Questões da Prova CESGRANRIO - 2007 - TCE-RO - Analista de Sistemas
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É preciso voltar a gostar do Brasil
Muitos motivos se somaram, ao longo da nossa história,
para dificultar a tarefa de decifrar, mesmo imperfeitamente,
o enigma brasileiro. Já independentes, continuamos
a ser um animal muito estranho no zoológico das nações:
sociedade recente, produto da expansão européia, concebida
desde o início para servir ao mercado mundial, organizada
em torno de um escravismo prolongado e tardio, única
monarquia em um continente republicano, assentada
em uma extensa base territorial situada nos trópicos, com
um povo em processo de formação, sem um passado profundo
onde pudesse ancorar sua identidade. Que futuro
estaria reservado para uma nação assim?
Durante muito tempo, as tentativas feitas para compreender
esse enigma e constituir uma teoria do Brasil foram,
em larga medida, infrutíferas. Não sabíamos fazer
outra coisa senão copiar saberes da Europa (...) Enquanto
o Brasil se olhou no espelho europeu só pôde construir
uma imagem negativa e pessimista de si mesmo, ao constatar
sua óbvia condição não-européia.
Houve muitos esforços meritórios para superar esse
impasse. Porém, só na década de 1930, depois de mais
de cem anos de vida independente, começamos a puxar
consistentemente o fio da nossa própria meada. Devemos
ao conservador Gilberto Freyre, em 1934, com Casa-grande
& Senzala, uma revolucionária releitura do Brasil, visto
a partir do complexo do açúcar e à luz da moderna antropologia
cultural, disciplina que então apenas engatinhava.
(...) Freyre revirou tudo de ponta-cabeça, realizando um
tremendo resgate do papel civilizatório de negros e índios
dentro da formação social brasileira. (...)
A colonização do Brasil, ele diz, não foi obra do Estado
ou das demais instituições formais, todas aqui muito fracas.
Foi obra da família patriarcal, em torno da qual se
constituiu um modo de vida completo e específico. (...)
Nada escapa ao abrangente olhar investigativo do antropólogo:
comidas, lendas, roupas, cores, odores, festas,
canções, arquitetura, sexualidade, superstições, costumes,
ferramentas e técnicas, palavras e expressões de
linguagem. (...) Ela (a singularidade da experiência brasileira)
não se encontrava na política nem na economia, muito
menos nos feitos dos grandes homens. Encontrava-se na
cultura, obra coletiva de gerações anônimas. (...)
Devemos a Sérgio Buarque, apenas dois anos depois,
com Raízes do Brasil, um instigante ensaio - "clássico de
nascença", nas palavras de Antônio Cândido - que tentava
compreender como uma sociedade rural, de raízes ibéricas,
experimentaria o inevitável trânsito para a
modernidade urbana e "americana" do século 20. Ao contrário
do pernambucano Gilberto Freyre, o paulista Sérgio
Buarque não sentia nostalgia pelo Brasil agrário que estava
se desfazendo, mas tampouco acreditava na eficácia
das vias autoritárias, em voga na década de 1930, que
prometiam acelerar a modernização pelo alto. Observa o
tempo secular da história. Considera a modernização um
processo. Também busca a singularidade do processo
brasileiro, mas com olhar sociológico: somos uma sociedade
transplantada, mas nacional, com características
próprias. (...)
Anuncia que "a nossa revolução" está em marcha, com
a dissolução do complexo ibérico de base rural e a emergência
de um novo ator decisivo, as massas urbanas.
Crescentemente numerosas, libertadas da tutela dos senhores
locais, elas não mais seriam demandantes de favores,
mas de direitos. No lugar da comunidade doméstica,
patriarcal e privada, seríamos enfim levados a fundar a
comunidade política, de modo a transformar, ao nosso
modo, o homem cordial em cidadão.
O esforço desses pensadores deixou pontos de partida
muito valiosos, mesmo que tenham descrito um país
que, em parte, deixou de existir. O Brasil de Gilberto Freyre
girava em torno da família extensa da casa-grande, um
espaço integrador dentro da monumental desigualdade; o
de Sérgio Buarque apenas iniciava a aventura de uma urbanização
que prometia associar-se a modernidade e cidadania.
BENJAMIN, César. Revista Caros Amigos.
