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Q2732393 Português

Cachorro encurralado não salta



1 Com certeza você já ouviu gente reclamar que os estudantes de hoje são muito mimados, desfiando

2 frases como “No meu tempo, a gente podia zoar os amigos. Hoje tudo é bullying”. É assim mesmo: desde

3 a Idade da Pedra toda geração acha que seus descendentes pioraram. Consigo imaginar um neandertal

4 grunhindo: “Esses moleques de hoje não aguentam mais nada. No meu tempo, a gente não tinha fogueira

5 quentinha. Não havia essa história de bater pedrinha uma na outra – tinha que andar na floresta até achar

6 uma árvore atingida por um raio. Desse jeito, daqui a pouco nem pelo a humanidade vai ter”.

7 Todo termo que ganha popularidade perde seu significado original, e isso pode muito bem ter

8 acontecido com o bullying. Sim, não é toda zoeira que é bullying. Mas se nem toda brincadeira pode ser

9 condenada, isso não faz com que o bullying não exista. Existe, e há bastante tempo.

10 Em 1958, os britânicos resolveram acompanhar o desenvolvimento de todas as crianças nascidas

11 numa determinada semana daquele ano. Reuniram, assim, dados sobre quase 18 mil bebês, e passaram

12 a avaliá-los de tempos em tempos durante 50 anos. Descobriram que, já na década de 1960, era alta a

13 incidência de violência na escola – coisas mais graves do que uma piada ou brincadeira. Quase um terço

14 dos alunos passava por isso ocasionalmente, e 15% com frequência. É o povo da geração que diz: “Na

15 minha época, não existia esse negócio de bullying”. Imagina se existisse. Não é surpresa para ninguém

16 que, na vida adulta, as pessoas que passaram por tais problemas têm pior qualidade de vida e muito mais

17 chance de desenvolver depressão, por exemplo. O dobro de chance, para ser preciso.

18 Mais ou menos na mesma época, nos anos 1960, do outro lado do Atlântico, um pesquisador

19 chamado Martin Seligman, interessado nos mecanismos que levam à depressão, criava um experimento

20 que se tornaria clássico. Ele e seus colegas reuniram um grupo de cães e os colocaram em três tipos de

21 gaiolas diferentes. O grupo 1 ficava lá por um tempo e, depois, era retirado. A gaiola do grupo 2 tinha o

22 chão eletrificado, para dar choques inesperados. Contudo, diante dos cães havia uma alavanca que parava

23 os choques. E o desafortunado grupo 3 também estava num chão eletrificado, mas ele era pareado com a

24 gaiola do grupo 2. Ou seja, os cães deste grupo não tinham como parar os próprios choques. Eles recebiam

25 a mesma intensidade que seus parceiros do grupo 2 (pois, quando esses desligavam a eletricidade, todos

26 os choques cessavam), mas, como não sabiam dessa artimanha da alavanca, para eles tanto o início

27 quanto o fim pareciam aleatórios.

28 Uma vez condicionados dessa maneira, os cachorros foram transferidos para outra gaiola, dividida

29 em duas partes – um lado com chão eletrificado e outro não. Os dois lados eram separados por uma

30 barreira baixa; quando os cães dos grupos 1 e 2 eram colocados ali, rapidamente aprendiam a pular de

31 um lado para o outro para escapar dos choques. A maioria dos cães do grupo 3, por sua vez, nem pensava

32 em saltar. Haviam aprendido que não havia esperança, afinal. Seligman cunhou, então, o termo learned

33 helplessness, ou desamparo aprendido.

34 O que acontece no bullying (de verdade) é parecido com isso. As crianças sentem-se totalmente

35 cercadas, submetidas a situações muito hostis – que lhes parecem inevitáveis –, e com o tempo

36 desenvolvem a mesma sensação de desamparo. Para elas, é impossível fazer qualquer coisa para cessar

37 aquele sofrimento. Não é de estranhar que se tornem adultos deprimidos.

38 Se a história nos ensinou algo, é que há coisas que não aprendemos com a história. Não acho que

39 algum dia as gerações mais velhas deixarão de criticar as mais novas. Até aí, tudo bem. Mas, pelo menos

40 no que se refere ao bullying, não devemos menosprezar as queixas da garotada.


Daniel Barros – Revista Galileu, edição 319, fev. 2018.

Pode-se concluir da leitura do texto que


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Q2732391 Português

Cachorro encurralado não salta



1 Com certeza você já ouviu gente reclamar que os estudantes de hoje são muito mimados, desfiando

2 frases como “No meu tempo, a gente podia zoar os amigos. Hoje tudo é bullying”. É assim mesmo: desde

3 a Idade da Pedra toda geração acha que seus descendentes pioraram. Consigo imaginar um neandertal

4 grunhindo: “Esses moleques de hoje não aguentam mais nada. No meu tempo, a gente não tinha fogueira

5 quentinha. Não havia essa história de bater pedrinha uma na outra – tinha que andar na floresta até achar

6 uma árvore atingida por um raio. Desse jeito, daqui a pouco nem pelo a humanidade vai ter”.

7 Todo termo que ganha popularidade perde seu significado original, e isso pode muito bem ter

8 acontecido com o bullying. Sim, não é toda zoeira que é bullying. Mas se nem toda brincadeira pode ser

9 condenada, isso não faz com que o bullying não exista. Existe, e há bastante tempo.

10 Em 1958, os britânicos resolveram acompanhar o desenvolvimento de todas as crianças nascidas

11 numa determinada semana daquele ano. Reuniram, assim, dados sobre quase 18 mil bebês, e passaram

12 a avaliá-los de tempos em tempos durante 50 anos. Descobriram que, já na década de 1960, era alta a

13 incidência de violência na escola – coisas mais graves do que uma piada ou brincadeira. Quase um terço

14 dos alunos passava por isso ocasionalmente, e 15% com frequência. É o povo da geração que diz: “Na

15 minha época, não existia esse negócio de bullying”. Imagina se existisse. Não é surpresa para ninguém

16 que, na vida adulta, as pessoas que passaram por tais problemas têm pior qualidade de vida e muito mais

17 chance de desenvolver depressão, por exemplo. O dobro de chance, para ser preciso.

