U2 faz show surpresa nas ruas de Nova York
Eram umas 4 da tarde de uma sexta-feira. Na saída da
redação encontro um amigo que me diz, enquanto olha o
celular: “Tem uma amiga dizendo que o U2 vai fazer um pocket
show surpresa no High Line.”
Virei pra ele, demorei uns segundos processando: “Como
assim?”
Ele disse que era isso mesmo. A amiga dele tinha uma
outra amiga que conhecia alguém que trabalha em uma
gravadora e que estava avisando que o U2 faria uma aparição
surpresa no meio da rua para tocar uma música. Nós dois não
acreditamos muito, mas, na dúvida, fomos para o lugar.
O show, segundo a amiga do amigo, ia ser às 5 da tarde.
Fazia um frio danado (4º C) e, perto das cinco, ainda não havia
nenhuma movimentação no lugar. Até que essa tal amiga do
meu amigo chegou e continuou garantindo que a informação
era quente, mas ninguém aparecia.
Naquela altura éramos em cinco pessoas: dois brasileiros,
um português, um argentino e a espanhola que tinha a amiga
informante. E só. Por isso eu duvidava bastante que os caras
fossem aparecer. Qual a chance de só nós cinco estarmos ali?
De só a gente ter ficado sabendo? Eu imaginava que em
poucos minutos haveria algumas dezenas de pessoas no lugar
ou não teria show nenhum. Mas nada. Ninguém. Muito menos
o U2.
Logo depois chegaram cinco caras. Um deles, segundo a
amiga bem informada, era o agente da banda. O cara devia ter
uns 30 anos, pinta de moleque. Outros dois seriam os
responsáveis por transmitir ao vivo, na internet, a
apresentação. Um tinha um telefone na mão e o outro uma iluminação, dessas bem amadoras, que na teoria seria a luz do
show.
Mais uma hora se passou e nada de U2. Então apareceu
um guarda do High Line (que é um parque urbano) e disse que
o lugar fecharia em 10 minutos. Aí a produção da banda partiu
para procurar outra locação. Desceram as escadas e andaram
de um lado para outro na rua com o celular e aquela luzinha
amadora. Decidiram ficar ali mesmo, embaixo da escada, ao
lado de um cone de sinalização e uma placa de trânsito.
Tudo absurdamente improvável e improvisado. Tudo
inacreditável. Tão absurdo como os carros pretos enormes que
começaram a chegar... Uns 8 ou 10. E então, o Bono. Ele
desceu primeiro e caminhou tranquilamente para o lugar. O
resto da banda veio junto e nós cinco fomos nos
aproximando… Foi quando resolvi gravar o vídeo, enquanto
eles se preparavam. Depois não consegui gravar mais nada e o
segundo vídeo que postei é da amiga do amigo. Parei em
frente ao U2, debaixo de um viaduto, numa calçada improvável,
e a banda tocou… E nós cinco, estupefatos, ficamos cara a
cara com Bono.
Outras pessoas começaram a parar, mas a rua 26, ali
naquele ponto, é meio parada, meio vazia, era noite e estava
frio. O que fez com que até o final da música e a saída da
banda tenha se formado um pequeno grupo de não mais que
25 pessoas, mas virtualmente havia uma multidão. Com o
celular (e sem a luz, que não serviu pra nada) a produção
transmitiu ao vivo a música. Nos dois dias seguintes o vídeo
seria visto por uns 3 milhões de pessoas… E esse número
deve continuar subindo.
Antes de ir embora, o Bono literalmente parou o trânsito
cantando no meio da rua. A voz inconfundível ganhando os
quarteirões barulhentos de Nova York que naquele momento
pareciam congelados. Nenhuma sirene, nenhum carro de
bombeiros, nenhuma buzina. Só depois que eles pararam de
tocar e voltaram para os carros o primeiro motorista voltou ao
estado normal de irritação dos motoristas nova-iorquinos e
buzinou. E a gente voltou à realidade.
Por Tiago Eltz – Texto extraído do portal G1