Ano X, no 111. jun. 2006. (adaptado)
É preciso voltar a gostar do Brasil
Muitos motivos se somaram, ao longo da nossa história,
para dificultar a tarefa de decifrar, mesmo imperfeitamente,
o enigma brasileiro. Já independentes, continuamos
a ser um animal muito estranho no zoológico das nações:
sociedade recente, produto da expansão européia, concebida
desde o início para servir ao mercado mundial, organizada
em torno de um escravismo prolongado e tardio, única
monarquia em um continente republicano, assentada
em uma extensa base territorial situada nos trópicos, com
um povo em processo de formação, sem um passado profundo
onde pudesse ancorar sua identidade. Que futuro
estaria reservado para uma nação assim?
Durante muito tempo, as tentativas feitas para compreender
esse enigma e constituir uma teoria do Brasil foram,
em larga medida, infrutíferas. Não sabíamos fazer
outra coisa senão copiar saberes da Europa (...) Enquanto
o Brasil se olhou no espelho europeu só pôde construir
uma imagem negativa e pessimista de si mesmo, ao constatar
sua óbvia condição não-européia.
Houve muitos esforços meritórios para superar esse
impasse. Porém, só na década de 1930, depois de mais
de cem anos de vida independente, começamos a puxar
consistentemente o fio da nossa própria meada. Devemos
ao conservador Gilberto Freyre, em 1934, com Casa-grande
& Senzala, uma revolucionária releitura do Brasil, visto
a partir do complexo do açúcar e à luz da moderna antropologia
cultural, disciplina que então apenas engatinhava.
(...) Freyre revirou tudo de ponta-cabeça, realizando um
tremendo resgate do papel civilizatório de negros e índios
dentro da formação social brasileira. (...)
A colonização do Brasil, ele diz, não foi obra do Estado
ou das demais instituições formais, todas aqui muito fracas.
Foi obra da família patriarcal, em torno da qual se
constituiu um modo de vida completo e específico. (...)
Nada escapa ao abrangente olhar investigativo do antropólogo:
comidas, lendas, roupas, cores, odores, festas,
canções, arquitetura, sexualidade, superstições, costumes,
ferramentas e técnicas, palavras e expressões de
linguagem. (...) Ela (a singularidade da experiência brasileira)
não se encontrava na política nem na economia, muito
menos nos feitos dos grandes homens. Encontrava-se na
cultura, obra coletiva de gerações anônimas. (...)
Devemos a Sérgio Buarque, apenas dois anos depois,
com Raízes do Brasil, um instigante ensaio - "clássico de
nascença", nas palavras de Antônio Cândido - que tentava
compreender como uma sociedade rural, de raízes ibéricas,
experimentaria o inevitável trânsito para a
modernidade urbana e "americana" do século 20. Ao contrário
do pernambucano Gilberto Freyre, o paulista Sérgio
Buarque não sentia nostalgia pelo Brasil agrário que estava
se desfazendo, mas tampouco acreditava na eficácia
das vias autoritárias, em voga na década de 1930, que
prometiam acelerar a modernização pelo alto. Observa o
tempo secular da história. Considera a modernização um
processo. Também busca a singularidade do processo
brasileiro, mas com olhar sociológico: somos uma sociedade
transplantada, mas nacional, com características
próprias. (...)
Anuncia que "a nossa revolução" está em marcha, com
a dissolução do complexo ibérico de base rural e a emergência
de um novo ator decisivo, as massas urbanas.
Crescentemente numerosas, libertadas da tutela dos senhores
locais, elas não mais seriam demandantes de favores,
mas de direitos. No lugar da comunidade doméstica,
patriarcal e privada, seríamos enfim levados a fundar a
comunidade política, de modo a transformar, ao nosso
modo, o homem cordial em cidadão.
O esforço desses pensadores deixou pontos de partida
muito valiosos, mesmo que tenham descrito um país
que, em parte, deixou de existir. O Brasil de Gilberto Freyre
girava em torno da família extensa da casa-grande, um
espaço integrador dentro da monumental desigualdade; o
de Sérgio Buarque apenas iniciava a aventura de uma urbanização
que prometia associar-se a modernidade e cidadania.
BENJAMIN, César. Revista Caros Amigos.