18 Mais ou menos na mesma época, nos anos 1960, do outro lado do Atlântico, um pesquisador

19 chamado Martin Seligman, interessado nos mecanismos que levam à depressão, criava um experimento

20 que se tornaria clássico. Ele e seus colegas reuniram um grupo de cães e os colocaram em três tipos de

21 gaiolas diferentes. O grupo 1 ficava lá por um tempo e, depois, era retirado. A gaiola do grupo 2 tinha o

22 chão eletrificado, para dar choques inesperados. Contudo, diante dos cães havia uma alavanca que parava

23 os choques. E o desafortunado grupo 3 também estava num chão eletrificado, mas ele era pareado com a

24 gaiola do grupo 2. Ou seja, os cães deste grupo não tinham como parar os próprios choques. Eles recebiam

25 a mesma intensidade que seus parceiros do grupo 2 (pois, quando esses desligavam a eletricidade, todos

26 os choques cessavam), mas, como não sabiam dessa artimanha da alavanca, para eles tanto o início

27 quanto o fim pareciam aleatórios.

28 Uma vez condicionados dessa maneira, os cachorros foram transferidos para outra gaiola, dividida

29 em duas partes – um lado com chão eletrificado e outro não. Os dois lados eram separados por uma

30 barreira baixa; quando os cães dos grupos 1 e 2 eram colocados ali, rapidamente aprendiam a pular de

31 um lado para o outro para escapar dos choques. A maioria dos cães do grupo 3, por sua vez, nem pensava

32 em saltar. Haviam aprendido que não havia esperança, afinal. Seligman cunhou, então, o termo learned

33 helplessness, ou desamparo aprendido.

34 O que acontece no bullying (de verdade) é parecido com isso. As crianças sentem-se totalmente

35 cercadas, submetidas a situações muito hostis – que lhes parecem inevitáveis –, e com o tempo

36 desenvolvem a mesma sensação de desamparo. Para elas, é impossível fazer qualquer coisa para cessar

37 aquele sofrimento. Não é de estranhar que se tornem adultos deprimidos.

38 Se a história nos ensinou algo, é que há coisas que não aprendemos com a história. Não acho que

39 algum dia as gerações mais velhas deixarão de criticar as mais novas. Até aí, tudo bem. Mas, pelo menos

40 no que se refere ao bullying, não devemos menosprezar as queixas da garotada.


Daniel Barros – Revista Galileu, edição 319, fev. 2018.

No trecho “A gaiola do grupo 2 tinha o chão eletrificado, para dar choques inesperados” (linhas 21 e 22), a preposição para confere à oração que ela encabeça o sentido de

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Q2732389 Português

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1 Com certeza você já ouviu gente reclamar que os estudantes de hoje são muito mimados, desfiando

2 frases como “No meu tempo, a gente podia zoar os amigos. Hoje tudo é bullying”. É assim mesmo: desde

3 a Idade da Pedra toda geração acha que seus descendentes pioraram. Consigo imaginar um neandertal

4 grunhindo: “Esses moleques de hoje não aguentam mais nada. No meu tempo, a gente não tinha fogueira

5 quentinha. Não havia essa história de bater pedrinha uma na outra – tinha que andar na floresta até achar

6 uma árvore atingida por um raio. Desse jeito, daqui a pouco nem pelo a humanidade vai ter”.

7 Todo termo que ganha popularidade perde seu significado original, e isso pode muito bem ter

8 acontecido com o bullying. Sim, não é toda zoeira que é bullying. Mas se nem toda brincadeira pode ser

9 condenada, isso não faz com que o bullying não exista. Existe, e há bastante tempo.

10 Em 1958, os britânicos resolveram acompanhar o desenvolvimento de todas as crianças nascidas

11 numa determinada semana daquele ano. Reuniram, assim, dados sobre quase 18 mil bebês, e passaram

12 a avaliá-los de tempos em tempos durante 50 anos. Descobriram que, já na década de 1960, era alta a

13 incidência de violência na escola – coisas mais graves do que uma piada ou brincadeira. Quase um terço

14 dos alunos passava por isso ocasionalmente, e 15% com frequência. É o povo da geração que diz: “Na

15 minha época, não existia esse negócio de bullying”. Imagina se existisse. Não é surpresa para ninguém

16 que, na vida adulta, as pessoas que passaram por tais problemas têm pior qualidade de vida e muito mais

17 chance de desenvolver depressão, por exemplo. O dobro de chance, para ser preciso.

18 Mais ou menos na mesma época, nos anos 1960, do outro lado do Atlântico, um pesquisador

19 chamado Martin Seligman, interessado nos mecanismos que levam à depressão, criava um experimento

20 que se tornaria clássico. Ele e seus colegas reuniram um grupo de cães e os colocaram em três tipos de

21 gaiolas diferentes. O grupo 1 ficava lá por um tempo e, depois, era retirado. A gaiola do grupo 2 tinha o

22 chão eletrificado, para dar choques inesperados. Contudo, diante dos cães havia uma alavanca que parava

23 os choques. E o desafortunado grupo 3 também estava num chão eletrificado, mas ele era pareado com a

24 gaiola do grupo 2. Ou seja, os cães deste grupo não tinham como parar os próprios choques. Eles recebiam

25 a mesma intensidade que seus parceiros do grupo 2 (pois, quando esses desligavam a eletricidade, todos

26 os choques cessavam), mas, como não sabiam dessa artimanha da alavanca, para eles tanto o início

27 quanto o fim pareciam aleatórios.

28 Uma vez condicionados dessa maneira, os cachorros foram transferidos para outra gaiola, dividida

29 em duas partes – um lado com chão eletrificado e outro não. Os dois lados eram separados por uma

30 barreira baixa; quando os cães dos grupos 1 e 2 eram colocados ali, rapidamente aprendiam a pular de

31 um lado para o outro para escapar dos choques. A maioria dos cães do grupo 3, por sua vez, nem pensava

32 em saltar. Haviam aprendido que não havia esperança, afinal. Seligman cunhou, então, o termo learned

33 helplessness, ou desamparo aprendido.

