As comunidades invisíveis do Brasil
Muito se fala das desigualdades do país ou de como
isso afeta nossa educação. Estudos têm apontado
para as diversas desigualdades na educação
brasileira, tais como entre os setores mais pobres e
os mais ricos, entre a população branca e a população
negra ou a indígena. Também não podemos esquecer
as desigualdades socioespaciais, expressas pelo
contraste entre as zonas rural e urbana e entre as
regiões norte e nordeste e as demais regiões do país
e, até mesmo, as que ocorrem dentro de uma mesma
cidade ou região e muitas vezes não constam nos
indicadores educacionais nacionais.
Nesta semana, visitei algumas comunidades
ribeirinhas na Amazônia. Situadas ao longo dos rios
Sucunduri e Acari, elas vivem em um quase completo
estado de isolamento, rompido apenas quando
uma pequena construção de madeira indica que ali
funciona uma sala de aula. No entanto, até meados
de abril, data da minha visita, o ano letivo ainda não
tinha começado por lá. Ou seja, os alunos do ensino
fundamental 1 e da educação de jovens e adultos
(EJA) já perderam praticamente dois meses de aula
este ano.
O esquecimento dessas populações isoladas faz
com que muitas vezes elas não sejam contempladas
por políticas públicas que atuam junto a outras
minorias (como os quilombolas ou indígenas).
Frequentemente, a única ajuda que elas recebem vem
de projetos de organizações da sociedade civil. Este
é o caso do projeto Doutores das Águas. Criado em
2011, ele tem o objetivo de realizar mutirões de saúde
e educação para as pessoas que vivem em pequenos
núcleos na floresta amazônica. Para os Doutores,
uma das melhores formas de preservar a Amazônia
e garantir a sua sustentabilidade é proporcionar
condições para que as comunidades que habitam a
região possam viver na floresta com mais recursos
e mais dignidade. O trabalho se dá por meio da
construção de laços de confiança alcançados pela
escuta, respeito e continuidade das ações do projeto.
O sucesso alcançado por essa iniciativa parece
mostrar que existem caminhos possíveis para
superar o isolamento de comunidades tidas como
invisíveis. No entanto, não podemos nos conformar com ações feitas apenas pela sociedade civil. A
defesa de uma educação de qualidade para todos
implica alcançar os meios para que esses programas
sejam combinados a políticas públicas, caminhando
para um país menos desigual.
(Maria Alice Setubal, para Uol Educação. ADAPTADO. Disponível em
educação.uol.com.br)