Ano X, no 111. jun. 2006. (adaptado)
É preciso voltar a gostar do Brasil
Muitos motivos se somaram, ao longo da nossa história,
para dificultar a tarefa de decifrar, mesmo imperfeitamente,
o enigma brasileiro. Já independentes, continuamos
a ser um animal muito estranho no zoológico das nações:
sociedade recente, produto da expansão européia, concebida
desde o início para servir ao mercado mundial, organizada
em torno de um escravismo prolongado e tardio, única
monarquia em um continente republicano, assentada
em uma extensa base territorial situada nos trópicos, com
um povo em processo de formação, sem um passado profundo
onde pudesse ancorar sua identidade. Que futuro
estaria reservado para uma nação assim?
Durante muito tempo, as tentativas feitas para compreender
esse enigma e constituir uma teoria do Brasil foram,
em larga medida, infrutíferas. Não sabíamos fazer
outra coisa senão copiar saberes da Europa (...) Enquanto
o Brasil se olhou no espelho europeu só pôde construir
uma imagem negativa e pessimista de si mesmo, ao constatar
sua óbvia condição não-européia.
Houve muitos esforços meritórios para superar esse
impasse. Porém, só na década de 1930, depois de mais
de cem anos de vida independente, começamos a puxar
consistentemente o fio da nossa própria meada. Devemos
ao conservador Gilberto Freyre, em 1934, com Casa-grande
& Senzala, uma revolucionária releitura do Brasil, visto
a partir do complexo do açúcar e à luz da moderna antropologia
cultural, disciplina que então apenas engatinhava.
(...) Freyre revirou tudo de ponta-cabeça, realizando um
tremendo resgate do papel civilizatório de negros e índios
dentro da formação social brasileira. (...)
A colonização do Brasil, ele diz, não foi obra do Estado
ou das demais instituições formais, todas aqui muito fracas.
Foi obra da família patriarcal, em torno da qual se
constituiu um modo de vida completo e específico. (...)
Nada escapa ao abrangente olhar investigativo do antropólogo:
comidas, lendas, roupas, cores, odores, festas,
canções, arquitetura, sexualidade, superstições, costumes,
ferramentas e técnicas, palavras e expressões de
linguagem. (...) Ela (a singularidade da experiência brasileira)
não se encontrava na política nem na economia, muito
menos nos feitos dos grandes homens. Encontrava-se na
cultura, obra coletiva de gerações anônimas. (...)
Devemos a Sérgio Buarque, apenas dois anos depois,
com Raízes do Brasil, um instigante ensaio - "clássico de
nascença", nas palavras de Antônio Cândido - que tentava
compreender como uma sociedade rural, de raízes ibéricas,
experimentaria o inevitável trânsito para a
modernidade urbana e "americana" do século 20. Ao contrário
do pernambucano Gilberto Freyre, o paulista Sérgio
Buarque não sentia nostalgia pelo Brasil agrário que estava
se desfazendo, mas tampouco acreditava na eficácia
das vias autoritárias, em voga na década de 1930, que
prometiam acelerar a modernização pelo alto. Observa o
tempo secular da história. Considera a modernização um
processo. Também busca a singularidade do processo
brasileiro, mas com olhar sociológico: somos uma sociedade
transplantada, mas nacional, com características
próprias. (...)
Anuncia que "a nossa revolução" está em marcha, com
a dissolução do complexo ibérico de base rural e a emergência
de um novo ator decisivo, as massas urbanas.
Crescentemente numerosas, libertadas da tutela dos senhores
locais, elas não mais seriam demandantes de favores,
mas de direitos. No lugar da comunidade doméstica,
patriarcal e privada, seríamos enfim levados a fundar a
comunidade política, de modo a transformar, ao nosso
modo, o homem cordial em cidadão.
O esforço desses pensadores deixou pontos de partida
muito valiosos, mesmo que tenham descrito um país
que, em parte, deixou de existir. O Brasil de Gilberto Freyre
girava em torno da família extensa da casa-grande, um
espaço integrador dentro da monumental desigualdade; o
de Sérgio Buarque apenas iniciava a aventura de uma urbanização
que prometia associar-se a modernidade e cidadania.
BENJAMIN, César. Revista Caros Amigos.