34 O que acontece no bullying (de verdade) é parecido com isso. As crianças sentem-se totalmente

35 cercadas, submetidas a situações muito hostis – que lhes parecem inevitáveis –, e com o tempo

36 desenvolvem a mesma sensação de desamparo. Para elas, é impossível fazer qualquer coisa para cessar

37 aquele sofrimento. Não é de estranhar que se tornem adultos deprimidos.

38 Se a história nos ensinou algo, é que há coisas que não aprendemos com a história. Não acho que

39 algum dia as gerações mais velhas deixarão de criticar as mais novas. Até aí, tudo bem. Mas, pelo menos

40 no que se refere ao bullying, não devemos menosprezar as queixas da garotada.


Daniel Barros – Revista Galileu, edição 319, fev. 2018.

Nos trechos “Quase um terço dos alunos passava por isso ocasionalmente” (linhas 13 e 14) e “O que acontece no bullying (de verdade) é parecido com isso” (linha 34), o pronome isso se refere, respectivamente, a


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1 Com certeza você já ouviu gente reclamar que os estudantes de hoje são muito mimados, desfiando

2 frases como “No meu tempo, a gente podia zoar os amigos. Hoje tudo é bullying”. É assim mesmo: desde

3 a Idade da Pedra toda geração acha que seus descendentes pioraram. Consigo imaginar um neandertal

4 grunhindo: “Esses moleques de hoje não aguentam mais nada. No meu tempo, a gente não tinha fogueira

5 quentinha. Não havia essa história de bater pedrinha uma na outra – tinha que andar na floresta até achar

6 uma árvore atingida por um raio. Desse jeito, daqui a pouco nem pelo a humanidade vai ter”.

7 Todo termo que ganha popularidade perde seu significado original, e isso pode muito bem ter

8 acontecido com o bullying. Sim, não é toda zoeira que é bullying. Mas se nem toda brincadeira pode ser

9 condenada, isso não faz com que o bullying não exista. Existe, e há bastante tempo.

10 Em 1958, os britânicos resolveram acompanhar o desenvolvimento de todas as crianças nascidas

11 numa determinada semana daquele ano. Reuniram, assim, dados sobre quase 18 mil bebês, e passaram

12 a avaliá-los de tempos em tempos durante 50 anos. Descobriram que, já na década de 1960, era alta a

13 incidência de violência na escola – coisas mais graves do que uma piada ou brincadeira. Quase um terço

14 dos alunos passava por isso ocasionalmente, e 15% com frequência. É o povo da geração que diz: “Na

15 minha época, não existia esse negócio de bullying”. Imagina se existisse. Não é surpresa para ninguém

16 que, na vida adulta, as pessoas que passaram por tais problemas têm pior qualidade de vida e muito mais

17 chance de desenvolver depressão, por exemplo. O dobro de chance, para ser preciso.

18 Mais ou menos na mesma época, nos anos 1960, do outro lado do Atlântico, um pesquisador

19 chamado Martin Seligman, interessado nos mecanismos que levam à depressão, criava um experimento

20 que se tornaria clássico. Ele e seus colegas reuniram um grupo de cães e os colocaram em três tipos de

21 gaiolas diferentes. O grupo 1 ficava lá por um tempo e, depois, era retirado. A gaiola do grupo 2 tinha o

22 chão eletrificado, para dar choques inesperados. Contudo, diante dos cães havia uma alavanca que parava

23 os choques. E o desafortunado grupo 3 também estava num chão eletrificado, mas ele era pareado com a

24 gaiola do grupo 2. Ou seja, os cães deste grupo não tinham como parar os próprios choques. Eles recebiam

25 a mesma intensidade que seus parceiros do grupo 2 (pois, quando esses desligavam a eletricidade, todos

26 os choques cessavam), mas, como não sabiam dessa artimanha da alavanca, para eles tanto o início

27 quanto o fim pareciam aleatórios.

28 Uma vez condicionados dessa maneira, os cachorros foram transferidos para outra gaiola, dividida

29 em duas partes – um lado com chão eletrificado e outro não. Os dois lados eram separados por uma

30 barreira baixa; quando os cães dos grupos 1 e 2 eram colocados ali, rapidamente aprendiam a pular de

31 um lado para o outro para escapar dos choques. A maioria dos cães do grupo 3, por sua vez, nem pensava

32 em saltar. Haviam aprendido que não havia esperança, afinal. Seligman cunhou, então, o termo learned

33 helplessness, ou desamparo aprendido.

34 O que acontece no bullying (de verdade) é parecido com isso. As crianças sentem-se totalmente

35 cercadas, submetidas a situações muito hostis – que lhes parecem inevitáveis –, e com o tempo

36 desenvolvem a mesma sensação de desamparo. Para elas, é impossível fazer qualquer coisa para cessar

37 aquele sofrimento. Não é de estranhar que se tornem adultos deprimidos.

38 Se a história nos ensinou algo, é que há coisas que não aprendemos com a história. Não acho que

39 algum dia as gerações mais velhas deixarão de criticar as mais novas. Até aí, tudo bem. Mas, pelo menos

40 no que se refere ao bullying, não devemos menosprezar as queixas da garotada.


Daniel Barros – Revista Galileu, edição 319, fev. 2018.

O pronome - los no trecho “...passaram a avaliá-los de tempos em tempos durante 50 anos.” (linhas 11 e 12) se refere a

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1 Com certeza você já ouviu gente reclamar que os estudantes de hoje são muito mimados, desfiando

2 frases como “No meu tempo, a gente podia zoar os amigos. Hoje tudo é bullying”. É assim mesmo: desde

3 a Idade da Pedra toda geração acha que seus descendentes pioraram. Consigo imaginar um neandertal

4 grunhindo: “Esses moleques de hoje não aguentam mais nada. No meu tempo, a gente não tinha fogueira

5 quentinha. Não havia essa história de bater pedrinha uma na outra – tinha que andar na floresta até achar

6 uma árvore atingida por um raio. Desse jeito, daqui a pouco nem pelo a humanidade vai ter”.

