TEXTO I
Unha-de-Fome
Depois duma vida de misérias e privações Unha-deFome conseguiu amontoar um tesouro, que enterrou longe de
casa, num lugar ermo, colocando uma grande pedra em cima. Mas
tal era o seu amor pelo dinheiro, que volta e meia rondava a pedra,
e namorava como o jacaré namora os seus próprios ovos ocultos
na areia. Isto atraiu a atenção dum vizinho, que o espionou e, por
fim, roubou-lhe o tesouro.
Quando Unha-de-Fome deu pelo saque, rolou por terra
desesperado, arrepelando os cabelos.
– Meu tesouro! Minha alma! Roubaram minha alma! Um
viajante que passava foi atraído pelos berros.
– Que é isso, homem?
– Meu tesouro! Roubaram meu tesouro!
– Mas morando lá longe você o guardava aqui, então?
Que tolice! Se o conservasse em casa não seria mais cômodo
para gastar dele quando fosse preciso?
– Gastar do meu tesouro!? Então você supõe que eu teria
a coragem de gastar uma moedinha só, das menores que fosse?
– Pois se era assim, o tesouro não tinha para você a
menor utilidade, e tanto faz que esteja com quem o roubou como
enterrado aqui. Vamos! Ponha no buraco vazio uma pedra, que
dá no mesmo. Que utilidade tem o dinheiro para quem só o guarda
e não gasta?
Disponível em https://www.refletirpararefletir.com.br/fabulas-com-moral. Acesso
em 19/04/2019.