Separados pela cama
Pesquisa indica que dividir os lençóis
pode prejudicar o sono do casal e causar
problemas de saúde crônicos
Ao menos duas vezes por semana, a cena
se repete. A publicitária Renata Lino, 27
anos, e o marido, o cirurgião dentista
Sandro Ferreira, 32 anos, dormem
tranquilos até Renata começar a roncar.
Sandro tenta cutucá-la, arrisca até uns
tapinhas de alerta. "Eu tenho que usar
artifícios para tentar dormir", argumenta o
marido. "Mas, em último caso, vou para
outro cômodo mesmo", confessa. Segundo
uma pesquisa da Universidade de Surrey,
na Inglaterra, a solução é simples: é só
oficializar as camas separadas.
O estudo concluiu que, em média, 50%
dos casais que compartilham o leito têm
dificuldade para dormir e desenvolvem
algum problema de saúde em decorrência
dessas noites insones. E não é só o ronco
que atrapalha. Um constante puxar de
lençóis ou um companheiro com sono
agitado, que se mexe muito, também
podem fazer o merecido descanso se
transformar num filme de terror.
Ainda assim, pelo menos entre Renata e
Sandro, casados há cinco anos, o
romantismo prevalece. "Comprei o pacote
completo e a fuga noturna com o edredom
veio junto", brinca Sandro. "Sinto falta
dela quando durmo sozinho." A
publicitária já fez exames de sonoterapia
para detectar as causas da apnéia - termo
médico para o ronco. "Boa parte da minha
família sofre com o problema", afirma
Renata. Situações assim são comuns. No
Brasil, 40% da população têm distúrbios
do sono, de acordo com um estudo da
Academia Brasileira de Neurologia. O
problema é que dormir mal pode levar a
problemas mais graves, como depressão,
doenças cardíacas e derrame.
As consequências de uma noite mal
dormida são imediatas. "Já compromete a
capacidade de funcionamento intelectual
no dia seguinte", diz Flavio Alóe, médico especialista em distúrbios do sono do
Hospital das Clínicas de São Paulo. "E
quem ouve o ronco sofre os mesmos
efeitos de quem dorme mal cronicamente."
Ainda assim, Alóe acredita que seriam
necessários estudos mais profundos para
se recomendar dormir em camas
separadas. "Casais que se entendem bem
sentem falta se cada um dorme sozinho."
A advogada Neutra Magalhães, 67 anos,
aderiu há dez à separação de leitos, porque
o marido vê televisão até tarde. "A gente
dorme bem melhor, mas atrapalhou a
intimidade", reconhece Neutra. Tanto
sacrifício não é necessário. "É preciso
sincronizar as rotinas. Se um deles tiver
algum problema, pode e deve ser tratado",
diz a especialista em medicina do sono
Luciane Fujita, do Instituto do Sono, da
Universidade Federal de São Paulo. Vale
tudo para que o sonho de dormir juntinho
não vire um pesadelo.
Disponível em
<http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/2081/artigo152
593-1.htm>. Acesso em 20 out 2009.