7 Todo termo que ganha popularidade perde seu significado original, e isso pode muito bem ter

8 acontecido com o bullying. Sim, não é toda zoeira que é bullying. Mas se nem toda brincadeira pode ser

9 condenada, isso não faz com que o bullying não exista. Existe, e há bastante tempo.

10 Em 1958, os britânicos resolveram acompanhar o desenvolvimento de todas as crianças nascidas

11 numa determinada semana daquele ano. Reuniram, assim, dados sobre quase 18 mil bebês, e passaram

12 a avaliá-los de tempos em tempos durante 50 anos. Descobriram que, já na década de 1960, era alta a

13 incidência de violência na escola – coisas mais graves do que uma piada ou brincadeira. Quase um terço

14 dos alunos passava por isso ocasionalmente, e 15% com frequência. É o povo da geração que diz: “Na

15 minha época, não existia esse negócio de bullying”. Imagina se existisse. Não é surpresa para ninguém

16 que, na vida adulta, as pessoas que passaram por tais problemas têm pior qualidade de vida e muito mais

17 chance de desenvolver depressão, por exemplo. O dobro de chance, para ser preciso.

18 Mais ou menos na mesma época, nos anos 1960, do outro lado do Atlântico, um pesquisador

19 chamado Martin Seligman, interessado nos mecanismos que levam à depressão, criava um experimento

20 que se tornaria clássico. Ele e seus colegas reuniram um grupo de cães e os colocaram em três tipos de

21 gaiolas diferentes. O grupo 1 ficava lá por um tempo e, depois, era retirado. A gaiola do grupo 2 tinha o

22 chão eletrificado, para dar choques inesperados. Contudo, diante dos cães havia uma alavanca que parava

23 os choques. E o desafortunado grupo 3 também estava num chão eletrificado, mas ele era pareado com a

24 gaiola do grupo 2. Ou seja, os cães deste grupo não tinham como parar os próprios choques. Eles recebiam

25 a mesma intensidade que seus parceiros do grupo 2 (pois, quando esses desligavam a eletricidade, todos

26 os choques cessavam), mas, como não sabiam dessa artimanha da alavanca, para eles tanto o início

27 quanto o fim pareciam aleatórios.

28 Uma vez condicionados dessa maneira, os cachorros foram transferidos para outra gaiola, dividida

29 em duas partes – um lado com chão eletrificado e outro não. Os dois lados eram separados por uma

30 barreira baixa; quando os cães dos grupos 1 e 2 eram colocados ali, rapidamente aprendiam a pular de

31 um lado para o outro para escapar dos choques. A maioria dos cães do grupo 3, por sua vez, nem pensava

32 em saltar. Haviam aprendido que não havia esperança, afinal. Seligman cunhou, então, o termo learned

33 helplessness, ou desamparo aprendido.

34 O que acontece no bullying (de verdade) é parecido com isso. As crianças sentem-se totalmente

35 cercadas, submetidas a situações muito hostis – que lhes parecem inevitáveis –, e com o tempo

36 desenvolvem a mesma sensação de desamparo. Para elas, é impossível fazer qualquer coisa para cessar

37 aquele sofrimento. Não é de estranhar que se tornem adultos deprimidos.

38 Se a história nos ensinou algo, é que há coisas que não aprendemos com a história. Não acho que

39 algum dia as gerações mais velhas deixarão de criticar as mais novas. Até aí, tudo bem. Mas, pelo menos

40 no que se refere ao bullying, não devemos menosprezar as queixas da garotada.


Daniel Barros – Revista Galileu, edição 319, fev. 2018.

No trecho “Descobriram que, já na década de 1960, era alta a incidência de violência na escola ...” (linhas 12 e 13), o termo incidência pode ser substituído, sem prejuízo do significado, por

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1 Com certeza você já ouviu gente reclamar que os estudantes de hoje são muito mimados, desfiando

2 frases como “No meu tempo, a gente podia zoar os amigos. Hoje tudo é bullying”. É assim mesmo: desde

3 a Idade da Pedra toda geração acha que seus descendentes pioraram. Consigo imaginar um neandertal

4 grunhindo: “Esses moleques de hoje não aguentam mais nada. No meu tempo, a gente não tinha fogueira

5 quentinha. Não havia essa história de bater pedrinha uma na outra – tinha que andar na floresta até achar

6 uma árvore atingida por um raio. Desse jeito, daqui a pouco nem pelo a humanidade vai ter”.

7 Todo termo que ganha popularidade perde seu significado original, e isso pode muito bem ter

8 acontecido com o bullying. Sim, não é toda zoeira que é bullying. Mas se nem toda brincadeira pode ser

9 condenada, isso não faz com que o bullying não exista. Existe, e há bastante tempo.

10 Em 1958, os britânicos resolveram acompanhar o desenvolvimento de todas as crianças nascidas

11 numa determinada semana daquele ano. Reuniram, assim, dados sobre quase 18 mil bebês, e passaram

12 a avaliá-los de tempos em tempos durante 50 anos. Descobriram que, já na década de 1960, era alta a

13 incidência de violência na escola – coisas mais graves do que uma piada ou brincadeira. Quase um terço

14 dos alunos passava por isso ocasionalmente, e 15% com frequência. É o povo da geração que diz: “Na

15 minha época, não existia esse negócio de bullying”. Imagina se existisse. Não é surpresa para ninguém

16 que, na vida adulta, as pessoas que passaram por tais problemas têm pior qualidade de vida e muito mais

17 chance de desenvolver depressão, por exemplo. O dobro de chance, para ser preciso.

18 Mais ou menos na mesma época, nos anos 1960, do outro lado do Atlântico, um pesquisador

19 chamado Martin Seligman, interessado nos mecanismos que levam à depressão, criava um experimento

20 que se tornaria clássico. Ele e seus colegas reuniram um grupo de cães e os colocaram em três tipos de

21 gaiolas diferentes. O grupo 1 ficava lá por um tempo e, depois, era retirado. A gaiola do grupo 2 tinha o

22 chão eletrificado, para dar choques inesperados. Contudo, diante dos cães havia uma alavanca que parava

23 os choques. E o desafortunado grupo 3 também estava num chão eletrificado, mas ele era pareado com a

24 gaiola do grupo 2. Ou seja, os cães deste grupo não tinham como parar os próprios choques. Eles recebiam

25 a mesma intensidade que seus parceiros do grupo 2 (pois, quando esses desligavam a eletricidade, todos

26 os choques cessavam), mas, como não sabiam dessa artimanha da alavanca, para eles tanto o início

27 quanto o fim pareciam aleatórios.

