Leia o texto para responder à questão.
Felicidade Instantânea
Transbordam nas prateleiras das livrarias os manuais
de autoajuda. Como ser mais feliz, como ter sucesso, como
pensar positivo, como conquistar um amor, como ter mais
qualidade de vida. Vendem feito picolé na praia. Eu só me
pergunto uma coisa: adianta?
Se o leitor, depois de ler um destes livros, ficar mesmo
mais feliz, mais bem-sucedido, mais amado e mais rico, então me curvo. Mas desconfio que o único bem verdadeiro que
estes livros fazem é o de dar ao leitor a impressão de que ele
está reagindo diante da própria frustração. Se alguém acha
que a sua vida, em certo aspecto, não anda legal, o fato de
deslocar-se até uma livraria, comprar um destes livros e lê-lo
até o fim já configura uma iniciativa, uma atitude favorável a
si mesmo. Tenho certeza de que isso ajuda mais que as palavras de ordem contidas nestas publicações, tipo “reinvente
sua relação”, “pense se precisa mesmo comprar uma nova
torradeira” ou “seja flexível”. Se fosse fácil assim, a psicanálise seria extinguida.
A princípio, todo mundo sabe que deve beber muita água,
praticar exercícios, ter autoestima, não se exigir demais, etc.
Só que, para isso deixar de ser uma intenção e se tornar
um hábito, a descoberta tem que se dar de dentro para fora,
vagarosamente. É preciso mergulhar um pouco mais fundo em
busca das próprias necessidades, e este é um aprendizado
que se dá através do pensar e do sentir, duas coisas que
raríssimos livros de autoajuda estimulam.
Autoajuda, de verdade, são todos os outros livros: romances clássicos, policiais, biografias, ficção científica, crônicas do
cotidiano, enfim, tudo que convida à reflexão, tudo que diverte
e intriga, faz rir e chorar, tudo que nos auxilia no autorreconhecimento e nos justifica como seres humanos.
(Marta Medeiros, Non-stop: crônicas do cotidiano.)