Questões de Concurso Sobre vocativo e termos acessórios da oração: adjunto adnominal, diferença entre adjunto adnominal e complemento nominal, adjunto adverbial e aposto em português
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Leia o texto para a questão.
Bem no fundo
(Paulo Leminski)
No fundo, no fundo, bem lá no fundo, a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data, aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela - silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso, maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada, e nada mais
mas problemas não se resolvem, problemas têm família grande, e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
Disponível em: http://www.revistabula.com/385-15-melhores-poemas-de-paulo-leminski/. Acesso em 22 de Dezembro de 2017
BEM PERTO DE LEO
Christophe Honoré
Capítulo I
Marcelinho. Era assim que eles me chamavam.
Pra mim, se eles me chamassem de Marcelo também tava bom, só que eles têm essa mania, já estou com mais de dez anos mas não adianta. Se acostumaram. Querem ser bonzinhos comigo. Ou rir da minha cara. Sei lá, uma mistura danada de boas intenções que deve me deixar incrivelmente legal aos olhos deles.
Marcelinho. Até que eu gosto. Fico mais diferenciado dos meus três irmãos. Dá pra perceber muito bem que eu sou o irmão mais moço, o caçulinha, o “queridinho da vovó”, como diz a vovó.
Três irmãos.
Grandes, mas grandes pra valer. Tipo caras que saíram do colégio há décadas. Só que os três continuam morando lá em casa.
Tristão: 21.
Leo: 19.
Pedrinho: 17. Não teve erro. Tipo relógio. Um filho de dois em dois anos, sempre em fevereiro. Pinta fevereiro, paf, filho!
Quando pergunto a minha mãe por que razão exatamente eu cheguei com:
(17 - 2)
- 10
5
cinco anos de atraso, ela olha pra mim como se eu estivesse querendo que ela me explicasse a existência do mundo. Em geral ela faz uma festinha na minha bochecha com uma das mãos e me dá um tapinha na testa com a outra e ao mesmo tempo fala baixinho: “Não se preocupe, meu coração, vai passar”.
Eu não me preocupo, mas sei lá, quando me dizem esse tipo de coisa fico todo arrepiado, a impressão que eu tenho é de que estão me escondendo um segredo de Estado.
É por isso que em geral não tenho coragem de insistir. Fico pensando que se eles, os meus pais, resolveram esperar cinco anos, a explicação só pode ser uma coisa bem ruim. Mas deixa pra lá, o que importa é que afinal eles se decidiram. Se não tivessem se decidido eu ia continuar sei lá onde, esperando que alguém se lembrasse de mim pra poder sair. [....]
Adaptado de: HONORÉ, Chistophe. Bem perto de Leo. Tradução de
Heloisa Jahn. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 7-8.
(Texto 01)
São incalculáveis os resultados que os mais diversos grupos de interesse setorial já amealharam para si no Brasil. É tamanho o sucesso desses grupos que passam a ser referência para aqueles que ainda lutam de forma determinada para conseguir estabelecer uma prática semelhante, visando também conquistar suas benesses específicas.
A diversidade de iniciativas em torno da “defesa dos interesses”, no entanto, não deveria avançar para além de limites que caracterizam uma conquista legítima. Não faz qualquer sentido a concessão de uma melhor condição a um determinado setor se esta gerar um prejuízo relevante e não justificável a terceiros, ou mesmo para todo o conjunto da sociedade.
Nada mais atual que comprovar o rápido desmonte de nosso patrimônio natural em troca da permissividade que representa a exploração excessiva dos solos e a sua sistemática degradação, em muito curto prazo. A perda de produtividade de amplas áreas utilizadas para a agricultura nacional e o avanço do desmatamento em todos os pontos do país são temas de interesse e responsabilidade de toda a sociedade e deveriam ser amparados por políticas públicas nesse sentido.
(Adaptado da Gazeta do Povo, 13/04/2016)
Mantendo-se o sentido original do texto, o objeto direto da frase abaixo é transformado CORRETAMENTE em complemento nominal em:
“A população poderia favorecer os novos programas de governo.”
As boas lições do meu pai
Um dia, numa visita ao meu pai, notei que ele me olhava longamente, daquele jeito que fazia quando tinha uma questão na cabeça. E veio o comentário, “sua calça está rasgada.” Era o começo da tendência dos jeans detonados. “Sim, pai, está”, eu respondi. Naquela época eu já há muito tinha uma profissão e pagava minhas próprias contas. Ele me deu então aquele olhar apertado e o sorriso de canto de boca que eu conheço tanto. Era uma aprovação.
Me lembrei de quando tinha nove ou dez anos de idade e ia com ele para os botecos onde uma rodinha de homens tomava cerveja e todos falavam de política. A menina que prestava muita atenção na conversa ganhava aquele meio sorriso do pai. Alguns anos mais tarde bati o carro dele e trabalhei três meses seguidos para pagar a conta do conserto. A família criticava o pé pesado da jovem ao volante. Meu pai devolvia os comentários com aquele mesmo sorriso de ironia e um certo orgulho.
Minha profissão me levou a muitas viagens arriscadas. Guerras, desastres naturais, acidentes nucleares. Nunca ouvi de meu pai o tradicional “Mas minha filha, isso é muito perigoso!”, compreensível vindo de um homem da geração dele. Alguns amigos diziam que ele me criou para agir como um menino. Prefiro achar que ele me educou para que eu tivesse coragem de ser aquilo que eu quisesse.
Essa semana acompanhei com prazer a sequência de posts nas redes sociais com fotos de magistradas, atletas, astronautas, acompanhadas da hashtag #dresslikeawoman (vista-se como uma mulher). Meu pai, muito velhinho, já não consegue expressar com clareza as suas opiniões. Mas sei que em algum lugar ali ainda está acesa a chama de intelectual da esquerda que abominaria um presidente - qualquer que seja seu viés político - que se meta com a maneira como uma mulher deve se vestir.
Meu pai me ensinou, sem nunca ter dito uma palavra sobre isso, que conhecimento, seriedade e trabalho bem feito são bens que não têm gênero e que quem os acumula pode se vestir e se comportar da maneira que achar melhor. Homens e mulheres só devem satisfação a si mesmos e à coerência no caminho que escolheram.
Eu teria muito a dizer a um homem que tivesse a pretensão de criticar a maneira como uma mulher se veste. Mas meu pai me ensinou a não perder tempo com a vida dos outros. Esse texto é uma homenagem a ele. Meu pai. Agora com licença que preciso me vestir para o trabalho.
Padrão, Ana Paula. As boas lições do meu pai. Isto é, 2017. Disponível em: <https://istoe.com.br/as-boas-licoes-do-meu-pai/>. Acesso em: 20 de fev. 2019.