28 Uma vez condicionados dessa maneira, os cachorros foram transferidos para outra gaiola, dividida

29 em duas partes – um lado com chão eletrificado e outro não. Os dois lados eram separados por uma

30 barreira baixa; quando os cães dos grupos 1 e 2 eram colocados ali, rapidamente aprendiam a pular de

31 um lado para o outro para escapar dos choques. A maioria dos cães do grupo 3, por sua vez, nem pensava

32 em saltar. Haviam aprendido que não havia esperança, afinal. Seligman cunhou, então, o termo learned

33 helplessness, ou desamparo aprendido.

34 O que acontece no bullying (de verdade) é parecido com isso. As crianças sentem-se totalmente

35 cercadas, submetidas a situações muito hostis – que lhes parecem inevitáveis –, e com o tempo

36 desenvolvem a mesma sensação de desamparo. Para elas, é impossível fazer qualquer coisa para cessar

37 aquele sofrimento. Não é de estranhar que se tornem adultos deprimidos.

38 Se a história nos ensinou algo, é que há coisas que não aprendemos com a história. Não acho que

39 algum dia as gerações mais velhas deixarão de criticar as mais novas. Até aí, tudo bem. Mas, pelo menos

40 no que se refere ao bullying, não devemos menosprezar as queixas da garotada.


Daniel Barros – Revista Galileu, edição 319, fev. 2018.

A importância do experimento criado por Martin Seligman se deve ao fato de

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1 Com certeza você já ouviu gente reclamar que os estudantes de hoje são muito mimados, desfiando

2 frases como “No meu tempo, a gente podia zoar os amigos. Hoje tudo é bullying”. É assim mesmo: desde

3 a Idade da Pedra toda geração acha que seus descendentes pioraram. Consigo imaginar um neandertal

4 grunhindo: “Esses moleques de hoje não aguentam mais nada. No meu tempo, a gente não tinha fogueira

5 quentinha. Não havia essa história de bater pedrinha uma na outra – tinha que andar na floresta até achar

6 uma árvore atingida por um raio. Desse jeito, daqui a pouco nem pelo a humanidade vai ter”.

7 Todo termo que ganha popularidade perde seu significado original, e isso pode muito bem ter

8 acontecido com o bullying. Sim, não é toda zoeira que é bullying. Mas se nem toda brincadeira pode ser

9 condenada, isso não faz com que o bullying não exista. Existe, e há bastante tempo.

10 Em 1958, os britânicos resolveram acompanhar o desenvolvimento de todas as crianças nascidas

11 numa determinada semana daquele ano. Reuniram, assim, dados sobre quase 18 mil bebês, e passaram

12 a avaliá-los de tempos em tempos durante 50 anos. Descobriram que, já na década de 1960, era alta a

13 incidência de violência na escola – coisas mais graves do que uma piada ou brincadeira. Quase um terço

14 dos alunos passava por isso ocasionalmente, e 15% com frequência. É o povo da geração que diz: “Na

15 minha época, não existia esse negócio de bullying”. Imagina se existisse. Não é surpresa para ninguém

16 que, na vida adulta, as pessoas que passaram por tais problemas têm pior qualidade de vida e muito mais

17 chance de desenvolver depressão, por exemplo. O dobro de chance, para ser preciso.

18 Mais ou menos na mesma época, nos anos 1960, do outro lado do Atlântico, um pesquisador

19 chamado Martin Seligman, interessado nos mecanismos que levam à depressão, criava um experimento

20 que se tornaria clássico. Ele e seus colegas reuniram um grupo de cães e os colocaram em três tipos de

21 gaiolas diferentes. O grupo 1 ficava lá por um tempo e, depois, era retirado. A gaiola do grupo 2 tinha o

22 chão eletrificado, para dar choques inesperados. Contudo, diante dos cães havia uma alavanca que parava

23 os choques. E o desafortunado grupo 3 também estava num chão eletrificado, mas ele era pareado com a

24 gaiola do grupo 2. Ou seja, os cães deste grupo não tinham como parar os próprios choques. Eles recebiam

25 a mesma intensidade que seus parceiros do grupo 2 (pois, quando esses desligavam a eletricidade, todos

26 os choques cessavam), mas, como não sabiam dessa artimanha da alavanca, para eles tanto o início

27 quanto o fim pareciam aleatórios.

28 Uma vez condicionados dessa maneira, os cachorros foram transferidos para outra gaiola, dividida

29 em duas partes – um lado com chão eletrificado e outro não. Os dois lados eram separados por uma

30 barreira baixa; quando os cães dos grupos 1 e 2 eram colocados ali, rapidamente aprendiam a pular de

31 um lado para o outro para escapar dos choques. A maioria dos cães do grupo 3, por sua vez, nem pensava

32 em saltar. Haviam aprendido que não havia esperança, afinal. Seligman cunhou, então, o termo learned

33 helplessness, ou desamparo aprendido.

34 O que acontece no bullying (de verdade) é parecido com isso. As crianças sentem-se totalmente

35 cercadas, submetidas a situações muito hostis – que lhes parecem inevitáveis –, e com o tempo

36 desenvolvem a mesma sensação de desamparo. Para elas, é impossível fazer qualquer coisa para cessar

37 aquele sofrimento. Não é de estranhar que se tornem adultos deprimidos.

38 Se a história nos ensinou algo, é que há coisas que não aprendemos com a história. Não acho que

39 algum dia as gerações mais velhas deixarão de criticar as mais novas. Até aí, tudo bem. Mas, pelo menos

40 no que se refere ao bullying, não devemos menosprezar as queixas da garotada.


Daniel Barros – Revista Galileu, edição 319, fev. 2018.

