Leia o texto abaixo para responder à questão.
Nestes dias em que a atualidade nos assusta, o desafio é
encontrar uma maneira de não escrever sobre a atualidade,
embora pensemos nela constantemente. Que assunto nos
levaria o mais longe possível do catastrófico noticiário do dia? Já
sei: a batata.
A batata começou a existir no Peru, onde era tão importante
que os incas a usavam como unidade básica de tempo, o tempo
que levavam para cozinhá-la. Os franceses, a princípio,
resistiram à batata, como resultado de uma crença de que ela
causava lepra. Quem acabou com a crença foi Antoine-Augustin
Parmentier, que adquiriu o gosto pela sopa da batata numa prisão
da Prússia e, na volta à França, transformou o tubérculo num
sucesso, tanto que flores da planta passaram a ser usadas na
lapela, na corte de Luís XVI.
A batata também tem uma história trágica. Na Irlanda do
século 19, as várias virtudes da batata a transformaram numa
virtual monocultura, cujas sucessivas colheitas fracassadas
foram responsáveis pela fome que matou um milhão de pessoas.
Batatas fritas são as batatas mais comuns e democráticas
feitas no mundo desde que elas foram levadas do Peru. Nos
Estados Unidos elas são chamadas de “francesas fritas”, porque
lá gostam de pensar que o que é muito excitante não pode ser
muito americano e, por exemplo, chamam beijo de língua de
“beijos franceses”. Quando os franceses não quiseram apoiar a
invasão do Iraque por tropas americanas, surgiu um movimento
nos Estados Unidos para rebatizar as fritas de “batatas da
liberdade”. Não pegou.
(VERÍSSIMO, Luis Fernando. Batata. O Estado de São Paulo, 08.03.2020.
Adaptado).