Para responder a essa questão, assinale APENAS UMA ÚNICA alternativa correta e marque o número correspondente na Folha de Respostas.
A FÊMEA DO CUPIM
Tenho um amigo, cujo filho pretendeu entrar para a diplomacia. Não que tivesse vocação para
a carreira, a vocação dele era para o turismo, mas como quem é pobre a maneira mais fácil de arranjar
viagem é fazer-se diplomata, candidatou-se ao curso do Instituto Rio Branco. Foi reprovado em português
no vestibular. Os leitores hão de imaginar que ele redigia mal, ou que havia na banca um funcionário do
DASP que lhe tivesse perguntado, por exemplo, o presente do indicativo do verbo “precaver”. Foi pior do
que isto: um dos examinadores saiu-se com esta questão absolutamente inesperada para um candidato a
diplomata: qual o nome da fêmea do cupim? O rapaz embatucou e o mais engraçado é que ignora até
hoje. Inquiriu todo mundo, ninguém sabia.
Eu também não sabia, mas tomei o negócio a peito. Saí indagando dos mais doutos. O
dicionarista Aurélio decerto saberia. Pois não sabia. O filólogo Nascentes levou a mal a minha
curiosidade e respondeu aborrecido que o nome da fêmea do cupim só podia interessar... ao cupim! Uma
minha amiga professora, sabidíssima em femininos e plurais esquisitos, foi mais severa e me perguntou se
eu estava ficando gagá e dando para obsceno!
(...)
Isto, pensei comigo, é problema que só poderá ser resolvido por algum decifrador de palavras
cruzadas, gente que sabe que o ferrinho onde se reúnem as varetas do guarda-chuva se chama “noete”,
que o pato “grasna’, o tordo “trucila”, a garça “gazeia”, e outras coisas assim. Telefonei para minha amiga
Jeni, cruzadista exímia. “Jeni, me salve! Como se chama a fêmea do cupim?” E ela, do outro lado do fio:
“Arará”.
Fui verificar nos dicionários. Dos que eu tenho em casa só um trazia a preciosa informação:
“Arará”, s. m. (Bras.) Ave aquática do Rio Grande do Sul; fêmea alada do cupim.”
Mestre Aurélio, a fêmea do cupim se chama “arará”, está no meu, no teu, no nosso dicionário -
Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa!
Manuel Bandeira