As aspas, presentes em algumas partes do texto (linhas 2, 4 a 6 e 14 e 15), foram empregadas para

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Q2732378 Português

Cachorro encurralado não salta



1 Com certeza você já ouviu gente reclamar que os estudantes de hoje são muito mimados, desfiando

2 frases como “No meu tempo, a gente podia zoar os amigos. Hoje tudo é bullying”. É assim mesmo: desde

3 a Idade da Pedra toda geração acha que seus descendentes pioraram. Consigo imaginar um neandertal

4 grunhindo: “Esses moleques de hoje não aguentam mais nada. No meu tempo, a gente não tinha fogueira

5 quentinha. Não havia essa história de bater pedrinha uma na outra – tinha que andar na floresta até achar

6 uma árvore atingida por um raio. Desse jeito, daqui a pouco nem pelo a humanidade vai ter”.

7 Todo termo que ganha popularidade perde seu significado original, e isso pode muito bem ter

8 acontecido com o bullying. Sim, não é toda zoeira que é bullying. Mas se nem toda brincadeira pode ser

9 condenada, isso não faz com que o bullying não exista. Existe, e há bastante tempo.

10 Em 1958, os britânicos resolveram acompanhar o desenvolvimento de todas as crianças nascidas

11 numa determinada semana daquele ano. Reuniram, assim, dados sobre quase 18 mil bebês, e passaram

12 a avaliá-los de tempos em tempos durante 50 anos. Descobriram que, já na década de 1960, era alta a

13 incidência de violência na escola – coisas mais graves do que uma piada ou brincadeira. Quase um terço

14 dos alunos passava por isso ocasionalmente, e 15% com frequência. É o povo da geração que diz: “Na

15 minha época, não existia esse negócio de bullying”. Imagina se existisse. Não é surpresa para ninguém

16 que, na vida adulta, as pessoas que passaram por tais problemas têm pior qualidade de vida e muito mais

17 chance de desenvolver depressão, por exemplo. O dobro de chance, para ser preciso.

18 Mais ou menos na mesma época, nos anos 1960, do outro lado do Atlântico, um pesquisador

19 chamado Martin Seligman, interessado nos mecanismos que levam à depressão, criava um experimento

20 que se tornaria clássico. Ele e seus colegas reuniram um grupo de cães e os colocaram em três tipos de

21 gaiolas diferentes. O grupo 1 ficava lá por um tempo e, depois, era retirado. A gaiola do grupo 2 tinha o

22 chão eletrificado, para dar choques inesperados. Contudo, diante dos cães havia uma alavanca que parava

23 os choques. E o desafortunado grupo 3 também estava num chão eletrificado, mas ele era pareado com a

24 gaiola do grupo 2. Ou seja, os cães deste grupo não tinham como parar os próprios choques. Eles recebiam

25 a mesma intensidade que seus parceiros do grupo 2 (pois, quando esses desligavam a eletricidade, todos

26 os choques cessavam), mas, como não sabiam dessa artimanha da alavanca, para eles tanto o início

27 quanto o fim pareciam aleatórios.

28 Uma vez condicionados dessa maneira, os cachorros foram transferidos para outra gaiola, dividida

29 em duas partes – um lado com chão eletrificado e outro não. Os dois lados eram separados por uma

30 barreira baixa; quando os cães dos grupos 1 e 2 eram colocados ali, rapidamente aprendiam a pular de

31 um lado para o outro para escapar dos choques. A maioria dos cães do grupo 3, por sua vez, nem pensava

32 em saltar. Haviam aprendido que não havia esperança, afinal. Seligman cunhou, então, o termo learned

33 helplessness, ou desamparo aprendido.

34 O que acontece no bullying (de verdade) é parecido com isso. As crianças sentem-se totalmente

35 cercadas, submetidas a situações muito hostis – que lhes parecem inevitáveis –, e com o tempo

36 desenvolvem a mesma sensação de desamparo. Para elas, é impossível fazer qualquer coisa para cessar

37 aquele sofrimento. Não é de estranhar que se tornem adultos deprimidos.

38 Se a história nos ensinou algo, é que há coisas que não aprendemos com a história. Não acho que

39 algum dia as gerações mais velhas deixarão de criticar as mais novas. Até aí, tudo bem. Mas, pelo menos

40 no que se refere ao bullying, não devemos menosprezar as queixas da garotada.


Daniel Barros – Revista Galileu, edição 319, fev. 2018.

Em relação à pesquisa feita pelos britânicos em 1958 pode-se afirmar que

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Cachorro encurralado não salta



1 Com certeza você já ouviu gente reclamar que os estudantes de hoje são muito mimados, desfiando

2 frases como “No meu tempo, a gente podia zoar os amigos. Hoje tudo é bullying”. É assim mesmo: desde

3 a Idade da Pedra toda geração acha que seus descendentes pioraram. Consigo imaginar um neandertal

4 grunhindo: “Esses moleques de hoje não aguentam mais nada. No meu tempo, a gente não tinha fogueira

5 quentinha. Não havia essa história de bater pedrinha uma na outra – tinha que andar na floresta até achar

6 uma árvore atingida por um raio. Desse jeito, daqui a pouco nem pelo a humanidade vai ter”.

7 Todo termo que ganha popularidade perde seu significado original, e isso pode muito bem ter

8 acontecido com o bullying. Sim, não é toda zoeira que é bullying. Mas se nem toda brincadeira pode ser

9 condenada, isso não faz com que o bullying não exista. Existe, e há bastante tempo.

10 Em 1958, os britânicos resolveram acompanhar o desenvolvimento de todas as crianças nascidas

11 numa determinada semana daquele ano. Reuniram, assim, dados sobre quase 18 mil bebês, e passaram

12 a avaliá-los de tempos em tempos durante 50 anos. Descobriram que, já na década de 1960, era alta a

13 incidência de violência na escola – coisas mais graves do que uma piada ou brincadeira. Quase um terço

14 dos alunos passava por isso ocasionalmente, e 15% com frequência. É o povo da geração que diz: “Na

15 minha época, não existia esse negócio de bullying”. Imagina se existisse. Não é surpresa para ninguém

16 que, na vida adulta, as pessoas que passaram por tais problemas têm pior qualidade de vida e muito mais

17 chance de desenvolver depressão, por exemplo. O dobro de chance, para ser preciso.

