Era de 1942 quando um médico escocês decidiu desbravar uma pequena e isolada mata do leste africano, Alexander Hadoow, especialista em doenças tropicais e também em insetos, comandava uma equipe de pesquisa para entender como a febre amarela se propagava. Eles construíram uma plataforma de 40 metros de altura na copa das árvores da floresta Zica, que margeia o
Lago Vitória, em Uganda.
Ali, numa gaiola, o macaco Rhesus que faz parte do experimento adoeceu. O termômetro marcava 39,7 ° C. Era 18 de abril de 1947. Três dias depois, uma amostra de sangue do Rhesus 766, como foi batizado, foi injetado em ratos albinos suíços - que também sofrem pacientes. Uma expectativa era conseguir isolar o vírus da febre amarela, mas ali estava um novo agente, causador de uma doença que nunca antes havia sido registrada.
Zica, como foi chamado o vírus, em alusão à floresta onde foi encontrado, significa “aquilo que surgiu demais” em luganda, língua tradicional ugandense. Os cientistas do Instituto de Pesquisa Viral de Uganda foram os primeiros a ter contato com aquele vírus - e fizeram testes com ele incessantemente: em porquinhos-da-índia, macacos, coelhos, camundongos. Nos últimos, o vírus causou danos cerebrais. […]
Não é à toa que o médico Alexander Haddow escolheu a floresta Zica para ser seu campo de estudo. Seus 170 mil metros quadrados, equivalentes a 20 campos de futebol, são uma rave de patógenos e vírus. É extremamente raro encontrar tantas espécies daninhas em uma área tão pequena, o que torna o lugar ideal para uma investigação. Suas árvores são abrigo para mais de 70 espécies de mosquito, que carregam dezenas de agentes possivelmente letais se transferidos para o homem.
Fonte: adaptado de: ALMEIDA, Verônica. Superinteressante, abril de 2016.