Ano X, no 111. jun. 2006. (adaptado)
É preciso voltar a gostar do Brasil
Muitos motivos se somaram, ao longo da nossa história,
para dificultar a tarefa de decifrar, mesmo imperfeitamente,
o enigma brasileiro. Já independentes, continuamos
a ser um animal muito estranho no zoológico das nações:
sociedade recente, produto da expansão européia, concebida
desde o início para servir ao mercado mundial, organizada
em torno de um escravismo prolongado e tardio, única
monarquia em um continente republicano, assentada
em uma extensa base territorial situada nos trópicos, com
um povo em processo de formação, sem um passado profundo
onde pudesse ancorar sua identidade. Que futuro
estaria reservado para uma nação assim?
Durante muito tempo, as tentativas feitas para compreender
esse enigma e constituir uma teoria do Brasil foram,
em larga medida, infrutíferas. Não sabíamos fazer
outra coisa senão copiar saberes da Europa (...) Enquanto
o Brasil se olhou no espelho europeu só pôde construir
uma imagem negativa e pessimista de si mesmo, ao constatar
sua óbvia condição não-européia.
Houve muitos esforços meritórios para superar esse
impasse. Porém, só na década de 1930, depois de mais
de cem anos de vida independente, começamos a puxar
consistentemente o fio da nossa própria meada. Devemos
ao conservador Gilberto Freyre, em 1934, com Casa-grande
& Senzala, uma revolucionária releitura do Brasil, visto
a partir do complexo do açúcar e à luz da moderna antropologia
cultural, disciplina que então apenas engatinhava.
(...) Freyre revirou tudo de ponta-cabeça, realizando um
tremendo resgate do papel civilizatório de negros e índios
dentro da formação social brasileira. (...)
A colonização do Brasil, ele diz, não foi obra do Estado
ou das demais instituições formais, todas aqui muito fracas.
Foi obra da família patriarcal, em torno da qual se
constituiu um modo de vida completo e específico. (...)
Nada escapa ao abrangente olhar investigativo do antropólogo:
comidas, lendas, roupas, cores, odores, festas,
canções, arquitetura, sexualidade, superstições, costumes,
ferramentas e técnicas, palavras e expressões de
linguagem. (...) Ela (a singularidade da experiência brasileira)
não se encontrava na política nem na economia, muito
menos nos feitos dos grandes homens. Encontrava-se na
cultura, obra coletiva de gerações anônimas. (...)
Devemos a Sérgio Buarque, apenas dois anos depois,
com Raízes do Brasil, um instigante ensaio - "clássico de
nascença", nas palavras de Antônio Cândido - que tentava
compreender como uma sociedade rural, de raízes ibéricas,
experimentaria o inevitável trânsito para a
modernidade urbana e "americana" do século 20. Ao contrário
do pernambucano Gilberto Freyre, o paulista Sérgio
Buarque não sentia nostalgia pelo Brasil agrário que estava
se desfazendo, mas tampouco acreditava na eficácia
das vias autoritárias, em voga na década de 1930, que
prometiam acelerar a modernização pelo alto. Observa o
tempo secular da história. Considera a modernização um
processo. Também busca a singularidade do processo
brasileiro, mas com olhar sociológico: somos uma sociedade
transplantada, mas nacional, com características
próprias. (...)
Anuncia que "a nossa revolução" está em marcha, com
a dissolução do complexo ibérico de base rural e a emergência
de um novo ator decisivo, as massas urbanas.
Crescentemente numerosas, libertadas da tutela dos senhores
locais, elas não mais seriam demandantes de favores,
mas de direitos. No lugar da comunidade doméstica,
patriarcal e privada, seríamos enfim levados a fundar a
comunidade política, de modo a transformar, ao nosso
modo, o homem cordial em cidadão.
O esforço desses pensadores deixou pontos de partida
muito valiosos, mesmo que tenham descrito um país
que, em parte, deixou de existir. O Brasil de Gilberto Freyre
girava em torno da família extensa da casa-grande, um
espaço integrador dentro da monumental desigualdade; o
de Sérgio Buarque apenas iniciava a aventura de uma urbanização
que prometia associar-se a modernidade e cidadania.
BENJAMIN, César. Revista Caros Amigos.