18 Mais ou menos na mesma época, nos anos 1960, do outro lado do Atlântico, um pesquisador

19 chamado Martin Seligman, interessado nos mecanismos que levam à depressão, criava um experimento

20 que se tornaria clássico. Ele e seus colegas reuniram um grupo de cães e os colocaram em três tipos de

21 gaiolas diferentes. O grupo 1 ficava lá por um tempo e, depois, era retirado. A gaiola do grupo 2 tinha o

22 chão eletrificado, para dar choques inesperados. Contudo, diante dos cães havia uma alavanca que parava

23 os choques. E o desafortunado grupo 3 também estava num chão eletrificado, mas ele era pareado com a

24 gaiola do grupo 2. Ou seja, os cães deste grupo não tinham como parar os próprios choques. Eles recebiam

25 a mesma intensidade que seus parceiros do grupo 2 (pois, quando esses desligavam a eletricidade, todos

26 os choques cessavam), mas, como não sabiam dessa artimanha da alavanca, para eles tanto o início

27 quanto o fim pareciam aleatórios.

28 Uma vez condicionados dessa maneira, os cachorros foram transferidos para outra gaiola, dividida

29 em duas partes – um lado com chão eletrificado e outro não. Os dois lados eram separados por uma

30 barreira baixa; quando os cães dos grupos 1 e 2 eram colocados ali, rapidamente aprendiam a pular de

31 um lado para o outro para escapar dos choques. A maioria dos cães do grupo 3, por sua vez, nem pensava

32 em saltar. Haviam aprendido que não havia esperança, afinal. Seligman cunhou, então, o termo learned

33 helplessness, ou desamparo aprendido.

34 O que acontece no bullying (de verdade) é parecido com isso. As crianças sentem-se totalmente

35 cercadas, submetidas a situações muito hostis – que lhes parecem inevitáveis –, e com o tempo

36 desenvolvem a mesma sensação de desamparo. Para elas, é impossível fazer qualquer coisa para cessar

37 aquele sofrimento. Não é de estranhar que se tornem adultos deprimidos.

38 Se a história nos ensinou algo, é que há coisas que não aprendemos com a história. Não acho que

39 algum dia as gerações mais velhas deixarão de criticar as mais novas. Até aí, tudo bem. Mas, pelo menos

40 no que se refere ao bullying, não devemos menosprezar as queixas da garotada.


Daniel Barros – Revista Galileu, edição 319, fev. 2018.

A leitura do texto nos leva a concluir que o bullying é


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1 Com certeza você já ouviu gente reclamar que os estudantes de hoje são muito mimados, desfiando

2 frases como “No meu tempo, a gente podia zoar os amigos. Hoje tudo é bullying”. É assim mesmo: desde

3 a Idade da Pedra toda geração acha que seus descendentes pioraram. Consigo imaginar um neandertal

4 grunhindo: “Esses moleques de hoje não aguentam mais nada. No meu tempo, a gente não tinha fogueira

5 quentinha. Não havia essa história de bater pedrinha uma na outra – tinha que andar na floresta até achar

6 uma árvore atingida por um raio. Desse jeito, daqui a pouco nem pelo a humanidade vai ter”.

7 Todo termo que ganha popularidade perde seu significado original, e isso pode muito bem ter

8 acontecido com o bullying. Sim, não é toda zoeira que é bullying. Mas se nem toda brincadeira pode ser

9 condenada, isso não faz com que o bullying não exista. Existe, e há bastante tempo.

10 Em 1958, os britânicos resolveram acompanhar o desenvolvimento de todas as crianças nascidas

11 numa determinada semana daquele ano. Reuniram, assim, dados sobre quase 18 mil bebês, e passaram

12 a avaliá-los de tempos em tempos durante 50 anos. Descobriram que, já na década de 1960, era alta a

13 incidência de violência na escola – coisas mais graves do que uma piada ou brincadeira. Quase um terço

14 dos alunos passava por isso ocasionalmente, e 15% com frequência. É o povo da geração que diz: “Na

15 minha época, não existia esse negócio de bullying”. Imagina se existisse. Não é surpresa para ninguém

16 que, na vida adulta, as pessoas que passaram por tais problemas têm pior qualidade de vida e muito mais

17 chance de desenvolver depressão, por exemplo. O dobro de chance, para ser preciso.

18 Mais ou menos na mesma época, nos anos 1960, do outro lado do Atlântico, um pesquisador

19 chamado Martin Seligman, interessado nos mecanismos que levam à depressão, criava um experimento

20 que se tornaria clássico. Ele e seus colegas reuniram um grupo de cães e os colocaram em três tipos de

21 gaiolas diferentes. O grupo 1 ficava lá por um tempo e, depois, era retirado. A gaiola do grupo 2 tinha o

22 chão eletrificado, para dar choques inesperados. Contudo, diante dos cães havia uma alavanca que parava

23 os choques. E o desafortunado grupo 3 também estava num chão eletrificado, mas ele era pareado com a

24 gaiola do grupo 2. Ou seja, os cães deste grupo não tinham como parar os próprios choques. Eles recebiam

25 a mesma intensidade que seus parceiros do grupo 2 (pois, quando esses desligavam a eletricidade, todos

26 os choques cessavam), mas, como não sabiam dessa artimanha da alavanca, para eles tanto o início

27 quanto o fim pareciam aleatórios.

28 Uma vez condicionados dessa maneira, os cachorros foram transferidos para outra gaiola, dividida

29 em duas partes – um lado com chão eletrificado e outro não. Os dois lados eram separados por uma

30 barreira baixa; quando os cães dos grupos 1 e 2 eram colocados ali, rapidamente aprendiam a pular de

31 um lado para o outro para escapar dos choques. A maioria dos cães do grupo 3, por sua vez, nem pensava

32 em saltar. Haviam aprendido que não havia esperança, afinal. Seligman cunhou, então, o termo learned

33 helplessness, ou desamparo aprendido.

