Os milhares de trabalhadores que abastecem
programas de inteligência artificial como o ChatGPT
Diante desse chatbot capaz de responder a quase todas
as perguntas do usuário e de produzir textos que
parecem ter sido escritos por um humano, surgiram
perguntas, como: os estudantes vão usá-lo para fazer o
dever de casa? E os políticos para escrever seus
discursos? Será que esse artigo que você lê foi escrito
por um humano ou um robô?
Esse tipo de programa despertou ainda preocupações
com os trabalhos que deixarão de existir por conta da
automatização e com os direitos autorais, já que essas
ferramentas obtêm informações da internet e,
geralmente, não citam fontes.
Mas existe uma outra polêmica até agora pouco falada:
ela tem a ver com as centenas de milhares de
trabalhadores, muitos de baixa renda, sem os quais
sistemas de inteligência artificial - IA - como o ChatGPT
não existiriam.
Falamos da "força de trabalho oculta", como chamou a
organização sem fins lucrativos Partnership on AI - PAI -,
que reúne representantes de universidades, de
organizações da sociedade civil, da mídia e da própria
indústria envolvida com a inteligência artificial.
Essa força oculta é composta por pessoas
subcontratadas por grandes empresas de tecnologia,
geralmente em países pobres do Hemisfério Sul, para
"treinar" sistemas de inteligência artificial. Esses homens
e mulheres realizam uma tarefa tediosa e potencialmente
prejudicial à saúde mental, mas essencial para que
programas como o ChatGPT funcionem. Eles rotulam
milhões de dados e imagens para ensinar a inteligência
artificial a agir.
Quando você faz uma pergunta ao ChatGPT, o
programa usa cerca de 175 bilhões de parâmetros ou variáveis para decidir o que responder.
Como já mencionamos, esse sistema de inteligência
artificial usa como fonte principal as informações obtidas
na internet. Mas como distinguir os conteúdos? Graças
às referências "ensinadas" por seres humanos.
"Não há nada de inteligente na inteligência artificial. Ela
tem que aprender à medida que é treinada", explica
Enrique García, cofundador e gerente da DignifAI,
empresa americana com sede na Colômbia. A empresa
contrata esses "rotuladores" de dados (data taggers).
Na indústria de tecnologia, esse tipo de atividade é
chamado de "enriquecimento de dados". Ironicamente,
apesar de ser um trabalho essencial para o
desenvolvimento da inteligência artificial, o
enriquecimento de dados é o elo mais pobre da cadeia
produtiva das grandes empresas de tecnologia.
"Apesar do papel fundamental que esses profissionais de
enriquecimento de dados desempenham, um crescente
corpo de pesquisa revela as precárias condições de
trabalho que esses trabalhadores enfrentam", disse
Enrique García.
Uma investigação da revista Time revelou que muitos
dos "rotuladores" terceirizados pela OpenAI para treinar
seu ChatGPT recebem entre US$ 1,32 e US$ 2 por hora
(cerca de R$ 6 a R$10).
Segundo reportagem do jornalista Billy Perrigo, a
empresa de tecnologia OpenAI terceirizou o trabalho de
enriquecimento de dados por meio de uma companhia
chamada Sama, com sede em San Francisco que, por
sua vez, contratou trabalhadores no Quênia para a
atividade.
Através de um comunicado, um porta-voz da OpenAI
disse que a terceirizada era responsável pela gestão dos
salários e condições de trabalho dos rotuladores
contratados para trabalhar no ChatGPT.
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3gze230pj1o. Adaptado.