da invasão colonizadora, uma figura petrificada no tempo, que foi
estereotipada ao longo de todo o processo de formação de nossa nação brasileira. O indígena de hoje deve também ser pensado como
um indivíduo que está inserido no meio da sociedade – logicamente sem deslembrar que faz parte de uma cultura que tem sua
singularidade –, que pode ser e agir como qualquer outro indivíduo, sem esquecer sua cultura originária. E sua cultura é riquíssima e
esta deve ser preservada, usando também, quando possível, os mecanismos tecnológicos, pois somente assim estaremos criando
profilaxias necessárias para a manutenção do legado indígena, legado este que muitas vezes, em noites de lua cheia, ao redor das
fogueiras acesas, quando ouvia-se apenas o canto dos pássaros e o silêncio ensurdecedor da floresta, era repassado pelo contador de
histórias.
O contador de histórias sempre ocupou um papel primordial dentro do povo, era centro das atenções, ele era o portador do
conhecimento, e cabia a ele a missão de transmitir às novas gerações o legado cultural dos seus ancestrais. Foi desta forma que parte do
conhecimento dos nossos antepassados chegou até nós, mostrando-nos um caleidoscópio ímpar, fortalecendo em nós o sentido de ser
indígena. Em sua essência o indígena brasileiro sempre usou a oralidade para transmitir seus saberes, e agora ele pode usar outras
tecnologias como mecanismos de transmissão.Aí está o papel da literatura indígena, produzida por escritores indígenas, que nasceram
dentro da tradição oral, que podem não viver mais em aldeias, mas que carregam em seu cerne criador um vasto sentido de
pertencimento. Esta literatura tem contornos de oralidade, com ritos de grafismos e sons de floresta, que tem em suas entrelinhas um
sentido de ancestralidade, que encontrou nas palavras escritas, transpostas em livros, não só um meio para sua perpetuação, mas
também para servir de mecanismo para que os não indígenas conheçam um pouco mais da riqueza cultural dos povos originários.
HAKIY, Tiago. Literatura indígena – a voz da ancestralidade. DORRICO, Julie . (org.). In: et al Literatura indígena brasileira contemporânea: criação, crítica e
recepção. Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2018, p. 37-38. Disponível em: http://atempa.org.br/wp-content/uploads/2020/09/Literatura-ind%C3%ADgenacontempor%C3%A2nea-Livro-.pdf. Acesso em: 13 set. 2023.