34 O que acontece no bullying (de verdade) é parecido com isso. As crianças sentem-se totalmente

35 cercadas, submetidas a situações muito hostis – que lhes parecem inevitáveis –, e com o tempo

36 desenvolvem a mesma sensação de desamparo. Para elas, é impossível fazer qualquer coisa para cessar

37 aquele sofrimento. Não é de estranhar que se tornem adultos deprimidos.

38 Se a história nos ensinou algo, é que há coisas que não aprendemos com a história. Não acho que

39 algum dia as gerações mais velhas deixarão de criticar as mais novas. Até aí, tudo bem. Mas, pelo menos

40 no que se refere ao bullying, não devemos menosprezar as queixas da garotada.


Daniel Barros – Revista Galileu, edição 319, fev. 2018.

O texto “Cachorro encurralado não salta” tem como tema central um assunto polêmico e de muito impacto para a sociedade atual. O assunto em questão é/são

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Ano: 2018 Banca: CEPS-UFPA Órgão: UNIFESSPA Prova: CEPS-UFPA - 2018 - UNIFESSPA - Redator |
Q2723087 Comunicação Social

O software de edição e diagramação de textos mais utilizado por jornais e revistas nos dias de hoje é o

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Ano: 2018 Banca: CEPS-UFPA Órgão: UNIFESSPA Prova: CEPS-UFPA - 2018 - UNIFESSPA - Redator |
Q2723086 Português

“Estou contando ao senhor, que carece de um explicado. Pensar mal é fácil, porque esta vida é embrejada. A gente vive, eu acho, é mesmo para se desiludir e desmisturar. A senvergonhice reina, tão leve e leve pertencidamente, que por primeiro não se crê no sincero sem maldade.”


Sobre a fala acima, do personagem Riobaldo no romance “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, e à luz dos estudos das variantes linguísticas, é correto afirmar:

Alternativas
Ano: 2018 Banca: CEPS-UFPA Órgão: UNIFESSPA Prova: CEPS-UFPA - 2018 - UNIFESSPA - Redator |
Q2723085 Português

“Saltei num instante para cima da laje que pesava sobre meu corpo, meus olhos de início foram de espanto, redondos e parados, olhos de lagarto que abandonando a água imensa tivesse deslizado a barriga numa rocha firme;”


As figuras de linguagem são recursos estilísticos usados na escrita ou na fala para realçar a mensagem, tornando-a mais expressiva. São muito recorrentes nos textos literários. No trecho acima, do romance “Lavoura Arcaica”, de Raduan Nassar, a figura de linguagem que se destaca é a

Alternativas
Ano: 2018 Banca: CEPS-UFPA Órgão: UNIFESSPA Prova: CEPS-UFPA - 2018 - UNIFESSPA - Redator |
Q2723084 Português

O relatório deve ser redigido com o máximo de clareza e objetividade. O texto valoriza a informação e dispensa recursos estilísticos. Logo, é correto afirmar:

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Ano: 2018 Banca: CEPS-UFPA Órgão: UNIFESSPA Prova: CEPS-UFPA - 2018 - UNIFESSPA - Redator |
Q2723083 Português

Ao mesmo tempo em que se impõem com linguagem específica para suas diferentes plataformas, as redes sociais abriram caminho para distorções gritantes da norma culta da língua portuguesa. Quanto à correção gramatical do ponto de vista da norma culta da Língua Portuguesa, analise os itens seguintes.


I A diminuição das vendas no comércio não tem nada a haver com a suspensão do crédito consignado pelo Banco Central.

II A transferência do atacante Neymar para o Barcelona foi uma grande perca para o time do Santos.

III A fim de conseguir uma vaga na universidade, os alunos formaram um grupo de estudos de física e química.

IV As empresas de tecnologia móvel vão está lançando novos produtos até o final do mês.

V Há muitos casos de febre amarela em São Paulo. No ano passado, houveram bem menos registros de ocorrência da doença.


Está(ão) correto(s)

Alternativas
Ano: 2018 Banca: CEPS-UFPA Órgão: UNIFESSPA Prova: CEPS-UFPA - 2018 - UNIFESSPA - Redator |
Q2723082 Português

Sobre o uso dos verbos pronominais, marque a frase correta.

Alternativas
Ano: 2018 Banca: CEPS-UFPA Órgão: UNIFESSPA Prova: CEPS-UFPA - 2018 - UNIFESSPA - Redator |
Q2723081 Português

O professor Muniz Sodré defende que o jornalista deve ser o "guardião da língua, da escrita e da credibilidade histórica". No jornalismo, erros de ortografia são imperdoáveis. Quanto à ortografia, leia as frases abaixo e marque a que está correta.

Alternativas
Ano: 2018 Banca: CEPS-UFPA Órgão: UNIFESSPA Prova: CEPS-UFPA - 2018 - UNIFESSPA - Redator |
Q2723080 Português

“A crase não foi feita para humilhar ninguém”

(Ferreira Gullar, 2011, em artigo no jornal Folha de S. Paulo).


Quanto ao uso da crase, marque a frase correta.

Alternativas
Ano: 2018 Banca: CEPS-UFPA Órgão: UNIFESSPA Prova: CEPS-UFPA - 2018 - UNIFESSPA - Redator |
Q2723079 Português

“Parônimo, adj.,s.m. Gram. Ling. 1. Diz-se de ou cada um dos dois ou mais vocábulos que são quase homônimos, diferenciando-se ligeiramente na grafia e na pronúncia”

(Dicionário Houaiss, 2009, p. 1437).


Considerando-se a ocorrência da paronímia, marque a frase correta.

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Ano: 2018 Banca: CEPS-UFPA Órgão: UNIFESSPA Prova: CEPS-UFPA - 2018 - UNIFESSPA - Redator |
Q2723078 Comunicação Social

Segundo o linguista Luiz Antonio Marcuschi, hipertextualidade é a escrita eletrônica não sequencial e não linear. No contexto da comunicação digital, é correto afirmar que o hipertexto

Alternativas
Respostas
21: C
22: D
23: A
24: D
25: B
26: D
27: B
28: D
29: C
30: C
31: B
32: D
33: A
34: A
35: E
36: E
37: D
38: C
39: E
40: D