Ano X, no 111. jun. 2006. (adaptado)
É preciso voltar a gostar do Brasil
Muitos motivos se somaram, ao longo da nossa história,
para dificultar a tarefa de decifrar, mesmo imperfeitamente,
o enigma brasileiro. Já independentes, continuamos
a ser um animal muito estranho no zoológico das nações:
sociedade recente, produto da expansão européia, concebida
desde o início para servir ao mercado mundial, organizada
em torno de um escravismo prolongado e tardio, única
monarquia em um continente republicano, assentada
em uma extensa base territorial situada nos trópicos, com
um povo em processo de formação, sem um passado profundo
onde pudesse ancorar sua identidade. Que futuro
estaria reservado para uma nação assim?
Durante muito tempo, as tentativas feitas para compreender
esse enigma e constituir uma teoria do Brasil foram,
em larga medida, infrutíferas. Não sabíamos fazer
outra coisa senão copiar saberes da Europa (...) Enquanto
o Brasil se olhou no espelho europeu só pôde construir
uma imagem negativa e pessimista de si mesmo, ao constatar
sua óbvia condição não-européia.
Houve muitos esforços meritórios para superar esse
impasse. Porém, só na década de 1930, depois de mais
de cem anos de vida independente, começamos a puxar
consistentemente o fio da nossa própria meada. Devemos
ao conservador Gilberto Freyre, em 1934, com Casa-grande
& Senzala, uma revolucionária releitura do Brasil, visto
a partir do complexo do açúcar e à luz da moderna antropologia
cultural, disciplina que então apenas engatinhava.
(...) Freyre revirou tudo de ponta-cabeça, realizando um
tremendo resgate do papel civilizatório de negros e índios
dentro da formação social brasileira. (...)
A colonização do Brasil, ele diz, não foi obra do Estado
ou das demais instituições formais, todas aqui muito fracas.
Foi obra da família patriarcal, em torno da qual se
constituiu um modo de vida completo e específico. (...)
Nada escapa ao abrangente olhar investigativo do antropólogo:
comidas, lendas, roupas, cores, odores, festas,
canções, arquitetura, sexualidade, superstições, costumes,
ferramentas e técnicas, palavras e expressões de
linguagem. (...) Ela (a singularidade da experiência brasileira)
não se encontrava na política nem na economia, muito
menos nos feitos dos grandes homens. Encontrava-se na
cultura, obra coletiva de gerações anônimas. (...)
Devemos a Sérgio Buarque, apenas dois anos depois,
com Raízes do Brasil, um instigante ensaio - "clássico de
nascença", nas palavras de Antônio Cândido - que tentava
compreender como uma sociedade rural, de raízes ibéricas,
experimentaria o inevitável trânsito para a
modernidade urbana e "americana" do século 20. Ao contrário
do pernambucano Gilberto Freyre, o paulista Sérgio
Buarque não sentia nostalgia pelo Brasil agrário que estava
se desfazendo, mas tampouco acreditava na eficácia
das vias autoritárias, em voga na década de 1930, que
prometiam acelerar a modernização pelo alto. Observa o
tempo secular da história. Considera a modernização um
processo. Também busca a singularidade do processo
brasileiro, mas com olhar sociológico: somos uma sociedade
transplantada, mas nacional, com características
próprias. (...)
Anuncia que "a nossa revolução" está em marcha, com
a dissolução do complexo ibérico de base rural e a emergência
de um novo ator decisivo, as massas urbanas.
Crescentemente numerosas, libertadas da tutela dos senhores
locais, elas não mais seriam demandantes de favores,
mas de direitos. No lugar da comunidade doméstica,
patriarcal e privada, seríamos enfim levados a fundar a
comunidade política, de modo a transformar, ao nosso
modo, o homem cordial em cidadão.
O esforço desses pensadores deixou pontos de partida
muito valiosos, mesmo que tenham descrito um país
que, em parte, deixou de existir. O Brasil de Gilberto Freyre
girava em torno da família extensa da casa-grande, um
espaço integrador dentro da monumental desigualdade; o
de Sérgio Buarque apenas iniciava a aventura de uma urbanização
que prometia associar-se a modernidade e cidadania.
BENJAMIN, César. Revista Caros Amigos.
Ano X, no 111. jun. 2006. (adaptado)